De janeiro a 9 de abril, as forças de segurança do Distrito Federal apreenderam mais de 600kg de maconha e cocaína, segundo levantamento da Polícia Civil (PCDF). Ontem, policiais civis do DF, de São Paulo e do Rio de Janeiro prenderam sete pessoas de uma quadrilha por tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e crime contra a saúde pública. Entre elas, três influenciadoras digitais na capital do país. A investigação ocorreu durante a Operação Refil Verde, associada à Operação Nárke — que visa combater o tráfico de drogas e crimes relacionados — do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
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A organização criminosa adquiria, de fornecedores dos Estados Unidos, óleo de canabis para cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes. Pela fronteira com o Paraguai, o insumo chegava à Foz do Iguaçu (PR) em potes de cera de depilação. Enviado a São Paulo, o óleo era misturado a solventes e aromatizantes e, depois, envasado em refis de cigarro eletrônico, comprados da China, e frascos de canabidiol para ser distribuído em vários estados.
"Nos chamou atenção que esta foi a primeira vez em que apreendemos, em grande quantidade, este óleo destinado a uso em vape, considerando que a Anvisa reforçou a proibição de cigarros eletrônicos no Brasil", destacou o delegado Rogério Henrique de Oliveira, coordenador da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord). "É importante ressaltar que a pessoa que adquire esse produto, além de consumir THC (psicoativo encontrado na planta), também consome cera e produtos químicos nocivos. Então, trata-se de uma questão de saúde pública muito séria", completou.
No Rio, profissionais em tecnologia mantinham sites da organização, além de criarem empresas fantasmas e documentos falsos, utilizando deepfake (técnica que permite alterar um vídeo ou foto com ajuda de inteligência artificial) para abrir contas bancárias em nome de terceiros e possibilitar a movimentação do dinheiro. Na ocasião da investigação, um desenvolvedor de software foi preso, visto que em sua casa também foram encontrados refis do óleo.
A venda ocorria por meio de sites e redes sociais, onde o grupo alegava que as drogas possuiam funções terapêuticas. No DF, três influenciadoras digitais eram responsáveis por fazer a propaganda dos entorpecentes em seus perfis nas redes sociais. "Elas falavam dos benefícios da droga e da confiabilidade do site, empregando certa credibilidade. Diziam abertamente que se tratava de canabis", disse o delegado.
Encomendas
A investigação começou há cerca de um ano, com uma simples apreensão, feita pelos Correios, de uma encomenda do óleo, com dois refis. A PCDF conseguiu traçar o caminho do criminoso e passou a acompanhar a organização, que movimentava cerca de R$ 2 milhões por mês. Na última terça-feira, foram retidas 160 encomendas do produto em uma agência dos Correios em São Paulo. Três pessoas foram presas na região.
"Até as mulas que postavam os produtos nos Correios conduziam veículos de luxo. Chama a atenção a participação ativa de mulheres, não somente atuando como colaboradoras de seus companheiros, mas exercendo também liderança nas ações criminosas", enfatizou o coordenador da Cord. "Além disso, o grupo, para promover a venda das drogas, tentava atingir um público maior, alegando funções terapêuticas para os produtos. Uma falsa propaganda", completou.
Um casal, líder da organização criminosa, também de São Paulo, foi identificado, mas segue foragido. "O advogado entrou em contato com a polícia para negociar a apresentação deles. Ainda não sabemos há quanto tempo agiam, mas há indícios de que eles enviavam produtos para influenciadores de outros estados". Os próximos passos da investigação incluem tirar os dois sites de vendas do ar e, em São Paulo, periciar o material contido nos refis.
As influenciadoras envolvidas no caso são Rhaynara Didoff, que se apresentava nas redes como atriz, cantora e humorista, contabilizando quase 40 mil seguidores; Elisa de Araújo Marden, que se apresentava como empresária, com cerca de seis mil seguidores; e Letícia Susane Correia Castro, com 34 mil seguidores. A Cord vai levantar, nos próximos dias de investigação, se elas eram remuneradas por percentual de venda ou se havia um pagamento mensal. Elas foram presas e vão responder por tráfico de drogas, segundo o delegado.
