A falta de vagas para estacionar é uma velha conhecida dos brasilienses, principalmente quando se trata de áreas comerciais, onde clientes disputam espaço com lojistas e funcionários dos estabelecimentos. Conhecida como a rua das elétricas, a comercial da 109/110 Sul tem alta rotatividade. No entanto, de acordo com Wellington Marinho, 59 anos, que trabalha em uma das lojas, a depender do horário, é bem difícil conseguir parar o carro em um dos pontos da comercial.
Ele sai de Águas Claras, onde mora, todos os dias e vai para o trabalho de carro próprio. "Um cliente geralmente demora cerca de 20 minutos na loja. Se eu chego às 8h e saio às 18h, imagina quantas clientes teriam ocupado a mesma vaga ao longo do dia", reflete, ao revelar que tanto ele quanto os colegas são orientados a estacionar o carro na residencial, deixando as vagas em frente às lojas apenas para os fregueses. Wellington conta que opta por ir de veículo próprio para o trabalho, porque também faz o serviço de assistente técnico e tem que ir a diferentes partes do Distrito Federal.
O presidente da Associação dos Comerciantes do Distrito Federal (ACDF), Fernando Brites, relata que vagas ocupadas por lojistas e funcionários vêm sendo discutidas pela entidade há cerca de 30 anos. Ele sugere a criação de alamedas arborizadas na parte de trás dos blocos comerciais. "Seria onde os trabalhadores do comércio poderiam estacionar, além de ampliar a quantidade de vagas apropriadas para estacionamento", argumenta.
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Pouco espaço
Em Águas Claras, o gerente de uma lanchonete na Rua das Pitangueiras, Marcos Pereira, 64, diz que prefere estacionar em uma das vagas em frente ao estabelecimento onde trabalha. "Eu coloco o meu carro aqui e deixo o dia todo no local por conta da segurança. Marcos chega à lanchonete diariamente às 5h30. Ele afirma que achar uma vaga para estacionar na cidade é complicado. "Um prédio de garagem seria uma boa solução", pondera.
A servidora pública Luana Queiroz, 42, reclama que a maioria dos comércios de Águas Claras não tem área de estacionamento próximo, o que leva os clientes a pararem longe do destino. "Tem que ter um planejamento prévio antes de levantar novas construções para que já haja reservado um espaço para o estacionamento. Aqui, muita gente acaba estacionando em locais inapropriados por falta de vaga", acrescenta.
Soluções
O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo defende a criação de edifícios garagem e de estacionamentos subterrâneos. "A ocupação do subsolo é importante para a otimização da ocupação do solo urbano", assinala. Sobre a criação das alamedas na parte de trás das comerciais do Plano Piloto, Flósculo é categórico: "Seria uma perda de área verde nas superquadras, além de ferir o Plano Urbanístico de Brasília".
A doutora em transportes pela UnB Adriana Modesto avalia que a solução do problema passa pelo investimento significativo em transporte público coletivo de Brasília. Ela destaca que a criação de mais estacionamentos públicos gratuitos acabam por fomentar a opção pelo uso dos automóveis. "A solução passa pelo respeito às vagas preferenciais, pelo uso racional e sustentável dos espaços públicos, pelo investimento em modos e modais coletivos, tornando-os mais atrativos e estimulando a migração do transporte individual motorizado para as referidas alternativas. Outras alternativas seriam os modos ativos (caminhadas e uso de bicicleta). Esses evitariam o transtorno diante da carência de estacionamento e ainda contribuiriam para a saúde", defende.
O presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire, conta que a entidade vem debatendo o assunto há vários anos. "A Fecomércio defende que a melhor solução para o problema é o gerenciamento de sistema de estacionamento rotativo pago de veículo — mesma medida implantada nas principais capitais do Brasil. Lembramos que Brasília é a única metrópole brasileira que ainda não possui um sistema de estacionamento pago para administrar o fluxo de veículos em grandes centros. Dessa forma, a federação apoia o projeto Zona Verde, de autoria do GDF, que tem entre seus objetivos aumentar a rotatividade de vagas públicas", declara.
O projeto Zona Verde, que está sendo desenvolvido no âmbito da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), prevê a gestão de aproximadamente 115 mil vagas de estacionamento, em sistema rotativo, e a previsão de criação de aproximadamente 6 mil novas vagas em diversos pontos do DF. Uma das propostas do projeto é a criação de bolsões de estacionamento próximos de estações do metrô e terminais do BRT, com gratuidade de estacionamento para quem utilizar o transporte público em seus deslocamentos, o que deverá contribuir para desafogar o trânsito e reduzir o impacto nos estacionamentos do Plano Piloto. A proposta está em análise no Tribunal de Contas do DF (TCDF). A pasta ainda esclarece que o GDF desenvolve políticas públicas de incentivo ao uso do transporte público coletivo e da mobilidade ativa.