Em tempos de festas juninas, não só o público, ávido por diversão e comidas típicas, se beneficia. Profissionais de toda uma cadeia produtiva — como coreógrafos, comerciantes, maquiadores e tantos outros — lucram com as celebrações, garantindo um complemento significativo às suas rendas.
Para a costureira Zeneide de Sousa, 51 anos, as demandas aumentam 80% neste período do ano. Como tem trabalhado todos os dias, ela entrega, em média, vinte vestidos por semana. E, diante de tamanha procura, precisou contratar temporariamente mais duas costureiras.
"Os serviços com as quadrilhas profissionais começam em fevereiro. São trajes grandes e que exigem tempo. As equipes nos apresentam a ideia, nós combinamos o melhor tecido para confeccioná-las e eu coloco a mão na massa. Trabalho em regime de produção, ou seja, corto todos os tecidos primeiro, depois monto e, em seguida, costuro. Não finalizo um vestido por vez", explicou Zeneide. Além disso, a costureira também pega demandas de fora relacionadas à celebração, como de escolas e de famílias que festejam em casa.
Dos trinta anos em que a profissional está no ramo, dezoito são dedicados às confecções de festas juninas. "Gosto muito desse trabalho, principalmente do volume e do colorido dos trajes. É emocionante e satisfatório ver as quadrilhas entrando na quadra com as roupas que produzi. O lucro, quase de 100% em relação a outros períodos do ano, também me enche de alegria. A festa junina é o natal das costureiras", destacou Zeneide, aos risos.
O presidente da União Junina, Joanivaldo Pereira do Nascimento, 50, lembra que, somente com o transporte, são desembolsados cerca de R$ 15 mil durante todo o período de festividade. Com 18 grupos filiados, os gastos se estendem a serralheiros, equipe de som e de iluminação, músicos e motoristas que transportam as equipes. "Dependendo da situação, são os próprios participantes que fazem suas maquiagens e arrumam seus penteados", comentou.
Impactos relevantes
Segundo Alexandre Arci, economista e especialista em investimentos e educação financeira, Brasília, tradicionalmente, comemora festas juninas, movimentando a economia da região, em especial, nos meses de junho, julho e agosto. "Essas celebrações são importantes para a geração de renda dos pequenos e médios empreendedores. Além do setor de serviços, que vai da montagem de tendas à parte de limpeza e segurança, ainda há toda a produção de trajes e comidas", elencou.
O especialista também citou a geração de empregos temporários como ponto favorável à economia. "Com o faturamento e a emissão de nota fiscal, essas festas automaticamente geram mais impostos. Além de incentivar que outros públicos, como estudantes e fiéis, participem, essas celebrações se estendem, muitas vezes, a outras datas importantes, como o dia dos namorados e o dia dos pais, intensificando o faturamento", explicou Alexandre.
Para o economista Newton Marques, as cadeias produtivas provocam impactos relevantes sobre vários setores do comércio, indústria, transportes, serviços e alimentação. "Podemos notar, por exemplo, que quando tem eventos em ginásios de esportes, estádios de futebol e festas em clubes e colégios tradicionais, há uma grande movimentação de ambulantes ligados ao setor de alimentação e lazer", disse. "Com relação aos ganhos de salários dos profissionais envolvidos, também deve ser ressaltado que, por haver forte aumento da demanda neste período e não existir oferta adequada, os rendimentos sobem", avaliou.
Preparação intensa
O planejamento para os circuitos de festas juninas começa em janeiro, com a escolha do enredo, da temática, das coreografias e das músicas, segundo Robson Vilela, 40, presidente da Federação das Quadrilhas Juninas do DF e Entorno (FequajuDF). Em seguida, vem a compra de materiais, vestuário e itens de decoração. Por fim, a organização da estrutura, do som e das barracas. "Para toda a ideia sair do papel, precisamos de, no mínimo, R$ 150 mil", destacou.
Márcio Nunes, 39, é presidente da Liga Independente de Quadrilhas Juninas do DF e Entorno (LINQ-DFE) e contou que há cerca de 300 profissionais envolvidos na organização das 22 quadrilhas. Questionado sobre como o grupo consegue suprir todos os gastos, ele disse que há aqueles que participam de projetos, via emendas parlamentares, e outros que fazem rifas, bingos e festas com cachês durante o ano inteiro. "Fazemos o que é possível para arrecadar dinheiro, até vender água no semáforo", ilustrou.
Para Pedro dos Santos, 42, que trabalha como motorista de ônibus transportando 40 integrantes da quadrilha Arraiá Chapéu de Palha, o faturamento aumenta consideravelmente no período de São João, complementando a sua renda. As maiores demandas ocorrem nos finais de semana, em que faz de duas a três viagens por dia. Quando não há choque de horário, também transporta outros grupos juninos. "Acredito que os rendimentos do ano passado foram cerca de 30% superiores aos deste ano, considerando o mesmo período. A expectativa é que melhore, pois está apenas começando", analisou.
O período junino é intenso também para quem atua na cadeia produtiva cultural. O coreógrafo e diretor artístico da Cia Transições, Lehandro Lira, 37, reforçou que, de fevereiro a maio, os ensaios são intensos e mobilizam mais de 300 brincantes. "Cada quadrilha tem o seu período de dedicação à coreografia. Tem aquelas que ensaiam duas vezes por semana, outras três ou quatro vezes. Tem fins de semana intensivos, então, é muito puxado", contou.
Formado em licenciatura em dança, Lehandro trabalha com quadrilhas juninas desde 2016. "É um trabalho que me move e me cativa. Consigo sentir minhas raízes e as minhas veias pulsarem pelo forró, pelo xaxado, pelo baião, pelo xote e pelo frevo", disse o coreógrafo nascido no DF e criado em Pernambuco. "O São João é um estilo de vida para tanta gente, que espera o ano inteiro para conseguir arrecadar, com muito amor e dedicação, seu lucro, contribuindo diretamente e indiretamente com a cadeia produtiva, cultural e social da região".
Colaborou Letícia Guedes
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