O clima nas tendas de acolhimento de pacientes com sintomas de dengue, ontem, era de apreensão. Pessoas aguardavam o resultado dos testes e recebiam atendimento, mas o maior receio não era apenas o resultado positivo, mas a evolução da doença para a forma mais grave, que pode causar morte. Segundo dados do boletim do Ministério da Saúde, até a tarde de sexta-feira, o Distrito Federal tinha registrado 308 mortes em decorrência da dengue, além de 52 mortes em investigação e 241.254 casos prováveis da doença.
Depois do uso do paracetamol, que aliviou, momentaneamente, sintomas da provável dengue, o pintor Greiton Manuel Teixeira, 47 anos, se viu obrigado a recorrer à tenda de acolhimento no Guará (montada em frente da UBS 1), na tarde de ontem. "Passei a manhã toda deitado e sem comer nada, por absoluta falta de fome. Acho que esta (possível) dengue está mais forte do que a covid, que tive logo no começo da pandemia", observou.
Na sexta-feira, depois de jornada de trabalho no SIA, Greiton sentiu as condições de sua saúde agravarem após as 19h. A febre chegou na casa dos 39 graus, vieram dores nas juntas, acessos de vômitos e dores de cabeça. Ainda que assustado com a situação, ele contou que tem certo descuido com uso de repelentes. Na triagem médica, o pintor esperava pela possibilidade de fazer exame.
Outro alerta veio com a morte (por dengue hemorrágica), há cinco meses, da filha de um amigo de infância de Gleiton. O morador do Polo de Modas contou que o foco está em todo o lugar. "Vejo muito entulho. Tem muita gente na vizinhança mexendo com reciclagem de material. Isso junta bastante água. Uma tampinha largada é capaz de ser um foco de dengue", lembrou.
Atenção aos sinais
Segundo as orientações do Ministério da Saúde, quem apresentar febre de 39°C a 40°C, com início repentino, combinada com pelo menos dois outros sintomas (dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos), deve buscar atendimento médico imediato.
Após o período febril, que costuma diminuir entre o terceiro e o sétimo dia do início da dengue, é necessário se manter em alerta para os sinais que podem indicar piora na condição, relacionada ao extravasamento grave de plasma, hemorragias severas ou comprometimento grave de órgãos.
Entre os sintomas do agravamento da dengue, existem os que podem ser observados em casa como dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, letargia, irritabilidade e sangramentos de mucosa. Caso observe algum desses aspectos, é importante procurar uma unidade de saúde com urgência.
"Está bem difícil. Veio tudo na sexta-feira, pela manhã, com febre de quase 39º e forte dor de cabeça. Tive que sair mais cedo do trabalho, inclusive. Nunca estive ruim assim: é difícil, dá cansaço para fazer qualquer coisa", explicou, na fila de atendimento da tenda do Guará, o repositor de mercadorias Gabriel dos Santos, 24.
Calores na hora de dormir, alternados com um súbito frio no corpo, tomaram a rotina do jovem que trabalha em panificadora de Águas Claras, e teve que faltar ao trabalho ontem. "Sou muito forte, ficar doente é bem raro; mas tomara que não seja dengue", disse o morador da QI 1 (Guará 1).
"Lá em casa não tem água parada. Aparecem umas coisas meio parecidas com muriçoca, mas não têm como diferenciar do mosquito da dengue", explicou. Depois de tanto susto e dor, ele contou que vai mudar os hábitos: "Vou me cuidar mais, de repente, até usar repelente".