O Brasil tem presenciado uma das maiores crises humanitárias do país desde que o Rio Grande do Sul começou a enfrentar os efeitos das fortes chuvas. Há municípios submersos. De acordo com dados emitidos pela Defesa Civil estadual gaúcha, nesta terça-feira (7/5), o número de mortos subiu para 95 pessoas, outras 361 ficaram feridas e 131 estão desaparecidas. Ao todo, 160 mil estão desalojadas e 48.147 foram encaminhadas para abrigos públicos. São 401 cidades afetadas.
A Base Aérea da Aeronáutica, no Aeroporto de Brasília, tem recebido doações de milhares de brasilienses, que vêm acompanhando a catástrofe. Moradores de diversas regiões do DF tiraram um tempo do dia para prestar solidariedade ao povo gaúcho. Uma enorme fila de carros se formou no local desde as primeiras horas. Organizados por militares, os brasilienses esperavam para descarregar os veículos com donativos.
Emocionado, o gaúcho João Batista dos Santos, 58 anos, levou 10 cestas básicas ao local. "Estou fora do estado há 25 anos, mas quero contribuir. É muito comovente ver a cidade na qual passei a minha infância, agora debaixo d'água", disse com a voz embargada.
O chefe do Centro de Comunicação da FAB, brigadeiro Daniel, conta que toda a equipe vem trabalhando desde o último sábado (4/5). Na segunda-feira (6/5), um avião saiu da capital com aproximadamente 20 toneladas de doações. "Nós estamos percebendo um engajamento social, um grande movimento dessa corrente de solidariedade e isso mostra todo o espírito do povo brasileiro, que se une para ajudar", disse. "A FAB tem feito parte de um todo e capitaneado tudo isso que tem gerado bons frutos", afirma.
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A militar Suelen Zucareli, 36, chegou com o porta-malas do carro com 16 engradados de água para doar no local. "Eu acho que se fosse com a gente, gostaríamos de estar sendo tratados assim, tem muita criança, animal, que vemos nos vídeos. Eles sendo levados pela água, não tem como não se sensibilizar, e não custa nada, o dinheiro que a gente gastou aqui é o dinheiro que muitas vezes se gasta em um restaurante", conta. "Eu gostaria de estar lá ajudando pessoalmente, mas, já que não posso, essa é a forma que eu encontro de ajudar", aponta.
Carolina Dias, 26, se emocionou ao ver a fila de carros para fazer doações. "Toda essa situação mexe muito comigo e, mesmo sem ter parentes por lá, eu me compadeço completamente da situação. Fui ao supermercado e comprei água, fraldas e itens de higiene pessoal", destaca. "Realmente é muito bonito ver a união que o brasileiro está tendo neste momento", acrescenta.
Erik dos Santos, 42, acredita que neste momento todos precisam se unir e, mesmo que não resolva a situação, ameniza o sofrimento do outro. Ele fez uma doação de 450 litros de água e itens de higiene: 50 escovas, 50 pastas de dentes, quatro sacos de fralda. "Eu me reuni com amigos para arrecadar dinheiro e fui ao mercado comprar os donativos", detalha. "E sentimento muito triste, porque a gente consegue se colocar no lugar do outro e se sente impotente para dar uma solução mais definitiva para o problema", diz.
A força das mulheres
Mulheres de militares têm se unido na Base Aérea para ordenar as doações de roupas que chegam diariamente à FAB. Ficam muitas por horas sentadas no chão, não medem esforços para apoiar. Viviane Diamantino é esposa de um general de Exército e se uniu a outras 30 mulheres nesta força-tarefa. "Eu sou do Sul e, em meio a essa tragédia, não poderia ficar sem fazer nada. Comecei a pensar o que eu poderia fazer para ajudar e aqui eu estou. Juntamos mulheres para separar os donativos, porque está chegando muita coisa, ainda bem", conta. "As roupas vêm, em muitos casos, misturadas. Temos que ajudar para chegar lá (no Sul) ordenado: o que é roupa de mulher, o que é de homem, além dos sapatos", explica.
Ela aponta que a melhor forma de se enviar roupas é sempre identificá-las antes de doar — a faixa etária e para que sexo serve aquela roupa — embrulhá-las em sacos grossos e não colocá-las em apenas um saco só. "Sapatos unidos ou amarrados por fita, esse tipo de detalhe ajuda bastante no envio", disse Viviane.
Atenção!
As autoridades alertam para pessoas que fingem estar arrecadando dinheiro para comprar donativos. Procure sempre se reunir com pessoas conhecidas para se juntar a essa corrente do bem.
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