Era ditadura quando chegou a Brasília, no ano de 1979, o presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), desembargador José Cruz Macedo. Então recém-formado em direito, ele já enxergava nos fervilhantes movimentos estudantis da época uma oportunidade para lutar pela democracia. Natural do município de Mauriti, no Ceará, veio para a capital do país a convite da irmã Luíza, que morava por aqui.
"Fiquei impressionado com a capital. Uma cidade diferente de todas as outras que havia conhecido. Um lugar surpreendente", declara o desembargador. "Aqui, eu tenho orgulho de ter assistido grandes momentos da vida nacional acontecerem", acrescenta. No período anterior à redemocratização, que aconteceu em 1985, Cruz Macedo se envolveu em movimentos em favor das eleições diretas. "Vivi grandes momentos em Brasília, o maior deles foi a retomada da democracia", orgulha-se.
O encanto com a cidade se completou quando Cruz Macedo viu Brasília ser tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987. "Eu estava aqui e vi esse momento importante para a cidade. Brasília é uma cidade monumental, é diferente das outras, é escandalosamente bonita", elogia. "Tenho orgulho de ter acompanhado também as regiões administrativas surgindo e crescendo, além da instalação dos fóruns em todas elas", acrescenta.
Constituinte
O desembargador lembra, com orgulho, do período em que atuou na Assembleia Nacional Constituinte. Trabalhou com um dos primeiros deputados federais eleitos pelo Distrito Federal, o advogado Sigmaringa Seixas, e, com ele, teve a oportunidade de ajudar na elaboração da Constituição de 1988. "Sigmaringa foi uma liderança muito importante para Brasília, um líder correto que defendia, acima de tudo, os direitos humanos", relembra.
Em 2002, após 21 anos advogando e usando o saber jurídico para lutar pela democracia, Cruz Macedo foi nomeado desembargador do TJDFT. Em 2022, os pares o elegeram para presidir a Casa. Prestes a transferir a presidência, o magistrado faz um balanço dos desafios enfrentados nos últimos dois anos à frente do comando da Casa.
Uma das suas prioridades foi manter a celeridade jurisdicional. "No Brasil, os processos costumam demorar muito, mas esse não é o caso de Brasília. O TJDFT é um dos tribunais mais céleres do Brasil. Nossa média de julgamento de processo é em torno de dois anos, no máximo. A maioria é decidida antes disso. Tanto que fomos agraciados com o prêmio Diamante do CNJ", destaca, referindo-se à premiação concedida pelo Conselho Nacional de Justiça que utiliza uma metodologia de avaliação dos tribunais sob o olhar do acompanhamento das políticas judiciárias, eficiência, gestão e organização de dados.
Cruz Macedo também manteve um olhar atento ao combate à violência contra a mulher. "Não há nenhum autor de feminicídio solto. Ou faleceram ou estão presos", atesta o desembargador, segundo cearense a presidir o TJDFT. O primeiro foi José Colombo de Sousa, que presidiu o tribunal no biênio 1970-1972. Agora, passará o comando da casa para o conterrâneo Waldir Leôncio. "Pela primeira vez na história um cearense vai transmitir a presidência do TJDFT para outro cearense", comemora.
Cidadão honorário
No último dia 11 de abril, Cruz Macedo foi homenageado com o título de Cidadão Honorário de Brasília. "Aprendi com meus pais que a melhor maneira de vencer na vida é ter fé, ser correto, estudar, trabalhar muito, ter coragem de enfrentar qualquer dificuldade e não desistir. Com esse objetivo vim para Brasília e posso garantir que aqui sou muito feliz", agradece o presidente do TJDFT.
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