tragédia no sul

Bombeiros que atuaram com salvamentos em território gaúcho retornam ao DF

Equipe humanitária do Distrito Federal, formada por 14 bombeiros e dois agentes da Defesa Civil, passou 15 dias em São Leopoldo e Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Militares foram recebidos por familiares na tarde desta terça-feira (21/5)

Em uma faixa com os dizeres "Em meio ao caos, vocês foram a esperança", familiares recepcionaram os 14 bombeiros e dois agentes da Defesa Civil do Distrito Federal que retornaram da missão humanitária empenhada no Rio Grande do Sul. A equipe chegou na tarde desta terça-feira (21/5), depois de 15 dias de atuação nas cidades gaúchas de São Leopoldo e Bento Gonçalves, onde alagamentos deixaram famílias desabrigadas, pessoas desaparecidas e mortos. 

No Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF), pais, filhos, companheiros e amigos aplaudiram a chegada dos militares que, após mais de 30 horas de viagem, voltaram para casa. A recepção também incluiu entrega de flores, abraços e olhares emocionados. O subtenente Paulo do Nascimento Benigno, 45 anos, por exemplo, até tentou segurar as lágrimas ao chegar, mas, ao pegar a pequena Sofia, 5, nos braços, caiu no choro.

Sobre os desafios, o subtenente contou que, logo na primeira ocorrência em São Leopoldo, encontrou três idosas, todas com alguma deficiência, ilhadas em uma casa alagada. "A gente quer desmoronar, mas a função fala mais alto e precisamos cumpri-la. Mesmo assim, a lágrima desceu nesse momento", revelou. A equipe também transportou pessoas acamadas e seus equipamentos de oxigênio. Tudo embaixo da chuva.

Kayo Magalhães/CB/D.A Press -
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Quando foi designado para atuar nos deslizamentos em Bento Gonçalves, o risco de morte era constante, tanto que, todas as vezes que começava a chover, era preciso recuar a guarnição e os equipamentos, por conta dos soterramentos. "Quando começamos nessa cidade (Bento Gonçalves), havia dez desaparecidos. Quando voltamos, restaram quatro", detalhou. 

Mesmo com experiências em tragédias, como no terremoto no Haiti e no rompimento da barragem em Brumadinho (MG), Nascimento contou que a missão no RS o surpreendeu pela solidariedade da população. "O povo trabalhava dia e noite na ânsia de poder ajudar. Quando eram impedidos de contribuir, choravam e se agoniavam. Então, tentávamos acalentá-los. Foi um trabalho gratificante, feito em conjunto com a comunidade", relatou. 

Para a tenente-coronel Paula Tiemy Nogueira, 34, que chefiou a delegação, a experiência no RS foi única. "Nos deparamos com vários desastres ocorrendo ao mesmo tempo e em diversas cidades. Tínhamos vítimas de alagamento e de soterramento, e também criamos vínculos com famílias que buscavam seus entes por 19 dias", contou.

Sobre os 15 dias de trabalho, a chefe da delegação detalhou que o centro de São Leopoldo, primeira parada da equipe, estava submerso. "Prédios, postos de gasolina e escolas — tudo embaixo da água", exemplificou. Em seguida, com a guarnição dividida, um grupo partiu para Bento Gonçalves, que sofreu com deslizamentos de terra.

"Inicialmente, ficamos alojados em um salão de festas ao lado do quartel do Corpo de Bombeiros, que já não tinha espaço suficiente. Depois, a prefeitura fez uma parceria com os hotéis da região e as equipes de todo o país ficaram alojadas nesses espaços", detalhou.

Segundo a tenente-coronel, alguns militares estão com suspeita de leptospirose, devido ao contato com a água suja das enchentes. "São riscos que estamos sujeitos a passar. O sentimento é de missão cumprida. Tenho certeza de que todos os militares da guarnição deram o máximo de si. Ainda há equipes do DF e de diversos outros estados atuando. Então, criou-se uma corrente muito bonita pelo povo do RS", completou.

Kayo Magalhães/CB/D.A Press -
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Legado

A equipe do sargento Franklin Roosevelt Cardoso, 48, que se concentrou em Bento Gonçalves, trabalhou na busca por pessoas soterradas. "Quando chegamos, os desaparecidos haviam sido mapeados. Com os cães, focamos nesses locais. E tivemos êxito. Conseguimos resgatar a maior parte dos corpos que estavam sendo procurados", relembrou o profissional, que já atuou em catástrofes no Rio Janeiro, São Paulo e Brumadinho (MG).

Assim como para Paula Tiemy, a sensação para o sargento é de dever cumprido. "Foi uma responsabilidade enorme, mas Brasília tem profissionais capacitados. Quando chegamos em uma ocorrência, sempre deixamos um legado", assinalou. Ao lado do sargento, estavam a filha, o genro e o neto, que foi direto para o colo do avô.

"Estou muito orgulhosa pelo meu pai. Ficamos apreensivos nesses dias em que ele ficou no Sul, mas, graças a Deus, deu tudo certo", disse Nátaly Oliveira, 27, com lágrimas nos olhos. O afeto fez jus à faixa erguida por todos os familiares, que dizia: "Em meio ao caos, vocês foram a esperança. Parabéns pela missão. Estamos muito orgulhosos de vocês. Sejam bem-vindos".

"Víamos no olhar das pessoas o desespero de perder familiares e bens materiais", disse a segunda sargento Jéssica Cristiane, 32, que atuou, inicialmente, no resgate com embarcações e, depois, na busca dos corpos que estavam soterrados. Aliviada, ela celebra o retorno ao DF, em especial, porque trabalhou em uma área de risco, com grande possibilidade de desabamentos.

"Todos os dias, a gente partia para o trabalho rezando e voltava agradecendo por mais um dia com saúde. Profissionalmente, é engrandecedor, uma aula de empatia, de força e de coragem vinda da população do Rio Grande do Sul", resumiu. 

Ao fim, o coronel Sandro Gomes, 47, comandante geral do quartel, reuniu-se com a equipe para, também, parabenizá-la e agradecê-la pela missão. "Fiquei envaidecido por ser comandante de vocês", destacou. A partir de sexta-feira, os bombeiros terão 10 dias de descanso e, até lá, devem fazer exames psicológicos e físicos, para verificar como está a saúde dos profissionais.

Kayo Magalhães/CB/D.A Press -
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Resgates

Enviada em 3 de maio, a guarnição realizou um total de 136 resgates de adultos, 20 de crianças e 85 de animais. Além disso, dezenas de famílias receberam assistência por meio da distribuição de mantimentos e do auxílio no deslocamento de pessoas e bens. O CBMDF também enviou uma bombeira militar veterinária para atuar no resgate de animais em situação de risco. Para apoiar no Gabinete de Crise Sistema de Comando de Incidentes em conjunto com o IBAMA, mais seis bombeiros foram ao estado, no atendimento às emergências ambientais decorrentes das enchentes.

Em São Leopoldo, a operação de busca, resgate e salvamento na região alagada da cidade persistiu com o foco na prestação de ajuda humanitária às famílias afetadas, garantindo o fornecimento de alimentos, água potável e outros itens essenciais para mitigar os impactos das enchentes.

Em Bento Gonçalves, as operações de busca aos desaparecidos foram conduzidas utilizando cães e retroescavadeiras. Foi realizada uma operação de desmanche hidráulico ou deslizamento controlado, como forma de deixar as áreas com riscos menos perigosas. No último sábado (18/5), uma nova equipe, com mais 14 profissionais, chegou no RS para dar continuidade aos trabalhos de resgates. 

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