O motorista do ônibus atingido por um trem em um cruzamento com a linha férrea no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), em novembro do ano passado, teve atuação culposa (sem intenção) ao desrespeitar a sinalização de parada obrigatória, segundo a conclusão do inquérito do caso.
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O laudo concluiu que o motorista do ônibus foi o único responsável pelo acidente, descartando qualquer falha por parte do maquinista do trem, que agiu dentro das normativas técnicas aplicáveis. Diante das evidências, o motorista foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, na direção de veículo automotor, no exercício de sua profissão, que prevê o transporte de passageiros, além de lesão corporal.
De acordo com a investigação, o condutor avançou sobre os trilhos do trem em um momento crítico, comprometendo a segurança do tráfego ferroviário, que tem prioridade de passagem conforme estipulado no parágrafo XII do Art. 29 da Lei no 9.503/97 do Código de Trânsito Brasileiro. O acidente resultou na morte imediata de Júlia Albuquerque Violato, 37 anos, que foi arremessada para fora do veículo com o impacto.
A mãe de Júlia, Ana Rosa de Albuquerque, 72 anos, disse ao Correio não estar surpresa com a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). "Eu tinha certeza que ele era o responsável. Desde o primeiro dia, nunca tive dúvidas", declarou Ana, que também reclama da falta de assistência dada pela empresa Marechal, responsável pela linha na qual o ônibus operava. "Não tiveram o menor interesse na minha perda. Só entraram em contato comigo quando passei a aparecer na imprensa", lembra.
Cinco meses depois da fatalidade, Ana Rosa diz ter dificuldades para aceitar a perda da filha no acidente. "Estou tomando antidepressivo e frequentando a terapia. Também estou tentando me ocupar com os afazeres da casa para aguentar a dor. Ela era minha única filha e companheira", lamenta.
Inquérito
Conforme investigação da PCDF, na qual foram analisadas provas testemunhais e periciais, a conduta do motorista ao conduzir o ônibus em primeira marcha e não executar manobras evasivas adequadas, mesmo tendo tempo e espaço para tal, contribuiu diretamente para a fatalidade. A colisão poderia ter sido evitada se o motorista tivesse adotado medidas de segurança apropriadas para remover o ônibus da linha férrea em tempo hábil.
A tragédia ocorreu no fim da tarde de uma sexta-feira, 17 de novembro, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Segundo testemunhas, o ônibus da empresa Marechal estava em cima da linha do metrô quando o sinal fechou e não deu tempo de o condutor sair de cima da pista. Quando o trem colidiu, arrastou a traseira do veículo.
Após a divulgação da conclusão do inquérito, o Correio entrou em contato com a empresa Marechal, que disse que não vai comentar sobre o resultado da investigação.
Trilhos
O Correio Braziliense retornou, na tarde de ontem, ao local do acidente e observou um fluxo intenso de carros passando sobre o trilho. Muitos motoristas respeitaram a sinalização e não pararam em cima da linha férrea. No entanto, também houve flagrantes de irresponsabilidade.
O motorista de um caminhão ficou mais de 30 segundos em cima do trilho, não calculou o tamanho do caminhão e ficou com parte da sua carroceria em cima da linha, podendo causar um novo acidente.
Augusto Damião, 31 anos, costuma passar por essa região no SIA e opina sobre o que precisa ser feito para evitar acidentes, como o do ano passado, que vitimou Júlia. "Primeiramente deve acontecer uma conscientização por parte dos motoristas, deve haver uma melhor sinalização no asfalto, pois está apagada, e quem sabe um letreiro luminoso, com mensagens alertando para o perigo de parar em cima do trilho do trem e em quanto tempo o trem vai passar", comenta.
* Colaborou Alessandro de Oliveiro, estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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