Quando a van que trazia 25 animais do Rio Grande do Sul estacionou ao lado da Torre de TV, cerca de dez tutores aguardavam, ansiosos, a chegada dos cães que adotaram. A aposentada Talize Fernandes, 70 anos, não segurou as lágrimas. "Esperei cinco dias por esse momento. Enfim, vou conhecer meu Rudá", contou. O nome, de origem indígena, significa divindade do amor. "Em minha casa, será muito amado e bem cuidado", garantiu.
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A vinda dos animais, ocorrida ontem, faz parte de uma campanha nacional de adoção realizada por três deputados federais da bancada animal, que viabilizaram o transporte: Fred Costa (PRD/MG), Bruno Lima (PP/SP) e Marcelo Queiroz (PP/RJ). Interessados preencheram um formulário no site Adote um pet do RS, assinaram um termo de responsabilidade e trocaram informações com os organizadores para acompanhar de perto o processo de adoção. Seis mil pessoas, em todo o país, já realizaram o cadastro para adotar os animais, que também incluem gatos.
No geral, os tutores pouco sabem sobre os pets, visto que a maioria dos animais já vivia em situação de abandono antes da ocorrência das enchentes. Por normalmente serem pouco escolhidos em feiras de adoção, priorizou-se trazer cães de porte grande, idosos, cegos ou que necessitam de maiores cuidados. Todos chegaram a Brasília, primeiro ponto do Brasil com a adoção garantida. Na tarde de ontem, 12 filhotes pousaram na Base Aérea de Brasília (BABR). Expectativa é de que na próxima semana chegue mais uma leva de animais.
À frente da iniciativa, a advogada especialista em direito animal Ana Paula de Vasconcelos ressaltou que esse é o momento de priorizar o bem-estar, a segurança e o mínimo de conforto para esses cães, que não podem se defender sozinhos. "Os abrigos estão lotados e as chances de doenças infectocontagiosas se propagarem são enormes. Animais com chance de adoção ou cujos adotantes já os aguardam em outros cantos do país não merecem ficar esperando, acorrentados e passando frio, a possibilidade dos seus antigos tutores, se houver, aparecerem. Eles precisam ter dignidade", defendeu.
Vida nova
Em caixas de transporte, os famosos vira-latas chegaram assustados e estressados, pois, além do estado de calamidade do qual saíram, precisaram viajar por quase 30 horas até Brasília. Apesar de estarem vacinados e vermifugados, todos passaram por exames de sangue para averiguar se possuem alguma doença. "A orientação é que os cães tomem banho assim que chagarem em casa, além de serem colocados em lugares seguros. Entrar com petiscos e outros mimos pode ser positivo para que eles associem a presença dos tutores a coisas boas e prazerosas", recomendou a adestradora Thaís Rodrigues, 37, do centro de treinamento e lazer Fantástico Mundo Cão.
Enquanto caminhava pela Torre, a gaúcha Genair Maciel, 54, observou o movimento e se aproximou do grupo de tutores. Ciente da situação, comentou: "Vi cenas horríveis ocorrerem com os animais lá no Sul. Agora, fico feliz em saber que estes serão bem cuidados", disse. Apesar de amar cães — tem cinco em sua casa — a técnica administrativa em educação deixou a adoção por conta dos brasilienses, visto que é moradora de Santa Maria (RS) e veio ao DF apenas para resolver assuntos profissionais. "Não tive a casa atingida pelas inundações, mas cheguei a ficar ilhada por um tempo", recordou.
Além de verificar o estado de saúde dos cães, a revisora de textos e protetora animal Jana Portela, 34, quer castrá-los e colocá-los para adoção, uma vez que, nesse primeiro momento, vai apenas assumir a responsabilidade pelo idoso Peri e pela jovem Bagé, dando-lhes lar temporário. "Tentei pegar os menos 'adotáveis', que são cães de grande porte e idosos". No projeto Animalis, que faz resgates pontuais, a protetora cuida de mais 12 animais.
Ainda há muitos animais esperando por um lar. Em caso de interesse, acesse o site Adote um pet do RS (https://dlbrunolima.com/adoteumpetdors/) e faça o cadastro. Quem não puder adotar, pode contribuir com a campanha divulgando-a em suas redes sociais.
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