A poucos dias de iniciar o “batidão” de apresentações e competições, a quadrilha Formiga da Roça, atual campeã de Brasília pela Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno e vice-campeã nacional, realizou no último domingo (26/5) o tradicional ensaio aberto para a comunidade em São Sebastião. A ação teve o objetivo de mostrar aos moradores da localidade o que a junina vem preparando para este ciclo junino e promover a troca entre quadrilheiros e familiares.
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Este ano, o grupo apresentará o espetáculo Ser-tão: o clássico em forma de cordel, que viajará no universo lúdico do “Mágico de Oz” adaptado ao sertão brasileiro. “O desafio da Formiga é sempre levar um espetáculo diferente e conseguir transmitir esta mensagem. Este ano, estamos falando da força do povo nordestino representada por personagens da literatura”, afirmou Daniel Brito, marcador do grupo.
A Formiga iniciou os ensaios em janeiro deste ano, mas o espetáculo já estava em produção desde o final do ciclo junino de 2023. “Todos os anos a gente faz esse ensaio da família, como forma de agradecimento e gratidão. A gente abdica de muitos encontros, datas comemorativas e finais de semana por amor à cultura e este é um dos poucos momentos que temos com os nossos parentes e amigos. Quando começa a temporada de apresentações, a gente roda o Distrito Federal e o Brasil com várias apresentações. É o momento também de agradecer e mostrar o resultado ao longo de vários meses de ensaio”, enfatizou Patrese Ricardo, presidente da Formiga da Roça.
A profissional de educação física Jacqueline Teixeira, 24, convidou a mãe, a dona de casa Maria Teixeira Lima, 52, o irmão, o biólogo João Marcos Martins, 27, e a cunhada Letícia Lanuce Martins, 25, para assistir à apresentação. “Esse momento é muito especial. Fico bastante nervosa, como se estivesse em uma etapa de competição. É para os nossos familiares, então a gente tem que entregar o máximo. É amor, não tem como explicar. A gente se doa de corpo e alma e investe tudo para defender a cultura. E a nossa família é a base disso. É o nosso apoio.”
Mesmo tendo trabalhado em um ciclo de plantão de 42 horas, o enfermeiro William de Sousa Oliveira, 29, lavou o rosto, fez a maquiagem e se jogou na apresentação. “Isso aqui é terapia. É o meu refúgio. É onde me sinto renovado e encontro forças para tocar o barco. Quando estou dançando, esqueço de todos os problemas e mergulho de cabeça. É sempre uma correria. Durante as etapas, consigo organizar a rotina no hospital e vou conciliando. Vale muito cada esforço. O pessoal fica falando: ‘Menino, não sei como tu consegue’.”
A mãe dele, a gerente comercial Lúcia Nobre, 59, era uma das mais resistentes na família. “Antes eu não gostava. Acabava os dias dele. O menino era só quadrilha e esquecia de tudo. Me preocupava demais com a saúde dele e com o foco nos estudos. Até hoje eu não sei como ele conseguiu conciliar estudos, trabalho e dança. Mas conseguiu. É como ele fala: isso é terapia. Quando vi que não dei conta, uni forças. Hoje, eu dou o maior apoio. Para mim, é um orgulho muito grande”, relatou Lúcia, acompanhada do namorado, o aposentado José Roberto, 61.
A educadora física Jéssica Maria de Sousa é da cidade de Paranaíba, no Piauí, e veio morar em São Sebastião em 2009 junto com a família. Eles voltaram, e ela ficou. Por aqui, ganhou novos amigos, que considera irmãos, como a analista de sistemas Letícia Silva Amorim, 37, que assistiu atentamente a todas as movimentações do grupo na quadra. “Pra mim, ela é família. A gente mora no mesmo lote há muitos anos e sempre faço questão de assistir às apresentações. Ver ela brilhando é muito emocionante. Tudo que essa menina faz, ela faz bem. Ela enche de emoção. A Formiga é uma grande família que envolve pessoas dentro e fora da quadra. Temos familiares que já participaram.”
“Eu sou piauiense, vim da cidade de Demerval Lobão e moro no Distrito Federal há 22 anos. Quando assisto à quadrilha, sinto como se estivesse sendo teletransportado para a minha cidade, para a minha família e para a minha infância. É uma energia forte. A gente fica sem palavras. Quando vejo minha filha dançando, bate uma alegria enorme no peito. Sou fã número um”, declarou o garçom Antônio Fernandes, 47 anos, pai da quadrilheira Nayra Maisa, 28 anos.
É amor dentro e fora do arraial
Quando descobriu que o amado, o quadrilheiro Dimas Morais, 30, era noivo de uma quadrilha, a admiração do estudante de agronomia João Guilherme, 22, aumentou ainda mais. “Eu sempre gostei de festa junina, e quando conheci o Dimas foi amor à primeira vista. Ele é lindo e se dedica imensamente à cultura. Admiro cada detalhe dele e incentivo todos os passos. Ano que vem, já estou pensando em entrar na quadrilha também”, comentou o rapaz, que não perdia um movimento durante a apresentação.
O casal mora no Jardim do Ingá, na cidade de Luziânia, em Goiás, a quase 60 quilômetros de distância do local onde a Formiga ensaia. “É um desafio maior e muito sentimento envolvido. Fico muito feliz em ter um companheiro que está comigo e compartilha deste sonho. É correria, mas vale muito”, mencionou Dimas, que este ano interpretará o personagem João de Lata.
Vozes aquecidas para as apresentações
Em todas as apresentações do circuito, a Formiga da Roça se apresenta com banda ao vivo. Veterana no “batidão”, a cantora Evelyn Santos ressaltou a importância de estar atenta o tempo todo aos quadrilheiros enquanto canta. “É uma responsabilidade imensa. Se a gente erra, atrapalha a quadrilha inteira. É um desafio enorme, mas que encaro com seriedade. Quando estou cantando, é como se estivesse dançando também.”
“Eu acho que a energia que passa da dança para a gente diz muito sobre a nossa música. É uma energia forte. Parece que todo mundo está conectado nos 220 volts. Durante o período das competições, a gente se preocupa muito em cuidar da voz. Tomar bastante água para aguentar. É uma época de frio e demanda muitos cuidados”, observou o vocalista Dinho Marra.
Mirou na dança e acertou no canto. Foi assim que o estreante Patrick Rian se encontrou na Formiga. Além do desafio de cantar, o jovem também recebeu a missão de dublar os personagens. “Entrei para dançar, mas minha parceira começou a faltar e depois desistiu. Corri para a produção, e foi aí que os meninos descobriram que eu tinha cantado em um coral de igreja. E aí, de repente, estava na banda da Formiga. É o meu primeiro ano e tem sido muito emocionante. Vou dar o meu melhor.”
Assista ao vídeo especial da apresentação
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