O Salão do Artesanato, um verdadeiro "palco" para artistas que optaram por ganhar seu sustento com o que produzem com as mãos e a criatividade, começa quarta-feira (8/5). A expectativa dos organizadores é de que serão gerados R$ 4 milhões em negócios durante a 17ª edição do evento, que vai até domingo (12/5), e que ocorreu pela primeira vez em 2008. Eles calculam que, ao longo da exposição, que estará na área externa do shopping Pátio Brasil, 60 mil pessoas deverão comparecer para ver os trabalhos que ao menos 400 artesãos de 23 estados — mais 100 do DF — apresentarão nessa que é considerada uma dos maiores mostras do setor no Brasil.
Equivoca-se quem imagina que o artesanato seja uma atividade para complementar a renda ou um mero passatempo. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae) indicam haver, nacionalmente, 8,5 milhões de pessoas que vivem do que produzem artesanalmente. Juntas, respondem por 3% do Produto Interno Bruto (PIB), movimentando R$ 50 bilhões anualmente. O Correio conversou com alguns dos que exporão no Salão da capital federal. Eles afirmaram, que graças ao artesanato, encontraram um rumo profissional.
Cleziania Ribeiro, 45 anos, sempre lidou com a transformação da argila. Na infância, via sua mãe produzir copos, vasilhas, pratos com esse material. Agora, ela o usa para fazer estatuetas de santos ou pessoas comuns. "Comecei a trabalhar com argila aos 12 anos e nunca fiz outra coisa (profissionalmente). Fiquei apaixonada. Eu observava a argila e ficava encantada com ela tomando forma. O que me fez começar a entrar nesse mundo (do artesanato foi): pegar argila e transformá-la em arte", afirmou.
Ela, que tem residência na cidade, disse estar contente em voltar a participar do evento em Brasília — no que esteve oito vezes, antes — porque reencontrará amigos de atividade. Comentou que é uma oportunidade para conhecer novas técnicas e trocar experiências, inclusive, de vida, como no caso de Felipe Andrade, 47. "Eu sou um artesão da pandemia. Fui forjado nela", garantiu o "jardineiro de árvores de arame".
Transformação
Andrade — que torce fios de alumínio para fabricar "bonsais metálicos" simulando mini-ipês, em homenagem a Brasília, além de outras espécies da flora — disse que foi essa "descoberta" que o salvou ao ficar desempregado no período de isolamento. "Fui obrigado a me reinventar. Não aguentava a situação de ficar em casa sem nada para fazer. Fui impactado por um vídeo em que pessoas faziam arte com arame. Foi paixão à primeira vista", revelou.
"Descasquei alguns fios (de cobre) velhos (de eletrodomésticos antigos) que tinha em casa e comecei a treinar. Virei várias madrugadas estudando para aprender e, a cada dia que passava, ficava mais fascinado com a arte. Com o tempo, fui pegando o jeito e as árvores começaram a fluir e ganhar elogios da família e de amigos", lembrou.
Ele contou que a maior dificuldade que enfrentou não foi se tornar artista. O maior problema, como disse, esteve em descobrir quanto deveria cobrar. "Esbarrei no processo mais difícil para o artesão que é saber vender. A gente sabe fazer, domina a técnica, mas tem essa dificuldade com a venda", relatou Andrade. Para encontrar a resposta, teve que ir para a rua, literalmente. Foi participando em pequenas feiras e exposições em locais públicos que entendeu o valor de seus produtos.
Perspectiva
O Salão do Artesanato, em 2023, gerou R$ 2 milhões em negócios, de acordo com a organização do encontro. Para este ano, os expositores estão bastante confiantes em que obterão o dobro do faturamento por dois motivos. O primeiro é que o evento nunca parou, nem na pandemia, chegando a ter mais de uma edição por por ano, como será em 2024, para novembro. A segunda razão é que o 17º encontro será na semana do Dia das Mães. "Eu espero uma grande venda. Estaremos alinhados com o Dia das Mães", disse a artesã Cleziania.
A diretora executiva da empresa que promove o salão, Leda Simone, acrescentou um terceiro motivo. "Ano passado, tivemos artesãos de 16 estados. Em 2024, já contamos com a presença de representantes de 23 estados mais o Distrito Federal. Todos querem mostrar a excelência de sua arte. As expectativas estão lá em cima, tanto que temos pedidos para realizar, ainda este ano, mais um salão", disse.
Andrade, o "jardineiro do metal" destacou que "é em eventos como este (do Salão) é que mais pessoas (público e expositores) têm a oportunidade de ver trabalhos magníficos". Ele avaliou que, quando os visitantes conhecem seu trabalho, ele se sente reconhecido como verdadeiro representante de Brasília, o que o deixa gratificado.
* Estagiário sob supervisão
de Manuel Martínez