Cavaleiros de um lado e de outro. Todos com roupas muito coloridas, alguns deles, mascarados. De repente, começa uma batalha encenada ao ar livre com o som de uma banda tocando ao vivo. A encenação das Cavalhadas, em Pirenópolis, começou neste domingo e vai durar três dias. A representação da batalha medieval entre cristão e mouros teve sua primeira edição em 1826, e continua atraindo moradores e turistas no Centro Histórico da cidade goiana.
A festa faz parte da programação da Festa do Divino Espírito Santo, que ocorre durante todo o mês de maio. Nas Cavalhadas, o público assiste a uma representação das batalhas entre cristãos e mouros, que ocorreram durante a ocupação moura na Península Ibérica entre os séculos 9 a 15. Pirenópolis recebe, anualmente, cerca de 1 milhão turistas.
Durante o teatro, dois exércitos com 12 cavaleiros cada se apresentam, encenando a luta. Os personagens aparecem montados em cavalos e com figurinos compostos por armaduras e detalhes em ouro e prata. A festa também conta com mascarados, personagens que se vestem com máscaras e saem às ruas fazendo algazarras. Maria Abadia Muniz, de 83 anos, marca presença nas Cavalhadas em todos os anos. "Desde nova tinham as Cavalhadas. Quando eu era mocinha, todos os anos que havia a festa do divino, tinham as Cavalhadas."
As Cavalhadas ocorrem desde 1826, por iniciativa do padre Manuel Amâncio da Luz. Em um primeiro momento, o espetáculo foi apresentado como "Batalhão de Carlos Magno", em formato de cavalhadas.
A história de Carlos Magno foi atração por séculos na Europa. Por volta do século 13, em Portugal, o evento se tornou uma festividade, composta por uma representação dramática incorporada ao folclore, com o intuito de incentivar a instituição cristã e o repúdio aos mouros.
No Brasil, a representação foi instituída pelos jesuítas, sob autorização da Coroa, com o objetivo de catequizar os escravos africanos. As Cavalhadas ocorrem em todo o país, em diferentes épocas. O ritual dura três dias seguidos.
Sem se identificar, para manter a tradição, um dos mascarados com 20 anos de Cavalhadas ressaltou: "Isso aqui é cultural, é mais do que material. É sentimento, passado de geração em geração". "Ser mascarado é uma oportunidade única. Nós viemos com o espírito de trazer alegria aos turistas, ao pessoal de Pirenópolis. Estamos aí, alegrando as pessoas e cultivando todo mundo", disse um outro ator mascarado, também sem se identificar.
Durante as Cavalhadas, a cidade recebe mais de 25 mil visitantes vindos, principalmente, de Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília. "A Festa do divino espírito santo acontece há 206 anos, com muita tradição. É um período que movimenta bastante a cidade, com visitantes de todo o Brasil. Isso fortalece a nossa cultura e a economia", aponta o secretário de Turismo de Pirenópolis, Sérgio Marcos Rady.
O prefeito da cidade goiana, Nivaldo Antônio de Melo, celebrou a realização das Cavalhadas. "Esse é um evento que motiva todo pirenopolino. É uma festa que mexe com todos, é muito bacana de ver e participar. Fico muito feliz por estar realizando mais uma Festa do Divino Espírito Santo e ver que as famílias gostam de participar".
Investimento
O governador do estado de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) falou sobre a importância do investimento para a perpetuação da tradição das Cavalhadas. "Nós estamos investindo para valer, mantendo a nossa história, tradição e cultura. Quantos municípios não tinham condições de continuar as Cavalhadas? Tinham 11 cidades com a estrutura mais ou menos. Os cavaleiros sem condições, toda a estrutura desajustada. Nós entramos e fomos trabalhando cada dia mais. Hoje, temos 15 cidades resgatando essa história", disse Caiado.
Admiradora da tradição das Cavalhadas, a primeira-dama, Gracinha Caiado, ressalta o crescimento do evento durante a atual gestão. "Além da alegria do povo, as Cavalhadas geram tudo na cidade. Vamos cultivar a cultura e fazer disso uma missão de estado." Ao todo, R$4 milhões foram investidos nas 15 Cavalhadas que ocorrem no Goiás.