Após três meses de investigação, o delegado-chefe Victor Dan, da 3ª Delegacia de Polícia (DP) do Cruzeiro, responsável pela investigação contra a creche no Sudoeste por maus-tratos, revelou nesta quarta-feira (29/5) que durante operação de busca e apreensão na terça (28) foram encontradas “evidências bem fortes” que corroboram com as denúncias feitas pelos pais dos alunos.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da 3ª DP, deflagrou na terça-feira (28) uma Operação para investigar 22 denúncias de maus-tratos contra crianças que estavam matriculadas na creche Casa da Nanny, localizada no Sudoeste.
"As evidências são bem fortes, os vestígios são fortes. Dá para ver a presença de muitos insetos vivos e mortos. A localidade é realmente insalubre", afirmou. Segundo a Polícia, existem relatos de que as baratas que estavam na creche eram chamadas de "Nicole" pelas crianças.
A investigação
De acordo com o delegado, a creche estava sem alvará de funcionamento e com três autos de interdição da Vigilância Sanitária, contudo, seguia funcionando e recebendo alunos.
O caso primeiramente veio a tona quando o pai de um aluno, em 2023, precisou de documentos de funcionamento e o estabelecimento se recusou a cedê-los. Assim, ele tirou o filho da creche e deu procedência às medidas legais.
De lá para cá, foram 22 denúncias de pais sobre as condições às quais os filhos estavam submetidos. O caso passou a ser investigado pela 3ª Delegacia de Polícia (DP), do Cruzeiro.
A perícia no estabelecimento ocorreu por meio de uma ordem judicial, porque anteriormente os proprietários não permitiram a entrada da polícia. Na terça-feira (28), foi realizada uma operação de busca e apreensão.
Lá, segundo delegado, eles identificaram evidências independentemente do laudo. "O laudo será muito importante, mas o que já foi constatado nos laudos da vigilância sanitária e o que consta nos autos em relação às narrativas dos pais dos responsáveis dessas 22 crianças, dá para constatar que fortes vestígios e que as evidências são muito claras", pontuou o delegado.
Ainda na operação de busca e apreensão no estabelecimento, o dono do local foi flagrado tentando fazer descarte de um fogão em um contêiner, sob justificativa de realizar providências que a Vigilância Sanitária teria determinado.
A ação chamou a atenção da polícia e foi vista como uma forma de tentar esconder a aparência do aparelho. "A olho nu nós percebemos a presença de insetos e baratas", disse o delgado.
O caso segue sendo investigado pela 3ª DP do Cruzeiro como maus-tratos, mas o delegado avalia que outras autuações para os investigados podem surgir ao longo do processo.
"Agora nós vamos iniciar uma segunda etapa dessa investigação para constatar outros crimes além dos maus-tratos, porque há também evidências de violência, não só a física, como violências psicológicas", afirmou o delegado.
Relato dos pais
O advogado Kiko Omena, 40, tinha matriculado o filho Davi, de 4 anos, há dois anos e meio na creche e revela que pagava cerca de R$ 2.600 de matrícula, mas que não havia um critério para o valor da mensalidade, então outros pais pagavam ainda mais caro.
O relato de Kiko vai além e revela que o filho dele teve consequências do período em que ficou na creche, como diarreia e febre. Ele conta que uma criança quebrou o pé no local e que os pais não tiveram assistência da creche enquanto outra criança teve perda parcial da audição em decorrência de um fungo.
Segundo ele, o primeiro sentimento após descobrir tudo o que estava acontecendo no local foi de culpa, mas que agora ele procura fazer o melhor para o filho e cobrar a justiça tanto âmbito criminal, que é a prioridade no momento, mas também posteriormente na parte civil por danos morais e materiais.
A união dos pais para com esse caso é que eles consigam fechar os outros estabelecimentos em nome dos donos da creche.
O delegado do caso também fez um alerta para pais de crianças que frequentam creches. "A orientação da polícia para os pais é que ao matricular seus filhos nessas espécies de estabelecimentos comerciais deem uma olhada na documentação, procurem saber de todas as condições do local, da salubridade, da habitabilidade para que evitem essa situação", finalizou.
O que diz a creche?
Em nota, a Casa da Nanny informou que "Desde 11 de maio de 2024, a Casa da Nanny Sudoeste tem sido alvo de acusações relacionadas a situações sanitárias na unidade do Sudoeste. Diante da seriedade das questões levantadas, a instituição reitera que sempre operou com verdade, responsabilidade e profundo respeito em relação às crianças, pais e colaboradores. O corpo jurídico da escola externa grande preocupação com os fatos publicizados e considera ser temerária qualquer conclusão ou acusação antes da investigação ser concluída, como tem ocorrido até o presente momento".