Defesa
A defesa de Rhaynara Didoff e Elisa de Araújo Marden, representada pelos advogados Luís Gustavo Delgado Barros, Caio Vitor Gomes Nogueira e Fabrício Martins Chaves Lucas, solicitou acesso ao inquérito policial, perante o juiz da 5ª Vara de Entorpecentes, responsável pelo caso.
"Diante do que se tem até o momento, acreditamos que a prisão é desnecessária. Vamos analisar os autos e definir como será a tese da defesa. Certamente, faremos o pedido de liberdade, especialmente para Elisa, que tem filho menor de idade e depende dos cuidados dela. Ainda não sabemos até que ponto elas estão envolvidas nesta dinâmica do grupo criminoso. Ao que tudo indica, eram apenas pessoas que divulgavam os produtos, sem relação com o crime", destaca nota dos advogados.
A defesa de Letícia Susane, representada pelos advogados Gabriel Dutra Pietricovsky e Wagner de Melo, afirmou que vai rebater todas as acusações na audiência de custódia, que será realizada hoje. "A defesa vai falar do perfil dos acusados, se são pessoas com carteira assinada, se têm filhos, se estudam, se trazem risco para a sociedade. Estamos disponíveis para esclarecer todos os fatos e provar a inocência da acusada", diz, em nota.
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Memória
Maio de 2023: uma megaoperação cumpriu 80 mandados de busca e apreensão e 14 de prisão temporária no Distrito Federal e em estados, como Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Ceará e Minas Gerais. Denominada Operação IL Padrino, a ação também resultou no bloqueio de dezenas de contas bancárias, com sequestro judicial de valores, cinco imóveis e 20 veículos de luxo. A organização criminosa estava envolvida no transporte de cocaína da fronteira do Brasil com demais países da América Latina até o DF. Segundo as investigações, o grupo atuava na compra, venda, transporte, armazenagem e distribuição de cocaína e drogas sintéticas entre Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e o DF.
Abril de 2023: policiais prenderam 11 pessoas e cumpriram 20 mandados de busca e apreensão domiciliar contra um grupo acusado de tráfico interestadual de drogas. Em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apreendeu 1,7 toneladas de maconha em junho de 2022 e mais 150kg em fevereiro de 2023. Com as apreensões, a Cord descobriu que o grupo criminoso investigado era o financiador do transporte das cargas de maconha apreendidas pela PRF e responsável pela distribuição no DF.
Dezembro de 2023: a Cord desarticulou uma organização criminosa interestadual (Orcrim) especializada no tráfico de medicamentos de uso veterinário, conhecido como Ketamina, em grande escala. O medicamento controlado tem na composição a cetamina, substância que, quando desidratada, é vendida como droga e ganha a denominação de Ketamina, ou "Key". Trata-se de uma droga consumida em festivais e raves. À época, os policiais cumpriram 23 mandados de busca e apreensão em residências e comércios ligados à Orcrim, sendo 14 em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro e quatro em Brasília, além de seis mandados de prisão, quatro em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Houve, ainda, outros cinco mandados de busca e apreensão de veículos (quatro em São Paulo e um no DF) e bloqueios de diversas contas bancárias.
Março de 2024: um homem de 22 anos foi preso no Recanto das Emas após ser flagrado com uma grande quantidade de skunk durante uma operação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Cord. Os entorpecentes foram descobertos após os agentes ordenarem a parada ao condutor de um veículo que apresentava sinais de adulteração na placa. Segundo a PCDF, o motorista desobedeceu a ordem e desencadeou uma perseguição por mais de 20 quilômetros. O homem foi detido somente quando perdeu o controle do veículo e colidiu contra um poste. Durante a ação, os policiais encontraram aproximadamente 100kg de skunk, com valor estimado em R$ 3 milhões.
Entorpecentes apreendidos pelas forças de segurança do DF
Maconha
2020: 8.242,999
2021: 10.193,901
2022: 6.686,013
2023: 10.327,198
2024: 507,931
Cocaína
2020: 232,401
2021: 304,480
2022: 429,016
2023: 519,667
2024: 95,496
Crack
2020: 137,058
2021: 121,710
2022: 144,475
2023: 1,150
2024: 0,005
Haxixe e skunk
2020: 84,722
2021: 108,889
2022: 36,295
2023: 0,016
* janeiro a 9 de abril de 2024