Superação de si mesmo, inspiração e muito amor pela dança. Esses três elementos contam a história de Samuel Henrique, mais conhecido como Samuka. Nascido e criado no Recanto das Emas, o jovem de 27 anos encantou o mundo e encheu o país de orgulho com o seu talento, após participar do programa America's Got Talent, onde compete pelo prêmio de US$ 1 milhão (RS 5 milhões) com seu breakdance. Essa performance fez tudo mudar, de repente, e Samuel está surpreso com a quantidade de fãs que tem acumulado no Instagram, são 106 mil seguidores.
- Infinu oferece tributo à Etta James e Aretha Franklin no dia 26/6
- Centro Histórico de Pirenópolis recebe a 14° edição da Flipiri
- Festival de Cinema de Planaltina abre inscrições
Mais do que dançar, Samuka inspira pessoas. Seu propósito é incentivar outros a lutarem por seus sonhos. Foi a arte que lhe deu uma nova forma de enxergar a própria jornada. "Fui diagnosticado com um osteossarcoma no membro inferior, aos 13 anos. Foram quase dois anos de tratamento, que culminou na amputação, em 2011. Tentamos ao máximo, mas o câncer, que tinha começado acima do joelho, havia se espalhado para o restante da perna direita", relembra Samuel. Antes da doença, o passatempo dele era o futebol. Na quadra, perto de casa, brincava com os amigos.
O desânimo e a tristeza começaram a fazer parte dos dias de Samuel. Ele buscou uma razão pela qual valesse a pena seguir. Os desafios surgiram rapidamente. E ele decidiu voltar às origens quando percebeu que ser invalidado por si mesmo e pelo mundo não seria opção. "Em 2010, rolou um projeto chamado Expressa Ação, no quadradão ao lado de onde moro. Vi um cara dançando de cadeira de rodas, antes mesmo de perder minha perna. Achei aquilo incrível, porém, naquela época, só queria saber de jogar bola", relembra o dançarino.
Talvez, Samuka não soubesse, mas, naquele momento, uma semente foi plantada. Com a amputação do membro, ficava em casa todo o tempo e aproveitava para para assistir a vídeos de dança. Consumia o breakdance como se fosse um chamado para a arte. Foi vendo um dançarino nas mesmas condições que ele, com uma perna, que resolveu dar início à jornada mais importante de sua vida.
Hip-Hop na veia
"Voltei com tudo e readaptei o break no meu novo corpo. De lá para cá, só tentei aprimorar. No fim, acho que deu certo", diz, aos risos. Não à toa encontrou na quebrada onde foi criado referências para continuar. E mais, tornou-se uma delas, uma espécie de bandeira para os que, em situações semelhantes, não acreditavam em um futuro melhor. "Sair do Recanto das Emas para conquistar o mundo é contrariar todas as estatísticas", avalia Samuka.
Tentou, com todas as forças, não dar brecha para "as paradas erradas", como a criminalidade que via na região. Com muito treino e esforço, o breakdance era seu único objetivo. Ainda assim, lidou com dilemas existenciais e as idas e vindas que teve diante do próprio talento. "Em 2016, quis parar de novo. Tive um processo difícil de aceitação da minha deficiência. De repente, a ficha caiu. Eu seria um amputado para sempre. Na minha cabeça, tudo iria mudar um dia", acrescenta Samuel.
Indeciso se continuaria ou não, deu uma nova oportunidade à arte em uma batalha de breakdance na Rodoviária do Plano Piloto. Nesse evento, em 8 de outubro de 2016, foi entrevistado pelo Correio Braziliense. No dia seguinte, viu sua foto no jornal e pensou: "não posso perder tempo, é isso que eu quero pra minha história". Então, os treinos voltaram e ficaram mais intensos, até que surgiu uma chance para se apresentar na abertura dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro.
Foi a primeira vez que Samuka saiu de Brasília e, também, obteve um salário com a dança. Buscou se profissionalizar, aprender inglês e dançar em todos os lugares possíveis. Em 2017, recebeu o convite para ingressar na ILL-Abilities, uma companhia internacional que conta com oito participantes com alguma deficiência. A partir daí, viajou para vários países ao lado dos colegas.
Conquista
Em Calais, na França, desde 2018, Samuel se viu conquistando mais do que sonhou. Umas dessas vitórias aconteceu há poucos dias, no America's Got Talent, um dos maiores programas de shows de talentos e habilidades do mundo. Ele empolgou a plateia, que vibrou. Os quatro jurados — Simon Cowell, Sofia Vergara, Heidi Klum e Howie Mandel — deram "sim" para o brasileiro avançar à semifinal em agosto.
"A experiência foi uma loucura, parecia sonho. Estava anestesiado o tempo todo, principalmente quando vi o Terry Crews — apresentador do programa. Falei para ele que os brasileiros o adoram, por conta da série Todo Mundo Odeia o Chris. Eu também estava meio nervoso, mas a energia do pessoal me ajudou bastante. Estar na próxima fase aumenta as expectativas para levar um show melhor. Espero fazer acontecer", afirma. Caso seja o vencedor do prêmio de US$ 1 milhão, quer ajudar pessoas que passaram pelo mesmo que ele e dar uma casa melhor para a mãe, Edilene Silveira, 47.
A casa, no Recanto das Emas, está passando por uma reforma. "Toda vez que Samuel volta, faz alguma coisinha aqui pra gente. Tenho muita gratidão pela vida do meu filho, só tenho a agradecer a Deus por tudo. Perdemos o meu marido, pai dele, quando Samuka era uma criança. Enfrentamos muitos obstáculos, mas acredito que tudo tem dado certo", diz Edilene.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br