A creche também listou medidas que vêm sendo tomadas. Confira abaixo a íntegra das medidas:
1 - Análise de alimentos: Desde que foi informada sobre a condição de saúde desses alunos e das colaboradoras, que apresentaram os sintomas de vômito e febre, a equipe diretiva da Casa da Nanny, prontamente, agiu de forma diligente para lidar com a situação de maneira responsável. Depois de enviar uma amostra dos alimentos servidos para perícia, o resultado do laudo do laboratório Quinosan, divulgado em 17 de maio, confirmou que os alimentos estavam seguros para consumo, em total conformidade com os rigorosos padrões legais vigentes. Essa conclusão elimina qualquer dúvida sobre a ocorrência de intoxicação alimentar.
2 - Suspensão temporária das aulas e reparos: A direção tomou a decisão proativa de fechar a unidade por uma semana. Entre 13 a 17 de maio, foram feitos reparos, manutenção e melhorias nas instalações do Sudoeste. Nesse período, a unidade da Asa Sul acolheu famílias que optaram pelos serviços. As atividades no Sudoeste foram retomadas em 20 de maio, após reparos necessários para garantir a saúde e o bem estar dos alunos.
3- Contratação de consultoria especializada: Em paralelo, foi contratada consultoria especializada para reestruturar as instalações físicas nas unidades do Sudoeste e Asa Sul. A consultoria também está encarregada de revisar e aprimorar todos os processos internos, além de treinar todos os colaboradores.
4- Estudo epidemiológico: No dia 17/05/2024, a Casa da Nanny foi informada que a Vigilância Epidemiológica realizaria estudo detalhado para determinar se os sintomas observados foram causados por uma virose.
5 - Vistoria e início das investigações: Durante vistoria nesta terça-feira (28), a Polícia Civil coletou amostras de água para análise e controle de qualidade. As investigações foram iniciadas após a divulgação do vídeo por parte dos pais, em 10/05/2024, uma vez que a primeira página do inquérito policial está datada em14/05/2024, sendo inverídica a informação de que a escola seria alvo de investigação há mais de três meses.
6 - Descarte do forno: Quanto à acusação de que um profissional teria “fugido com o forno”, a realidade dos fatos é que, desde que a Casa da Nanny iniciou o processo de reforma e limpeza, o referido forno, que não estava sendo utilizado por meses, foi descartado. As acusações são infundadas, tendo em vista que, se a intenção da escola fosse atrapalhar as investigações, não teria aguardado o mandado de busca e apreensão da Polícia Civil, na terça-feira (27). A instituição não tem conhecimento dos supostos insetos dentro do forno, considerando que - até o presente momento - não teve acesso ao laudo da perícia ou às imagens.
7 - Coletiva à imprensa: Quanto às informações apresentadas pelo delegado em sua coletiva à imprensa, realizada na data do dia 29/05/2024, o corpo jurídico esclarece que apenas após a elaboração dos laudos periciais e a comprovação quanto a eventual nexo de causalidade entre as condições da escola e os sintomas apresentados pelos alunos é que será possível a conclusão da investigação, sendo absolutamente temerária qualquer conclusão ou acusação sem elementos probatórios mínimos, como ocorre até o presente momento.
8 - Boas práticas: A Casa da Nanny Sudoeste foi advertida e orientada em 11/04/2024 a melhorar suas práticas de higiene, as quais foram prontamente corrigidas. Além disso, foi realizada uma dedetização nas instalações em 26/04/2024, com o objetivo de eliminar pragas e garantir um ambiente seguro.
9 - Licenciamento para Day Care: A Casa da Nanny Sudoeste funciona na modalidade Day Care e, como já informado, possui todas as autorizações de funcionamento
10 - Licenciamento para funcionar como creche: Por exigência da Vigilância Sanitária, a Casa da Nanny foi orientada a se regularizar como creche. Em 17/04/2024 foi iniciado o processo de credenciamento como creche junto à Secretaria de Educação. No mesmo dia, os pais foram comunicados da medida via aplicativo da instituição.
11 - Transferência de alunos: Os alunos da unidade do Sudoeste foram remanejados para a unidade da Asa Sul enquanto a instituição cumpre as orientações de uma notificação da Vigilância Sanitária.
12 - Novas medidas: Para melhorar a experiência e a segurança dos alunos e colaboradores da unidade da Asa Sul, a Casa da Nanny está estruturando, a pedido dos pais, um Conselho Consultivo, que se reunirá uma vez por mês para discutir assuntos pertinentes entre pais e direção. Para manter as famílias atualizadas, serão enviadas diariamente duas fotos pela manhã (atividades e almoço) e duas à tarde (atividades e jantar).
Além disso, para garantir o conforto dos alunos e colaboradores, a Casa da Nanny continua realizando um processo de manutenção de rotina, que inclui: limpeza dos aparelhos dear-condicionado, pintura das paredes da cozinha, manutenção dos armários e das persianas das salas de aula. A equipe de limpeza também foi reforçada com uma nova colaboradora para apoio à limpeza externa e interna.
A diretoria da Casa da Nanny gostaria ainda de expressar sinceras desculpas por qualquer inconveniência que possa ter causado às famílias envolvidas. A instituição enfatiza que esse tipo de incidente não reflete a qualidade dos serviços prestados pela Casa da Nanny que, ao longo dos últimos quatro anos, opera em perfeitas condições para prestar um atendimento de excelência".
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