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Pastor que violentava fiéis fez ao menos quatro vítimas no DF

Sinval Ferreira é acusado de violação sexual mediante fraude e extorsão. Religioso alegava que precisava "quebrar a maldição" de fiéis. Em troca, o religioso mantinha relações íntimas com as vítimas, que eram ameaçadas

De possuidor do "dom das revelações espirituais" à prática contínua de abusos sexuais. O pastor evangélico Sinval Ferreira, de 41 anos, da Igreja Casa de Oração Pentecostal Missionária, em Samambaia Norte, foi preso na manhã de ontem e denunciado pelo Ministério Público (MPDFT). Ele é acusado de violação sexual mediante fraude (por meio de enganação), e extorsão (exigir pagamento sob forte ameaça). A predileção do pastor era por homens mais jovens e, por vezes, comprometidos — casados, noivos ou com namoradas. Ao menos quatro pessoas foram vítimas do religioso.

Pelas investigações da Polícia Civil (PCDF), o religioso se utilizava da fé e crença dos fiéis "para fazer revelações", prometendo a "quebra da maldição" , mas com uma condição específica: manter relações sexuais. Uma outra pastora, de 58 anos, de Sobradinho, cujo nome tem sido preservado, é suspeita de ser cúmplice dos atos.

Ontem foram expedidos mandados de busca e apreensão em Samambaia, Sobradinho e Vicente Pires — áreas suspeitas de atuação da dupla. As penas impostas aos pastores podem chegar a 17 anos de reclusão. Os investigadores chegaram à dupla após uma série de denúncias de fiéis. 

Na igreja, o pastor Sinval era conhecido pelo "dom da revelação". Um fiel relatou à Polícia Civil que foi abordado pelo religioso, durante um culto, e que ouviu uma "profecia" bastante aterrorizadora: que a mulher dele iria morrer. Para "quebrar a maldição" de morte, segundo o pastor, a solução seria a realização de sete "unções". Essas "unções" teriam que seguir um protocolo: nas partes íntimas do marido para assim "proteger" a esposa da maldição.

Com medo, a vítima cedeu e manteve relações com o pastor. O detalhe que chamou a atenção dos policiais é que antes, durante e depois do ato sexual, o pastor Sinval abriu a Bíblia e escolheu versículos e os leu para o fiel, que se disse incomodado com a situação.

De acordo com a apuração policial, da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), o pastor agia sempre ameaçando de morte algum ente próximo da vítima — esposa, noiva, namorada, filho e outros. O que obrigava os fiéis a terem relações sexuais com ele.

Há relatos de que o pastor exigia ainda que os fiéis mantivessem relações sexuais com outros integrantes da igreja, mesmo que não manifestassem desejos entre si. A  pastora de uma igreja de Sobradinho é apontada como cúmplice, pois teria conhecimento das ameaças, que chamava de "castigo celestial". Os policiais descobriram que essa pastora também manteve relação sexual com vários fiéis, por vezes, na presença do pastor.

Extorsão

De acordo com os investigadores, o pastor, além de exigir que os fiéis mantivessem relações sexuais com ele, também fazia chantagem para que repassassem valores, chamados de "ofertas", espécie de quantia doada à igreja para manutenção e organização do templo religioso. Aquele que se recusasse, Sinval avisava que estava sob forte risco de morte ou de perda da mobilidade física. 

Uma fiel contou à polícia que, além de repassar R$ 20 mil em "doações obrigatórias" para igreja, chegou a pagar passagem e hospedagem para o pastor viajar para o Rio de Janeiro. Essa mesma vítima relatou ter emprestado uma chácara para Sinval, onde ele realizava encontros sexuais, chamados por ela de  "orgias" com integrantes da igreja. O Correio tenta contato com a defesa do pastor. O espaço segue em aberto.

 


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