CONFUSÃO

Pacientes sem atendimento depredam Upa do Recanto das Emas

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram caos na unidade de saúde, após confusão por falta de atendimento. Um vigilante ficou ferido

Pacientes irritados com a demora no atendimento na UPA do Recanto das Emas causaram transtornos ao depredar a unidade de saúde na noite de ontem (22/4). Imagens divulgadas nas redes sociais mostram a briga entre vigilantes e pacientes, que partiram para a agressão física. Portas quebradas, equipamentos jogados no chão, gritaria e desespero tomaram conta do local.

Kenia de Mello Oliveira, 40 anos, explica que o estopim da situação ocorreu por volta de 21h30, quando um vigilante desferiu golpes de cassetete contra seu marido. Davyd Neres Duarte, 33, havia pedido, segundo ela, um termômetro para medir a febre do filho Bryan Christopher Mello Duarte, 3. A criança, que estava no colo do pai, é autista e tem direito a atendimento prioritário, conforme previsto na Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA).

A mãe de Bryan relata que a ficha de cadastro do filho foi realizada por volta de 19h50. “De imediato, já identifiquei que ele é autista, pediram para aguardamos a triagem. Passou uma hora e meia e o quadro de febre dele piorou”, disse. A essa altura, o menino ainda não havia pego pulseira de classificação para o atendimento, e Kenia chamou três vezes o responsável noturno da unidade para obter respostas.

“O gerente mandou o vigilante avisar que se eu quisesse atendimento teria que ligar no 190. Mostrei a carteirinha do meu filho para o vigilante, o Bryan estava quase convulsionando de febre no colo no pai dele”, indignou-se a brigadista. Em seguida, Davyd pediu um termômetro ao funcionário, que recusou. Quando o pai se aproximou da entrada dos consultórios, o vigilante “levantou o cassetete”, afirmou Kenia. “Ele começou a bater no meu marido e um dos golpes pegou no meu filho. A outra vigilante começou a dar choque com taser nele. As imagens falam por si”, completou.

 


Kenia reforça que o marido não foi responsável pela depredação da unidade. “O pessoal viu aquela situação e começou a se rebelar e destruir as coisas”, ressaltou. Outra paciente que estava no local diz ter presenciado o ocorrido.

"O pessoal já tinha reclamado bastante. Parece que houve um descaso, acho que um vigilante falou alguma coisa com um pai e aí causou a revolta. Como deu muita confusão, muita briga, eu já fui lá pro lado de fora. Só ouvia o barulho da quebradeira, da gritaria, das crianças, os idosos saindo correndo, todo mundo desesperado", descreveu Aluciente Peixoto, 40.

No vídeo, ouve-se Kenia gritando: “(Ele) está com uma criança no colo, por favor!”, chorou. Em seguida, há mais correria.

"Ontem, havia dois pediatras antes da confusão, mas como o atendimento já estava congestionado o dia todo, motivou essa tensão", destacou Aluciente, que retornou para a unidade, às 8h desta manhã, para conseguir atendimento.

Kenia também retornou à UPA do Recanto das Emas com Bryan. A moradora do Richo Fundo II disse que toda vez que vai à unidade tem problemas, mas segue procurando atendimento no local por falta de opção. “Se eu tivesse (outra opção), com certeza iria em outro lugar”, ressaltou.

A mãe de Bryan afirmou que o atendimento ocorreu rapidamente nesta terça-feira (23/4), devido à repercussão da situação, e a presença de autoridades e da imprensa na UPA. “Se tivéssemos recebido esse atendimento ontem, com certeza a população não teria se rebelado”, concluiu.

IgesDF

Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) informou que, durante o período, a unidade encontrava-se funcionando com três pediatras e cinco médicos clínicos. Devido ao fechamento da tenda de dengue no Recanto das Emas, a UPA absorveu toda a demanda e, apesar de estar operando muito acima de sua capacidade, não foi negado atendimento a ninguém.

A UPA foi reaberta nesta terça-feira (23/4). A administração da unidade avisou que não há pediatra disponível, devido à superlotação. Neste momento, está sendo realizado atendimento somente na clínica médica, mas o clima segue hostil entre funcionários e pacientes. "No momento, a pediatria encontra-se com restrição de atendimento para casos gravíssimos. Pacientes que sejam classificados como laranja devem voltar a ser atendidos na parte da tarde", informou o IgesDF. 

Na nota, o instituto afirmou também que "repudia episódios como esse em que trabalhadores são impedidos de cumprirem sua missão, que é de salvar vidas, por serem agredidos covardemente por pessoas que também aguardam seus préstimos à saúde. Esse tipo de reação não resolve o atendimento e cria um ambiente hostil tanto para os colaboradores comprometidos em ajudar o próximo quanto para os pacientes que aguardam seus atendimentos de forma respeitosa. Com a confusão, a polícia foi acionada e o atendimento na unidade foi interrompido. Os prejuízos ainda estão sendo calculados". 

O instituto informou ainda que "estamos acompanhando e investigando atentamente o ocorrido, comprometendo-nos a colaborar integralmente com as autoridades competentes. Temos monitorado cuidadosamente os casos de agressões enfrentados pelos nossos profissionais de saúde. Todas as nossas unidades trabalham com equipe de segurança para garantir a proteção tanto das instalações quanto dos funcionários. Essa medida visa coibir e reduzir tais ocorrências, contribuindo para uma assistência mais eficiente."

Polícia

O 27º Batalhão de Polícia Militar (27º BPM) foi acionado via COPOM para atender à ocorrência na UPA do Recanto das Emas. Chegando ao local, os policiais encontraram um vigilante ferido na lateral da testa e diversas evidências de danos às instalações da unidade.

Segundo testemunhas ouvidas pela equipe, um homem feriu o segurança com uma pedra, enquanto uma adolescente atacou os profissionais de saúde com um pedaço de madeira, sem relação aparente com o homem.

Ambos foram presos e levados para delegacias diferentes: o homem para o 27º DP e a adolescente para a Delegacia da Criança e do Adolescente II de Taguatinga.

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