O Distrito Federal dificilmente passará por uma crise hídrica este ano, mas os moradores da capital devem permanecer em alerta e usar a água com sabedoria, avaliou o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Luís Antônio de Almeida Reis, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta terça-feira (21/5). Aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Arthur de Souza, ele também comentou que, até 2027, serão investidos R$ 2,8 bilhões em obras de expansão e melhoria do sistema hídrico para mitigar os efeitos da seca.
O DF enfrentou uma crise hídrica há alguns anos. O senhor comentou que a possibilidade de isso acontecer novamente é quase nula. O que tem sido feito pela Caesb que gerou essa situação?
Infelizmente, o clima é uma situação que não temos possibilidade de controlar. Estamos vivendo essa tragédia no Rio Grande do Sul e vendo como é difícil, pois ninguém imaginava que poderia estar acontecendo o que aconteceu lá. Então, a crise hídrica depende de vários fatores. E a obrigação da Caesb, Governo do Distrito Federal (GDF) e outros órgãos é mitigar a possibilidade dos efeitos de uma estiagem mais prolongada. Para isso, o que já foi feito e o que está sendo feito? Hoje, temos 30% a mais de produção de água em relação a 2017, que foi o ano mais crítico da crise hídrica. Isso nos dá uma tranquilidade, pois hoje temos esses 30% disponíveis.
Quais investimentos estão sendo feitos para essa área?
Temos um planejamento para que até 2027 usemos R$ 2,8 bilhões em obras de expansão e melhoria do nosso sistema hídrico. Neste ano, já temos contratados R$ 500 milhões em obras que estão em curso e sendo feitas, as quais serão concluídas até 2024 ou até o ano que vem. Posso explicar para vocês os motivos disso e dar alguns exemplos importantes. Nossas principais captações vêm dos reservatórios. Hoje, temos o reservatório de Santa Maria, Corumbá, Descoberto e fazemos captações no Lago Paranoá. Além disso, estamos aumentando a captação no sistema do Córrego Olaria, em Brazlândia, que estará pronta em junho. Outra coisa é a interligação do sistema Corumbá, que vem pela BR-040 e entra pelo (sistema) Santa Maria. Temos um reservatório que fica no Balão do Periquito, onde estamos com o adutor em obra, que estará pronto em março do ano que vem. É uma obra de R$ 96 milhões, são 26km de obra que vão da DF-001 pela área da Marinha até o Jardim Botânico. Essa obra, quando pronta, levará água do Corumbá até o sistema do Jardim Botânico, que abastece São Sebastião, Mangueiral, áreas dos condomínios e o Lago Sul. Assim, diminuiremos muito o uso dos poços artesianos, que não é uma situação perfeita. E vamos diminuir a necessidade de usar o Santa Maria.
Existem outras obras de interligação em andamento?
Outra interligação importante é a que vem pela EPTG, que está em obra. E traz a água (da Barragem) do Descoberto até o reservatório do Cruzeiro. Todas essas interligações do sistema trazem uma segurança para a operação, evitando o cenário de 2017. Isso está relacionado ao aumento da produção de água, à interligação de todos os sistemas e ao investimento em novos sistemas em áreas mais distantes, como Brazlândia. No Lago Norte, lançamos recentemente uma obra muito grande de R$ 135 milhões. O sistema de captação do Lago Norte abastecerá um reservatório na DF-001, na Estrada Parque Contorno, em frente ao Exército. E outro reservatório que também já está em obra no Balão do Colorado. Com esses dois reservatórios e a adutora que estamos construindo, abasteceremos toda a área dos condomínios até Sobradinho, aliviando o sistema de Planaltina. Todas essas obras, interligações e investimentos que estamos realizando hoje se traduzem em segurança hídrica para a população.
O que o brasiliense deve prestar atenção com a chegada da seca?
