Investigação

Stalking: juiz prorroga medidas protetivas contra ex-delegado-chefe da PCDF

Decisão foi proferida nesta segunda-feira (10/6). O ex-delegado-chefe da Polícia Civil é réu por uma série de crimes cometidos contra a ex-namorada

Robson Cândido é réu por stalking (perseguição), entre outros crimes -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/DA Press)
Robson Cândido é réu por stalking (perseguição), entre outros crimes - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/DA Press)

A Justiça do Distrito Federal rejeitou o pedido de reconsideração da defesa do ex-delegado-chefe da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Robson Cândido, e manteve a prorrogação das medidas protetivas contra o ex-número 1 da corporação por mais três meses.

A decisão foi proferida na tarde desta segunda-feira (10/6). Robson Cândido é réu por stalking (perseguição); violência psicológica; descumprimento de medida protetiva de urgência; interceptação telefônica ilegal; peculato, por três vezes; corrupção passiva; e violação de sigilo funcional. Ele teria supostamente utilizado a estrutura da polícia para vigiar a ex-namorada.

O Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras havia prorrogado a medida protetiva em favor da ex-companheira de Cândido em 28 de maio, mas a defesa do ex-delegado-chefe recorreu, ao salientar que ele frequenta uma academia de jiu-jitsu em Águas Claras desde 2009, mas estaria impossibilitado de ir porque o local é perto da residência da vítima.

Ao rejeitar a solicitação, o juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel pontuou que, mesmo com Robson não descumprindo as medidas, é importante considerar o pedido da vítima, que afirmou se sentir insegura e receosa. Ao Correio, a defesa do ex-delegado-chefe informou que irá entrar com um habeas corpus (HC) em segunda instância.

Relembre o caso

Robson Cândido está solto desde novembro do ano passado, após ficar quase um mês na carceragem da PCDF. O delegado aposentado deixou de usar o aparelho em 27 de fevereiro, após o período de monitoramento de 90 dias ter expirado. 

Com a manutenção da medida, ele não poderá se aproximar a menos de 1km da vítima, além de não poder manter contato por qualquer meio de comunicação. Eles também está proibido de frequentar a residência, o local de estudos e o trabalho da vítima.

Além do ex-delegado-chefe, responde aos crimes, após denúncia do Ministério Público, o delegado Thiago Peralva, ex-chefe da Delegacia de Polícia (P Norte). Ele é réu pelos crimes de stalking (perseguição); corrupção passiva, por três vezes; intercepção telefônica ilegal, por duas vezes; uso do sistema OCR do DER-DF por 30 vezes; uso do sistema Vigia, no âmbito da Operação Falso Policial, por 96 vezes; e uso do sistema Vigia, no âmbito da Operação Alcateia, por 58 vezes.

A denúncia é acerca de provas colhidas pelo MP, com novos elementos contra os dois delegados. Os promotores explicam, em 106 páginas, os crimes cometidos por Robson Cândido com ajuda do ex-chefe da 19ª DP, Thiago Peralva.

A denúncia aponta que, além de a vítima ter tido o número colocado em uma interceptação telefônica na 2ª Vara de Entorpecentes — a dupla “plantou” antes o número da jovem em uma investigação já encerrada que tramitava na 1ª Vara Criminal de Ceilândia.

Peralva plantou o número da vítima no sistema Vigia, a mando do ex-chefe, no âmbito da Operação Falso Policial, que investigava crimes de extorsão em Ceilândia. À época, a operação durou de 13 a 28 de setembro, sendo finalizada coincidentemente no dia após a vítima procurar a 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas) para relatar os abusos que sofria.

Para o MP, a jovem não tinha nenhuma relação com os crimes e a única intenção era saber os passos da vítima, além de saber com quem ela falava e os lugares que frequentava. Ao todo, Peralva — que manuseava do acesso ao sistema — fez consultas diárias e por diversas vezes, totalizando nada menos que 96 acessos.

Porém, segundo as investigações, Peralva incluiu o número da vítima, em 26 de setembro do ano passado, em uma outra interceptação telefônica em curso, agora na 2ª Vara de Entorpecentes que apurava tráfico de drogas, no âmbito da Operação Alcatéia. O ato prosseguiu até 31 de outubro, quando Cândido já havia deixado o cargo máximo da corporação. Nessa, ao menos 58 vezes a vítima foi monitorada pelo ex-chefe da delegacia de Ceilândia, a mando do chefe.

Uso indevido de sistema

Entre o período de 6 de agosto a 22 de setembro do ano passado, Cândido utilizou indevidamente o sistema OCR administrado pelo DER-DF, por meio de demandas dirigidas à Divisão de Inteligência Policial (DIPO) da corporação, para localizar a placa da vítima. A ferramenta é utilizada para ler com mais clareza placas dos veículos e ajudar a monitorar motoristas que estão em situação irregular, além de ser um aparelho em que ajuda as forças de segurança.

O ex-delegado-chefe da corporação, em 6 de agosto de 2023, com o propósito de descobrir onde a ex-namorada se deslocava, acionou a inteligência da corporação para verificar uma “situação supostamente criminosa” envolvendo um veículo.

Para explicar o porquê da consulta, Cândido disse a um dos delegados que o carro estava envolvido em um “esquema de estelionato relacionado a leilões”. O veículo era, na verdade, da ex-namorada dele. A mesma situação ocorreu, ao menos, outras cinco vezes. Em todas, o ex-delegado-chefe era municiado de informações colhidas pela DIPO com o sistema OCR do DER.

O ex-delegado-chefe também solicitou as informações de OCR a Peralva. Os promotores citam que, ao todo, Peralva acessou 30 vezes o sistema para obter informações sobre o deslocamento da vítima, principalmente na região onde ela residia, em Águas Claras.

O intuito era diminuir os pedidos de Cândido à inteligência, a fim de evitar exposições. O ex-chefe só conseguiu acesso ao sistema por meio de uma conta de outro policial civil, entre 20 e 29 de setembro. Dos 30 acessos, 24 foram realizados na própria residência de Peralva — sendo repassadas todas as informações da localização da vítima ao chefe.

O sistema OCR do Detran, conforme a própria reportagem já havia revelado anteriormente, também é citada na denúncia anterior apresentada pelo MP à Justiça no início do ano.

Pesquisas

Um dos pontos revelados pelo MP na denúncia são pesquisas que Robson Cândido buscou na internet. No Google, o ex-delegado-geral pesquisou “crime de stalking”, “localizar ERB (Estação de Rádio Base) de celular”, “pesquisar OCR de carro”, “interceptação telefônica”, “uso de viaturas improbidade” e “passo a passo de processo de violência contra mulher”.

Os dados foram encontrados no aparelho apreendido do ex-chefe da corporação. Para o MP, as buscas “traduz-se em uma verdadeira confissão dos delitos já denunciados e expõe o nível de obsessão nutrido por Robson em relação à vítima e demonstram que os atos criminosos por ele praticados foram minuciosamente premeditados”.

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postado em 10/06/2024 18:58 / atualizado em 10/06/2024 19:13
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