Economia

Procon fiscaliza aumento no preço do arroz em mercados do DF

Valores do cereal chegaram a variar em 100%, de acordo com o órgão de defesa do consumidor. Fornecedores garantem que não haverá falta do produto nas prateleiras

 Janaína Cury, 58 anos, e o marido Flávio Cury, 58, fazem compras em um supermercado do Cruzeiro Velho -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Janaína Cury, 58 anos, e o marido Flávio Cury, 58, fazem compras em um supermercado do Cruzeiro Velho - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Em meio à maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul, que já afeta mais de 2 milhões de pessoas, consumidores brasilienses temem pela falta de arroz nas prateleiras dos supermercados. Apesar disso, entidades gaúchas garantem que não faltará o grão na mesa dos brasilienses, apesar da alta dos preços. Isso porque a grande parte da safra que abastece o país vem da região Sul. E o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF) vem realizando fiscalização no comércio local.

De acordo com o órgão, os preços do cereal variaram em mais de 100% nos últimos dias. Os fiscais do órgão percorreram 94 estabelecimentos de toda a capital federal entre 20 e 24 de maio. Foram levantados preços de mais de 50 marcas de arroz branco. A pesquisa constatou que o valor mais alto cobrado por pacote de cinco quilos foi de R$ 54,99. Já o menor valor identificado foi de R$ 26,89 — uma variação de mais de 100% no preço cobrado pelo produto.

A aposentada Iva Cristina, 59 anos, moradora de Ceilândia, se assustou com o aumento do arroz, considerado indispensável no cardápio da família. O produto é um dos alimentos com bom balanceamento nutricional, fornecendo 20% da energia e 15% da proteína necessária ao ser humano adulto.

"Antes da tragédia no Rio Grande do Sul, já havia um aumento do arroz. Eu tenho certeza de que não tem relação com o que ocorre por lá, porque além do cereal, há outros produtos que estão mais caros. O arroz é essencial na minha casa, porque tenho meus filhos que estão em crescimento. Eu tenho que comprar sempre, independentemente do preço. Não está sendo fácil encontrar agora um arroz bom e barato", conta.

Outra que sentiu aumento no preço do arroz nas prateleiras é a autônoma Janaína Cury, 58. Ela conta que faz uma pesquisa em vários mercados antes de comprar o produto, mas confessa que está difícil para o consumidor localizar o arroz gaúcho — e de outros estados — com um preço mais em conta. "Ficou caro demais. Eu já encontrei por quase R$ 55 . Acho que os supermercados se aproveitam da situação, usando essa tragédia no Sul para aumentar o preço do arroz. As pessoas ligam o aumento à possível escassez do produto", lamenta.

O aposentado José Otávio, 65, cita que há muito exagero sobre uma possível falta do produto, mesmo com o governo federal liberando R$ 6,7 bilhões para a compra pública de arroz importado. "O arroz está muito mais caro. Li que é por conta dos acontecimentos do Rio Grande do Sul, e as pessoas temem uma possível falta. O consumidor precisa se informar que não haverá falta, portanto não necessita a compra em grande escala", comenta. "Acredito que os supermercados se beneficiam desse momento. Os próprios produtores do Rio Grande do Sul afirmaram, recentemente, que não haverá desabastecimento de arroz", completa.

Para o economista e coordenador no Instituto de Direito Público (IDP) de Brasília, Mathias Schneid, o aumento do preço de outros alimentos pode ocorrer em decorrência da redução da oferta. "O fato de diminuir a colheita faz com que desloque e reduza a oferta desses produtos nos estabelecimentos comerciais. Como a demanda se mantém constante, esses preços tendem a subir", explica. "Se a gente tiver prejuízo pelo excesso de chuva, que faça com que as colheitas sejam menos produtivas e não colhido tudo, os preços se elevam, devido à escassez do produto", conclui.

  • O preço do arroz chegou a dobrar no DF, segundo o Procon
    O preço do arroz chegou a dobrar no DF, segundo o Procon Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • José Otávio pede calma a população:
    José Otávio pede calma a população: "não necessita a compra em grande escala" Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Iva Cristina se assustou com o aumento do arroz, considerado indispensável no cardápio da família
    Iva Cristina se assustou com o aumento do arroz, considerado indispensável no cardápio da família Kayo Magalhães/CB/D.A Press

Produção

O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional do arroz. Segundo o diretor-executivo da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Anderson Belloli, a produção do cereal ocorre em seis regiões distintas, localizadas no sul gaúcho. E, segundo o gestor, mais da metade da safra dessa região já havia sido colhida antes dos temporais. 

"Apenas uma (das áreas) foi efetivamente atingida. E antes das enchentes, colhemos 70% da safra desse local. Ou seja, do total planejado por nós, 7,5 mil toneladas, 85% da safra do Rio Grande do Sul já haviam sido colhidas quando começaram os temporais", conta.

Belloli acrescenta que os brasilienses não precisam temer pela falta do arroz, porque a produção das lavouras no estado, este ano, é superior ao que foi plantado em anos anteriores. "Não há qualquer possibilidade de falta de arroz, não só no Distrito Federal", relata.

De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), no que se refere aos preços do arroz, ele vinha registrando recuo nos meses de março e abril com a maior oferta do cereal no mercado interno devido ao período da colheita. Em março, o preço recuou -0,90%, em abril a queda foi de -1,93%.

"No entanto, de acordo com monitoramento da entidade, entre 25 de abril e 28 de maio, os preços do pacote de 5kg do arroz tipo 1 subiram, em média, 1,08%, para o produto da categoria de maior preço que passaram de R$ 46,45 para R$ 46,95. Já na faixa de preço mínimo, a variação foi de 11,31% passando de R$ 22,90 para R$ 25,49. Para a faixa de preço médio, a variação foi de 5,01% saindo de R$ 32,75 para R$ 34,39", disse a entidade, por nota.

A associação acrescentou que o abastecimento dos supermercados, por ora, opera dentro da normalidade, e o consumidor deve pesquisar preços e promoções nas lojas físicas e no e-commerce. "Atualmente, há mais de 60 marcas de arroz no mercado e diferentes preços para compor a cesta de abastecimento dos lares. Já as questões logísticas e os preços de comercialização permanecem na pauta de discussão dos setores produtivos com o governo federal, assim como os prazos para a entrada do produto no varejo nacional", completa a Abras, que lembrou que não há expectativa de aumento dos preços de outros produtos em decorrência da crise no Rio Grande do Sul.

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postado em 02/06/2024 06:00 / atualizado em 02/06/2024 07:34
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