Entrou na lista de procurados da Interpol Lucas Fernando Simões, 35 anos, apontado como líder de uma organização criminosa especializada no golpe dos falsos leilões de carros. O mandado de prisão internacional foi expedido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que, há um mês, por meio da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) realizou a Operação 3 Minute Rule!, responsável por desarticular a quadrilha, sediada em São Paulo.
A organização criminosa vitimou centenas de pessoas — 71 apenas no DF — e os prejuízos, somados, chegam a R$ 780.000,00. Os bloqueios judiciais conseguiram encontrar aproximadamente R$ 1,8 milhão nas contas dos envolvidos, o que permitirá o ressarcimento integral do prejuízo de todas as vítimas do DF.
Durante a operação, foram cumpridos, em São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo, 12 mandados de prisão, 10 mandados de busca e apreensão, 50 bloqueios de contas bancárias e derrubada de 540 domínios de sites falsos. À época, o líder da quadrilha conseguiu escapar, na véspera da operação, para Miami (EUA), onde possui lojas de aluguel de veículos.
Junto à Interpol, a autoridade policial à frente da investigação conseguiu obter a publicação de uma difusão vermelha (red notice), em que o meio jurídico pelo qual um mandado de prisão preventiva expedido pelo Brasil pode ser cumprido em qualquer um dos 195 países membros. A difusão vermelha demanda a satisfação de uma série de condições estabelecidas em tratados internacionais, sendo uma medida excepcional de difícil obtenção e publicada somente após a verificação de sua conformidade pelo escritório central da Interpol, em Lyon/França.
“Temos mantido contato com o serviço secreto americano e interlocução com a Interpol com vistas a capturar esse criminoso e extraditá-lo ao Brasil onde possui contas a acertar com a Justiça brasileira. Além disso, obtivemos ordem judicial para apreensão cautelar do passaporte da esposa desse criminoso que responde por envolvimento em lavagem de dinheiro, objetivando impedir que também fuja para o exterior e se junte ao seu marido”, detalhou o delegado Erick Sallum.
Como o grupo agia
A organização alvo da operação operava há pelo menos cinco anos com o conhecido golpe do falso site de leilões de carros. Para realizar o esquema, os criminosos selecionavam websites reais de empresas famosas do ramo de leilão de veículos e os clonavam, criando outros idênticos. Apenas a extensão de endereço era trocada — enquanto os sites legítimos tinham terminação em “.com.br”, os clonados, com a mesma aparência, terminavam em “.net”.
Após copiar os sites, os criminosos pagavam empresas de marketing digital para impulsionar os endereços falsos em mecanismos de pesquisa como o Google. Dessa forma, quando uma pessoa procurava pela empresa real, nos primeiros resultados da lista de pesquisa aparecia o site clonado. Nos portais falsos, havia telefones de contato e as vítimas interagiam com os criminosos pelo WhatsApp, crendo que negociavam com a empresa real. O grupo enviava falsas notas de arrematação para as vítimas, que só percebiam o golpe meses depois, quando o carro não era entregue. Ao perceberem que foram lesados, as vítimas tentavam contatar os golpistas, mas não obtinham sucesso, pois os criminosos bloqueavam o telefone.
O escritório onde os crimes aconteciam ficava localizado em uma sala alugada, num prédio comercial em Santo André, onde as buscas aconteceram nesta quinta (25/4). Na sala, os criminosos batiam ponto das 8h às 18h, passando o dia inteiro aplicando golpes em vítimas de todo o Brasil, com uma jornada de trabalho semelhante a de uma empresa real.
Depois de usar um mesmo nome falso em muitos golpes, a empresa começava a perder credibilidade por acumular muitos registros em sites de reclamação. Então, o grupo criava um novo site com o nome de outra empresa, ainda desconhecida. Em muitos portais, o grupo inseria até mesmo o brasão do TJDFT, para dar um verniz de credibilidade e fingirem estar autorizados a atuar na área. Os investigadores conseguiram mapear cerca de 540 websites maliciosos que eram mantidos em estoque pelo mesmo grupo criminoso. Apenas na 9ª DP, foram registradas 10 ocorrências com prejuízos somados em R$ 470.000.
Para além dos registros recebidos, a polícia acredita que existam centenas de outras vítimas espalhadas por todo território nacional. Na manhã desta quinta (25/4), em cumprimento a ordem judicial, a PCDF derrubou todos os 540 websites maliciosos, bem como os demais serviços de hospedagem que o grupo possuía contratado em Data Centers. Durante a operação, realizaram, ainda, bloqueios de contas bancárias, apreensão de veículos e outros bens como um jet-ski, com a finalidade de reverter os valores em benefício das vítimas.
A investigação também mapeou um laranjal de contas bancárias em mais de 10 instituições financeiras diferentes. As múltiplas contas correntes eram usadas pelos criminosos para receber os valores e depois fragmentá-los em diversas transferências subsequentes, dificultando o rastreio. Em maioria, as contas eram titularizadas por indivíduos residentes em comunidades do Rio de Janeiro, mais uma estratégia dos criminosos na tentativa de direcionar a investigação para o outro estado quando, na verdade, estavam sediados no estado de São Paulo.
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