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São João

Arriúna, de dança saltitante a patrimônio brasiliense

Coreografia junina criada há quase 30 anos é a marca identitária das quadrilhas profissionais do Distrito Federal

Gilberto Alves introduziu a metodologia da Arriúna em 1998, na antiga quadrilha Quebra Topete, de Samambaia.  -  (crédito: Minervino Júnior / CB)
Gilberto Alves introduziu a metodologia da Arriúna em 1998, na antiga quadrilha Quebra Topete, de Samambaia. - (crédito: Minervino Júnior / CB)

O movimento das quadrilhas juninas é um dos mais fortes e atuantes do Brasil, com representantes de todas as regiões. Só no Distrito Federal, existem mais de 50 grupos, alguns deles com mais de 40 anos de atividade. Por concentrar pessoas de todas as regiões e ser um caldeirão de culturas, a capital recebe influências de todos os cantos do país. Fatores como a cidade natal dos fundadores e o tempo de atividade dos grupos interferem diretamente na formação cultural e na identidade de cada um deles. No entanto, diante da imensidão de brilho e estilos, existe um patrimônio que faz a conexão entre todos os quadrilheiros da capital: a arriúna. A dança foi criada em 1998, em Samambaia, pelo brincante Gilberto Alves da Silva e está presente em todas as apresentações das juninas. 

 21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. (foto: Minervino Júnior/CB)

De acordo com Gilberto, os primeiros passos da dança nasceram em 1994, após aceitar o desafio de marcar a saudosa quadrilha Quebra Topete. "Eu já comecei querendo ser um marcador diferente, que não fosse tão parado e que se movimentasse no arraial. Alguém que pudesse interagir com as pessoas e dançar também. Na dança, a gente já tinha algo que chamo de 'massa barro', onde se batia palmas e os pés no chão, mas eu queria algo mais saltitante, que pudesse diferenciar. Quando fui para fazer parte da Quebra Topete, resolvi já começar dançando saltitante. Foi ali que nasceu a base do que viria se chamar arriúna".

Quebra Topete 

A Quebra Topete foi uma quadrilha de Samambaia que se destacou no movimento junino do Distrito Federal entre a década de 1990 e o início dos anos 2000, conquistando diversos prêmios. O nome surgiu em homenagem à música de mesmo nome do Trio Parada Dura. "Era uma quadrilha que trazia a diversidade da cultura popular do povo brasileiro e buscava sempre inovar. Era uma das poucas quadrilhas que não tinha casamento, mas que trazia o teatro aflorado em sua composição. Ela não dançava para os avaliadores, dançava para o público", conta o pesquisador junino Ricardo Zen, que foi integrante da quadrilha na época.  

A Quadrilha Quebra Topete se destacou no movimento junino de Brasília entre as décadas de 90 e 2000.
Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998. (foto: Adauto Cruz/CB/D.A Press)

Entre 1997 e 1998, já à frente da quadrilha Quebra Topete como marcador e dançando de forma "saltitante", Gilberto desafiou os brincantes a executarem aquele movimento nos ensaios. "Propus que toda a quadrilha dançasse daquela forma e até conseguimos avançar, mas o movimento ainda não era padronizado. Então, estudei formas de ensinar e colocá-los para executarem o mesmo movimento. Treinamos mãos, pés e conjunto, exaustivamente. Lembro de ter utilizado a música 'Eu me amarrei', da dupla João Paulo e Daniel, como exercício para os quadrilheiros aprenderem a dançar na época. Na coreografia, eles dançavam galopando e isso já era um bom começo", relata. 

A Quadrilha Quebra Topete se destacou no movimento junino de Brasília entre as décadas de 90 e 2000.
Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998. (foto: Adauto Cruz/CB/D.A Press)

No ano de 1998, com a "dança saltitante" que ainda nem era chamada de arriúna, a Quebra Topete venceu o concurso de quadrilhas promovido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi-DF), um dos mais almejados na época, consagrando aquela que seria posteriormente a identidade cultural da capital federal. "Ao conquistar o título, vimos que estávamos no caminho certo. Quando uma quadrilha ganha um concurso de excelência, ela vai inspirando as demais. Funciona muito isso no movimento junino. Depois dali, todas as quadrilhas passaram a incluir a dança em suas coreografias", conta Gilberto. 

