Aniversário de Brasília

Pioneira, Cosete Ramos conta como Brasília cativa e transforma seus moradores

A educadora Cosete Ramos chegou à capital poucos dias antes da inauguração e, em suas palavras, se apaixonou até pelo vento candango

"O meu amor por Brasília nasceu em um banho de poeira que eu tomei num redemoinho, logo que cheguei, enquanto passeava com os meus pais pela W3. Toda a terra bendita do Cerrado impregnou em mim", declara Cosete Ramos, 82 anos, que chegou a Brasília aos 17, poucos dias antes da inauguração da nova capital. Junto à família, passou a viver no Plano Piloto e, mais tarde, tornou-se uma das primeiras professoras do Distrito Federal. Apreciadora de cada lado do quadrado, Cosete contou ao Correio como Brasília a cativou e a transformou na mulher que é hoje.

Filha de Ruy Ramos, à época deputado federal pelo Rio Grande do Sul, a educadora teve o privilégio de acompanhar de perto a cerimônia de transferência da capital. Conta, com brilho nos olhos e tamanha empolgação, que Sarah Kubitschek a recebeu na entrada do baile no Palácio do Planalto. "Eu estava tremendo. Dona Sarah tomou as minhas mãos geladas e sentiu minha emoção. Que belo sorriso recebi! Nunca me esquecerei…"

Durante a entrevista, Cosete lamentou várias vezes não ser brasiliense de sangue. Nascida em Alegrete, no Rio Grande do Sul, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 9 anos, quando o pai foi eleito deputado, e chegou a Brasília na adolescência. Filha de professora de geografia, sabia que toda a novidade compunha, na verdade, um cenário histórico. "Mesmo sendo uma mocinha, eu tinha noção de que nunca mais esqueceria daqueles dias. Meus pais a todo o momento me ensinavam isso", declara. 

Ed Alves/CB/DA.Press -

À época, estudante do segundo grau (hoje ensino médio), foi uma das primeiras alunas do Centro de Ensino Fundamental Caseb e formou-se na primeira turma de normalistas da escola. Em sua formatura, Cosete foi escolhida para ser a oradora. Usou a oportunidade para agradecer a JK por todos os feitos, que ela admirava antes mesmo de serem concretizados. Enquanto a ouvia, o presidente se emocionou. O discurso de Cosete foi estampado no Correio no dia posterior à celebração. "JK deixou de lado o texto pronto que tinha levado e discursou em cima do meu. Quando acabou, sentou e escreveu uma mensagem para mim", relata. A mensagem de Kubitschek impulsionou a vontade que Cosete tinha de fazer a diferença na capital.

Estudou pedagogia na Universidade de Brasília (UnB), foi a primeira professora da Escola de Aplicação, deu aula na Escola Normal e depois ministrou aulas na universidade. Fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, atuou por 25 anos no Ministério da Educação (MEC) e escreveu mais de 60 livros. "Hoje, eu acho que eu mereço o discurso que o JK fez para mim. Eu acho que eu ajudei o destino da educação de Brasília."

Brasília criou Cosete como profissional e Cosete criou apreço por cada pedaço de Brasília. "São 64 anos de felicidade que eu vivi nesta cidade maravilhosa. Brasília é ímpar — não há outra igual no mundo", declara. A pioneira é mãe de dois filhos, Denise Gebrim e Eduardo Rui, e avó de duas netas, todos brasilienses. 

Um amor sem fronteiras

Em 2017, Cosete idealizou a Aliança das Mulheres que Amam Brasília (AMA Brasília), com o propósito de unir mulheres para cuidar da capital. Mais tarde, em 2021, durante a pandemia, surgiu a ideia de incentivar o sentimento de felicidade em Brasília, portanto, lançou o Movimento Brasília Capital da Felicidade.

Inspirada nos critérios da Organização das Nações Unidas (ONU), com o propósito de tornar Brasília a Capital da Felicidade, a professora ampliou o público e convidou homens para participarem da iniciativa também. "Agora, nós sonhamos com a criação de uma Secretaria de Estado da Felicidade no DF, com o objetivo de promover o bem-estar da população e a longevidade saudável", informa.

Mais Lidas

JK discursa para Cosete

“A solenidade por si só justificava a emoção que senti: formatura das primeiras mestras de Brasília. O discurso da oradora da turma, Cosete Martins Ramos, trouxe, entretanto, uma nota admirável à reunião: revelou tal altura intelectual, tal maturidade de cultura que olho agora mais tranqüilo o destino da educação no Planalto.”
Brasília 15 – 12 - 60
Juscelino Kubistchek