As arquibancadas da quadra coberta da Administração Regional do Paranoá, no Distrito Federal, lotaram para assistir à estreia do espetáculo da Quadrilha Junina Arroxa o Nó. Este ano, o grupo apresentou o tema O segredo do Alto do Moura, homenageando o artesão pernambucano Mestre Vitalino. O evento ocorreu na noite do último domingo (2/5) e contou com a participação da Cia de Dança Transições, da Banda Forró Arroxado e das quadrilhas Coisas da Roça e Pula Fogueira.
- Assista ao documentário especial sobre as Quadrilhas Juninas do DF e entorno
- Cerimônia na CLDF marca o começo oficial das festas juninas de 2024
- Arroxa o Nó vence concurso nacional de quadrilhas juninas Arraiá Brasil 2023
- Quadrilha junina Formiga da Roça é campeã do Distrito Federal de 2023
“Falar de Mestre Vitalino é espetacular. Ele retratou a realidade do povo nordestino por meio de suas obras. O público pode esperar muito mais deste espetáculo nos circuitos. Eu amo falar de Pernambuco. É a terrinha da minha mãe, a eterna Dona Lourdes”, destacou Wagner Teixeira, o Waguinho, marcador e fundador da Arroxa.
Abertura com o grupo Transições
A companhia de dança Transições, de Planaltina, abriu o evento com um trecho do espetáculo Severino e Silva, inspirado em quadros do pintor Cândido Portinari. “O frevo é a base de muitas danças. Ele é consciência, musicalidade, corpo, alma e casa. Para o movimento junino, a Transições vem se destacando nesse lugar de pertencimento, junto com a dança contemporânea, e trazendo a possibilidade de outras quadrilhas juninas terem esse contato cultural de Pernambuco”, afirmou o coreógrafo e coordenador Lehandro Lira.
Noite de estreias
Além da anfitriã, as juninas Coisas da Roça e Pula Fogueira também estrearam seus respectivos espetáculos. Com Andanças no Sertão Armorial de Ariano Suassuna, a Pula, do Itapoã, trouxe contos do saudoso escritor e dramaturgo Ariano Suassuna. “Levamos ao arraial um espetáculo recheado de emoções para transmitir a grandiosidade do Movimento Armorial, através dos ritmos, das cores vibrantes nas roupas e nas simbologias”, explicou o presidente da Pula Fogueira, Vilmar Pires.
O figurino da Pula foi produzido em 1 mês e 22 dias pela costureira Joaquina Flor da Silva, que foi homenageada pelos quadrilheiros ao final da apresentação. “Eu fiquei muito emocionada com o reconhecimento. Fui eu que produzi tudo sozinha. Deu muito trabalho, mas só em ver as roupas no pessoal já bate uma emoção no peito. Foram várias noites sem sono e o sentimento é de dever cumprido. Agora é aproveitar a festa.”
A Junina Coisas da Roça, de São Sebastião, apresentou O Cravo e a Rosa, inspirado na obra do escritor e dramaturgo Walcyr Carrasco. A apresentação adaptou a obra ao contexto nordestino, com a história na cidade de Cabaceiras. “Dançar no arraial da Arroxa foi muito prazeroso. Estreamos dançando em casa. O Paranoá é uma de nossas casas e a Arroxa é nossa parceira. Foi muito gratificante poder me apresentar ali. A festa foi bem organizada e decorada. Sentimos o calor humano das pessoas. A cada passo dado, um aplauso e um sorriso. Vimos o brilho no olhar e a felicidade das pessoas pelo prazer da dança”, relatou Michaell Douglas, o Maycolla, presidente da junina.
Gente até fora das arquibancadas
As pessoas que não conseguiram lugar nas arquibancadas tentaram se aproximar da grade da quadra, como a copeira Dilma Cleide Silva, que assistia à apresentação com o filho Caleb Braga, de 5 anos. “É tradição e é vida. Minha família toda ama quadrilha e eu faço questão de prestigiar. Meu filho já dançou e eu sei como é difícil para essas pessoas estarem ali. É um presente para o Paranoá e para o Distrito Federal.”
Espetáculo da Arroxa
A quadrilha entrou no arraial com 42 casais vestidos com indumentárias inspiradas nas obras de Mestre Vitalino. “Foi uma noite incrível. Dançar em casa não tem preço. São os nossos amigos e familiares. A apresentação trouxe um misto de emoções: alegria e choro ao mesmo tempo. Foi lindo ver a reação do público e sentir a energia. Estreamos com o pé direito”, afirmou o presidente da quadrilha, Jadson Castro.
A concepção do tema foi dada entre os meses de outubro e novembro pela pesquisadora e projetista, Diana Barreto. "Comecei a realizar algumas pesquisas para definir o tema neste período. Mergulhei em artigos, filmes, documentários, livros, músicas e elementos da cultura popular, mas quando cheguei em um vídeo que falava de Vitalino, me arrepiei inteira. Ali senti que algo estava me dando sinais. Foram noites de sono junto e diálogo com as outras áreas da quadrilha para chegar no que vocês assistiram hoje. Tem sido bastante desafiador, mas o carinho do público compensa tudo isso", ressalta.
A coordenadora geral do grupo, Renata Marino Carvalho, revelou que eles enfrentaram percalços na compra dos materiais para os figurinos. “Tivemos dificuldade em encontrar as peças nas cores marrom. Gastamos cerca de 15 a 20 dias para comprar o material. Depois, corremos para mobilizar costureiras. Graças a Deus, deu tudo certo. Agora é só ajustar os detalhes e encarar as próximas apresentações.”
A coreografia foi assinada pelo bailarino e coreógrafo Jharlls Barbosa, que está no grupo desde 2019. “As montagens coreográficas representam uma fusão entre estilos de dança contemporânea e danças populares, preservando a essência tradicional da Arroxa e introduzindo elementos inovadores. Foram meses de ensaios que exigiram adaptação e esforço dos brincantes. Quando finalmente chegou a estreia, o sentimento foi de gratidão. Foi lindo.”
São João que conecta o Distrito Federal
“Para mim, é falar de alegria, de cultura, e da cultura do Distrito Federal. Pode parecer que o DF não tem tradição de quadrilhas, mas quem acompanha o evento como eu acompanho, sabe que não perde em nada para os eventos do Nordeste. É bastante semelhante porque tem a mesma alegria e a mesma composição”, ressaltou a deputada distrital Doutora Jane, grande apoiadora do movimento junino, enquanto assistia à apresentação da Arroxa o Nó.
“As quadrilhas trazem uma riqueza imensa, vista nos figurinos, nas temáticas e na própria alegria. Temos várias quadrilhas campeãs em âmbito nacional. Desde que o nordestino veio para cá na construção de Brasília, temos a quadrilha na nossa identidade. A cada dia, mais pessoas se mobilizam. É só alegria. Não tem confusão, não tem briga. É só divertimento”, acrescentou.
O presidente da Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno, Márcio Nunes, ressaltou que as quadrilhas têm o poder de criar conexões culturais em Brasília. “Temos representantes de quase todas as regiões administrativas e também de cidades do entorno. Onde tem quadrilha, pode ter certeza de que é sucesso de público. Isso que estamos vendo aqui no Paranoá é uma prova viva disso. É um público familiar.”
Assista ao vídeo especial da apresentação da Arroxa o Nó
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br