 

O atual presidente da Confederação Nacional de Quadrilhas Juninas (Conaqj), Hamilton Tatu, que também preside a Pau Melado, de Samambaia, foi um dos fundadores da Quebra Topete e lembra com carinho do dia em que a junina se consagrou campeã. "A final de 98 foi no domingo, no centro de Taguatinga. A gente tinha se classificado em sexto lugar na semifinal, só que tínhamos o poder do improviso e decidimos mudar o jogo de última hora. Nós levamos um pano enorme, uma aliança, entramos com máscaras pretas e turbantes pretos e todo mundo dançando Arriúna. A música nossa de entrada era 'Para não dizer que não falei das flores', de Geraldo Vandré, que foi censurada por muito tempo. Eu vim de Preto Velho. Dancei demais! Voei no arraiá com a Arriúna. Lembro como hoje, quando disseram que éramos os primeiros. Aquilo com certeza firmou a dança". 

Batismo

Após a vitória da Quebra Topete, em 1998, a "dança saltitante" foi disseminada entre os grupos, mas ainda não tinha nome. O batismo ocorreu após a popularização da música No terreiro da fazenda, composta pelo pernambucano João Leocádio da Silva, o Mestre João Silva. "A música fala que a 'reiúna vai roncar no terreiro da fazenda', mas a reiúna que o compositor se refere era o nome que davam à espingarda curta ou fuzil de cano curto na época. Eu não sei explicar quando e nem onde essa dança passou a se chamar arriúna, mas a gente começou a chamar e virou arriúna", finalizou. 

 21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina Si Bobiá a Gente Pimba, de Samambaia.
21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina Si Bobiá a Gente Pimba, de Samambaia. (foto: Minervino Júnior/CB)


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"Dança é para todo mundo"

O coreógrafo e avaliador junino Júnior O'hara defende: "a arriúna é a identidade. É muito bonito de se ver. Acho lindo a maneira das movimentações das saias das mulheres. Isso enriquece muito o nosso movimento".

"Posso mudar os cacoetes coreográficos, os trejeitos de dançar a quadrilha, colocar a temática, mas jamais posso deixar de fazer aquilo que é a minha tradição, aquilo que é a minha resistência de Brasília. Dançamos a arriúna do começo ao fim", defende Hamilton Tatu, presidente da Conaqji e da Quadrilha Pau Melado.

Para Alexa Guerra, coordenadora de avaliação da Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno (Linqdfe), a arriúna é algo vivido por todos os quadrilheiros. "Eu faço questão de apresentar a dança nas formações nacionais para mostrar essa identidade aos avaliadores de outros estados, que muitas vezes não compreendem o passo", relata.

"A arriúna não tem preconceito. Ela mostra que cada corpo é um corpo, que a dança é para todo mundo, que quadrilha é lugar de acolhida. Todo mundo pode dançar com sua característica. É o nosso patrimônio", reforça Gilson Cezzar, coordenador de avaliação da Federação de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno (Fequajudfe).

  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. Foto: Minervino Júnior/CB
  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. Foto: Minervino Júnior/CB
  • O Gilberto Alves da Silva foi o criador da arriúna, em 1998
    O Gilberto Alves da Silva foi o criador da arriúna, em 1998 Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press.
  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. Foto: Minervino Júnior/CB
  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. Foto: Minervino Júnior/CB
  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina se Bobiá agente Pimba. Gilberto Criador da Arriuna. Foto: Minervino Júnior/CB
  • Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998.
    Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998. Foto: Adauto Cruz/CB/D.A Press
  • Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998.
    Quadrilha Quebra Topete, de Samambaia, durante apresentação em um arraial em 1998. Foto: Adauto Cruz/CB/D.A Press
  •  21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF.  Quadrilha junina Si Bobiá a Gente Pimba, de Samambaia.
    21/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadrilha junina Si Bobiá a Gente Pimba, de Samambaia. Foto: Minervino Júnior/CB
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postado em 24/06/2024 06:00 / atualizado em 26/06/2024 12:54
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