Aniversário de Taguatinga

"A cidadania de Brasília nasceu aqui", diz pioneiro de Taguatinga

Em Taguatinga há 64 anos, o pioneiro Wilon Wander Lopes destaca o sentimento de pertencimento à cidade e como ela se transformou numa metrópole

Wilon fundou o primeiro jornal de Taguatinga -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Wilon fundou o primeiro jornal de Taguatinga - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

"Apenas barracos e muita gente carente", é assim que o pioneiro Wilon Wander Lopes, 79 anos, descreve o cenário encontrado quando chegou a Taguatinga, em 1960, após mudar-se de Governador Valadares (MG) com os pais. Atual presidente da Confraria dos Cidadãos Honorários de Brasília, Wilon conta, orgulhoso, que seu principal objetivo sempre foi auxiliar as pessoas que chegavam a Taguatinga para que, juntos, pudessem construir a cidade que desejavam. 

"Logo que cheguei, criei o Diretório Estudantil de Taguatinga, porque eu queria juntar as pessoas desencontradas. Todo mundo tinha vindo para essa região sem querer, porque veio muita gente para construir Brasília; e vamos dizer que precisava-se de 10 mil pessoas para trabalhar e vieram 30 mil, então todos foram mandados para cá, e era necessário segurança para essas pessoas, alimentação, saúde, escola", lembra.

Wilon fundou e presidiu a Associação dos Advogados de Taguatinga (AATA) e a Subseção de Taguatinga da Ordem dos Advogados do Brasil-DF. Contudo, considera que o ato mais importante que fez para a cidade foi a criação do Jornal Satélite, há 58 anos.  

Ele explicou que na época em que passou a viver na região, jamais imaginou a então Vila Operária, poderia ser transformada na metrópole como é hoje. "Primeiro, com o nosso trabalho, Taguatinga se transformou numa cidade gostosa do interior, aquela onde todo mundo se conhece, onde a dona de casa que está sem sal e vai à residência da vizinha pedir. Agora a cidade transformou-se nessa grande metrópole. O mais bonito é que quem fez a cidade foi esse pessoal que chegou lá no início."

O pioneiro fala, ainda, sobre o sentimento de pertencimento que se cresceu entre os moradores logo que chegaram a Taguatinga. "As pessoas vinham de fora sem qualquer sentimento de pertencimento em relação ao Plano Piloto e, em Taguatinga, essas pessoas começaram a ter esse sentimento, porque elas participaram efetivamente da construção das coisas. Antigamente, quando você ia ao banco, encontrava, de 20 pessoas que estavam na fila, oito moravam em Taguatinga e duas pessoas eram de fora. Hoje, é ao contrário: são 18 pessoas de fora para dois taguatinguenses, isso é muito ruim para a cidade em termos de 'Cidade Cidadã', eu tenho um livro inclusive com esse nome, que é exatamente para mostrar que, em Taguatinga, é que nasceu a cidadania de Brasília", completa. 

Transformação

O pioneiro ressalta que se sente orgulhoso ao olhar para trás, pois acredita que alcançou os objetivos que foram traçados incialmente. Contudo, sente-se receoso em relação às obras que têm sido implementadas na região. "Sinto-me muito orgulhoso e, inclusive, temeroso porque essas obras que estão sendo feitas, hoje, não são feitas para a cidade e para o taguatinguense, mas para a metrópole Taguatinga, o que é muito bom em termos financeiros, mas para o encontro de pessoas isso está sendo ruim. Por exemplo, o túnel foi feito para as pessoas que vêm de fora, de carro. Os taguatinguenses ficaram mais ou menos dois anos sem poder passar pelo centro e isso prejudicou muito o comércio do centro da cidade", relata. 

O futuro  

Para os próximos anos, Wilon afirma sentir dificuldade ao tentar imaginar o que está reservado para a região, uma vez que jamais imaginou que o cenário atual pudesse se concretizar. Acredita, porém, que haverá uma integração entre Taguatinga, Samambaia, Ceilândia e Águas Claras, o que, de acordo com ele, beneficiará a prevalência da cidadania, para além do comércio e objetivos econômicos. "A partir daí, será realizado o meu sonho chamado Tacesa (sigla criada a partir da primeira sílaba das regiões administrativas próximas). Quando eu vi esse crescimento da região, chamamos pessoas de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia e da nascente Águas Claras, para verificarmos do que toda essa região precisava efetivamente." 

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 05/06/2024 05:00 / atualizado em 05/06/2024 05:00
x