Animais

Família da Estrutural abre a mão de sonho para pagar cirurgia de cachorro

Silvaneide e o marido pagaram o tratamento do cão com as moedas que juntaram durante oito meses e que seriam usadas para dar entrada em um carro

Com dinheiro economizado em moedas durante oito meses, um casal que reside na Estrutural deixou o sonho de comprar um carro para impedir que o cão da família perdesse a perna. Os tutores Silvaneide Silva e o marido Giovânio dos Santos chegaram a procurar o Hospital Veterinário Público do Distrito Federal (Hvep) e, sem possibilidade de realizar uma cirurgia de emergência, recorreram a uma clínica particular.

O cachorro Negão da vovó — apelido dado pela tutora — fraturou a pata após fugir, no bairro Chácara Santa Luzia, no dia 4/4. Ao voltar para casa, gemendo de dor e inquieto, os tutores perceberam que o cão estava com o pé contorcido e quebrado. 

Na manhã do dia seguinte, o cão foi atendido e examinado no Hvep. O veterinário confirmou que Negão havia fraturado a perna esquerda e que precisava passar por uma cirurgia. Foi colocada uma tala provisória no animal e doados analgésicos, para que o animal ficasse confortável. Entretanto, segundo a tutora, houve um erro na avaliação de exame de sangue do cachorro, pois o veterinário constatou que o hemograma estava “ótimo”.

Arquivo Pessoal -
Arquivo Pessoal -
Arquivo pessoal -

O médico dispensou o cachorro com a tala que colocaram na pata do animal e orientou a tutora a tentar marcar a cirurgia no Hvep. Após quatro dias, desde a primeira consulta, Silvaneide viu seu cachorro regredindo na recuperação, e sentiu um odor vindo da pata dele. A dona abriu a tala para investigar o mau cheiro na pata e se deparou com uma fratura exposta, jorrando sangue e pus.

O casal retornou ao Hvep, onde analisaram novamente o estado e os exames do cão e, desta vez, o veterinário que estava responsável constatou que o cachorro estava com as plaquetas baixas e precisava passar por uma cirurgia urgentemente, caso contrário, ele perderia a perna. A tutora diz que tentou várias vezes marcar a intervenção cirúrgica na instituição pública, porém, segundo ela, conseguir uma vaga parecia impossível. “Eram poucos procedimentos cirúrgicos por dia, tentávamos pegar a ficha de cirurgia, mas sempre alguém conseguia antes, não havia prioridade para a situação do animal, essa é a norma deles.  Não conseguimos marcar o procedimento pelo site também, lá as vagas sempre estavam preenchidas”, afirma a tutora.

Em nota ao Correio, a comissão de gestão do Hvep disse que o tutor foi orientado a retornar ao hospital no dia útil seguinte (8/4) para realizar uma avaliação ortopédica e realizar a troca da tala, que era apenas para conforto do animal, e que também foi prescrito medicamentos para o animal.

O médico também pediu um exame 4DX, procedimento que solicitaram para confirmação de hemoparasitose. Mas, a instituição não tinha o equipamento na unidade e necessitava que a tutora fizesse o exame em outro local para prosseguir na avaliação e tentar um encaixe para cirurgia.

O hospital explicou que são realizadas duas cirurgias ortopédicas por dia. Uma de emergência e outra de retirada de pino. “Nos deparamos com a realidade de muitas vezes não conseguir atender à demanda, mas fazemos tudo que podemos, que está ao nosso alcance, diante de todo caso”, reforça. 

Decepcionada, Silvaneide procurou um hospital veterinário particular. Lá ela foi informada pelo veterinário que a tala ortopédica não tinha sido bem colocada. “Eles apertaram tanto que a pata do cachorro ficou na carne viva. Eu nunca vi tanto sofrimento e irresponsabilidade daquele hospital”, reclamou.

A tutora negociou com o médico um valor mais baixo para a cirurgia: R$ 2.000 mil, com direito a internação. Para fazer o pagamento, a tutora toda a economia guardada, em moedas, para dar como entrada em um carro. Todas as moedas somaram o valor de R$1050,25, e o restante da cirurgia, a família teve de pegar empréstimo no banco.

O animal ficou internado por três dias, fez a cirurgia e está se recuperando aos poucos. Após o tratamento, o médico receitou remédios que custam na faixa de R$ 1.000. A família não teve condições de pagar e prosseguiu o tratamento apenas cuidando dele, sem medicamentos. O Negão. atualmente, se encontra em recuperação, com a pata inflamada e com os pontos que o veterinário fez. 

Ao Correio, Silvaneide disse que vai tentar juntar o dinheiro novamente para comprar o carro. A tutora gosta de fazer bolos e quer voltar a vendê-los, na tentativa de obter um lucro. “Não vamos parar de tentar até recuperar o dinheiro. Deus vai abençoar a gente, como sempre abençoa e, no dia certo, iremos conseguir”, declarou.

Estagiário sob supervisão Márcia Machado

 

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