Todos que estão aqui em Brasília há muito tempo conhecem essa realidade que vivemos, pois é algo da nossa região. Temos uma situação hídrica bastante controlada devido ao planejamento realizado ao longo de toda a vida da cidade. Mas sempre que falamos sobre situação hídrica e seca, as pessoas devem ficar alertas, pois a água é um recurso finito. Não somos vizinhos das Cataratas do Iguaçu para pegar água à vontade; temos uma situação hídrica delicada, pois estamos no topo de uma área do Planalto Central que tem nascentes importantes, e essas nascentes vão para três bacias importantíssimas do Brasil: Prata, São Francisco e Amazônica. Precisamos olhar para isso com delicadeza. Hoje, Brasília tem uma situação de atendimento de água muito favorável e importante. Nesta época de seca, o que recomendamos, e fazemos, são campanhas sobre a delicadeza da situação e a necessidade de preservarmos a água.
Na época de seca, o consumo de água aumenta?
Normalmente, nas épocas de secas, temos um ligeiro aumento de consumo. Esse crescimento é em função do quê? Quando a pessoa limpa as folhas da calçada e está tudo resolvido, pois a poeira já foi levada pela chuva. Na época de seca, usam mangueiras para lavar a calçada com água potável. Hoje, existe uma conscientização da população com educação ambiental que tentamos transmitir. O DF tem sua própria Secretaria de Educação, Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Secretaria de Meio Ambiente e a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), reforçando constantemente a educação e os bons costumes. Sempre tentamos transmitir que a pessoa pegue um balde, tire água da máquina de lavar roupas e lave a calçada, pois são ações favoráveis tanto para o meio ambiente quanto para a conta do cidadão, que gasta menos.
A qualidade da água no DF é reconhecidamente alta. O senhor gostaria de chamar atenção para esse ponto?
Temos os mais elevados padrões de qualidade de água. A água da Caesb distribuída hoje no DF consideramos que é a melhor do Brasil. As pessoas podem beber água da torneira despreocupadas, desde que mantenham a caixa d'água limpa. A Caesb garante uma boa qualidade até o hidrômetro; até lá, é de excelente qualidade. Temos um laboratório de referência, certificado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), em padrões internacionais. Os testes realizados são reconhecidos internacionalmente. Durante o ano inteiro, fazemos coletas diárias de água em todos os mananciais e represas do DF. Além disso, testamos os efluentes de esgoto nas estações de tratamento de esgoto. Fazemos centenas de milhares de testes por ano, disponibilizando todos para os órgãos de controle. No Lago Paranoá, por exemplo, fizemos 800 coletas no ano passado, cada uma delas resultando em inúmeros testes, pois com um mesmo volume podemos realizar diferentes análises.
Como é feito o trabalho no Lago Paranoá para manter sua qualidade, inclusive para o turismo?
O lago é um case de sucesso até internacionalmente, como um lago urbano com água de qualidade. Nos anos 1980, teve uma situação crítica com crescimento de algas, que gerou aquela famosa manchete do Correio Braziliense. Depois disso, investiram mais de R$ 1 bilhão no Lago Paranoá. Investimentos nas estações de tratamento, como a ETE Norte e a ETE Sul, as mais modernas disponíveis no Brasil, controladas diariamente. Com isso, monitoramos a situação da água do Lago Paranoá, realizando cerca de 800 coletas e milhares de testes em 2023. Temos um mapa de balneabilidade, garantindo que sua saúde esteja em ótimas condições. Tratamos todo o esgoto do DF para não termos piora nesse quesito.
Então o lago é saudável...
Gostaria de fazer uma observação sobre o projeto Drenar-DF, cuja primeira etapa está quase pronta e é superimportante para a saúde do Lago Paranoá. Quando olhamos aqueles baciões, imaginamos o que aquilo significa. Atualmente, a água da drenagem vai diretamente para o Lago. Com esse projeto, a água será colocada em um reservatório para que a sujeira decante no fundo, permitindo que apenas a água limpa chegue ao lago. Na época da seca, a Novacap faz a limpeza desses baciões. Esse trabalho do Drenar-DF melhorará muito a situação da Asa Norte, além da segunda fase, próxima ao aeroporto. Essas obras de drenagem são superimportantes para a saúde do Lago Paranoá, evitando o acúmulo de lixo.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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