Espécie denominada símbolo da região, os ipês chegam, junto com a seca, para dar um belo contraste à paisagem urbana do Distrito Federal. Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), há cerca de 270 mil ipês espalhados na capital. Primeiro a se exibir na cena brasiliense o ipê roxo já colore as quadras 111 e 211 Norte e na 713 Sul. Os buquês arroxeados desabrocharam e cativam quem passa por ali diariamente. Aos amantes da natureza, está oficialmente aberta a melhor temporada do ano.
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Comumente confundido com o ipê-rosa, o ipê-roxo costuma florescer entre os meses de maio e agosto. O mestre em ecologia Vitor Sena, coordenador de A Vida no Cerrado, explicou que a folha dessa espécie apresenta estruturas que parecem pequenos pelos, chamados de tricomas, que dão a sensação de que as folhas são aveludadas, enquanto o ipê de flores cor-de-rosa tem folhas lisas. "O ipê-rosa apresenta flores com tom mais brando, com o interior das flores até mesmo esbranquiçado", ensinou.
Ao todo, existem mais de 30 espécies de ipês, sendo que algumas possuem flores com as mesmas colorações. Há espécies de flores amarelas, brancas, rosas, roxas e até mesmo verdes, que são menos comuns. Eles costumam florescer a partir do fim de maio e vão, cada cor na sua vez, até outubro. O desabrochar das flores marca o início do período de seca no Cerrado.
Desde que estejam saudáveis, o esperado é que as árvores floresçam todos os anos. "Alguns fatores que influenciam na floração são a idade da planta, a disponibilidade de luz solar, a quantidade de água no solo e no ar, a temperatura e a quantidade de nutrientes no solo. No caso dos ipês, a floração depende, principalmente, de um breve período de seca e temperaturas mais baixas, que pode ser alterado devido às mudanças climáticas", informou Vitor.
O mestre em ecologia explicou que se houver muita chuva ou irrigação durante o período em que as flores devem desabrochar, os ipês podem atrasar ou até mesmo abortar a floração. Por outro lado, se houver uma seca prolongada ou severa, os ipês podem antecipar a floração, de forma menos abundante, para garantir a reprodução antes de morrer.
Admiradores
No ipê da 111 Norte, a reportagem do Correio encontrou o aposentado Pedro Paulo Magno, 63 anos, morador da quadra 112 Norte. Pronto para fazer uma selfie, confessou que, na verdade, os planos eram ter feito o registro ontem, mas que não conseguiu ir até a árvore. Nascido em Belém do Pará, descreveu-se como um verdadeiro amante da natureza. "Eu sempre procuro admirar os ipês quando eles estão floridos, eles são uma marca registrada de Brasília", declarou.
Apesar de amar todos, Pedro confessou que o ipê de flores brancas é o que mais o impressiona. "O amarelo é muito forte, significa muito, mas há poucas árvores do branco, e quando ele floresce, destoa muito mais. Eu admiro o branco porque, nessa época do ano, quando ele desabrocha, o céu de Brasília fica com um azul muito forte e, como as nuvens são raras, eles servem para contrastar", disse. Contou que é usuário do aplicativo "ipês", que mostra a localização das árvores e apresenta informações sobre a floração em toda a região do DF. Por lá, ele monitora as árvores e as procura para fazer os registros.
A brasiliense Karyne Fernandes, 27 anos, profissional da área da saúde, é moradora de Planaltina DF, mas todos os dias desloca-se até a Asa Norte para trabalhar. Contou que tem o rosa como cor preferida e, por isso, a espécie de ipê que mais a encanta é a que floresce no tom. "As flores rosa são muito vivas e chamam muita atenção, mas também gosto das brancas porque remetem à paz. Eu fico realmente encantada, quando estou andando na rua, durante o dia, traz um sentimento incrível", confessou.
Karyne disse que, da janela do trabalho, consegue admirar as árvores que estão do lado de fora. "Lembra-me um grande buquê colorido, eu acho muito legal e gosto de tirar fotos da paisagem. Quando estou com tempo livre, sento nos banquinhos que têm por perto e aproveito para ler um livro e admirar", contou.
App para localizar ipês
A bióloga Paula Sicsú, mestre em ecologia, foi quem idealizou o aplicativo que Pedro Paulo utiliza para monitorar a florada dos ipês. A iniciativa surgiu na pandemia, em 2021, quando Beatriz se frustrou enquanto procurava ipês para fotografar. "Foi uma dificuldade grande conseguir encontrar informações sobre as árvores porque, às vezes, eu via a foto de um ipê bem bonito em uma reportagem ou no Instagram e eu tinha dificuldade de descobrir onde ele estava e, mais do que isso, saber se naquele momento estava florido. Como eu tentava ir de bicicleta, eu também achava pertinente saber se dava para chegar até eles dessa forma", explicou.
A bióloga disse que pensou que um lugar que reunisse todas as informações seria útil não apenas para ela, mas para muitos moradores da região, uma vez que, no DF, o hábito de admirar a árvore é generalizado. "Qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode baixar o aplicativo, ele está disponível tanto para Android quanto para IOS. O nome é "Ipês", e o símbolo é uma flor com cada pétala de uma cor e um fundo verde escuro", ensinou.
No aplicativo, é possível acessar as informações existentes e também adicionar novas. "Se já existe o ipê registrado, o usuário pode adicionar novas fotos e dizer se ele está florindo ou não, que é uma informação bastante relevante. Se o ipê que está sendo vislumbrado ainda não existe nos cadastros, a pessoa pode adicionar a informação e registrar a árvore."
Informações como a existência de bebedouros e banheiros nas proximidades também podem ser conferidas. A bióloga informou que, atualmente, o aplicativo passa por atualização, para que daqui alguns meses novas funcionalidades estejam disponíveis, por isso é possível que, neste momento, o app apresente algumas instabilidades durante o uso. "A gente pede para quem tiver alguma dificuldade de acesso, entre em contato com a gente, pode ser pelo instagram (@ipes.app) ou pelo e-mail."