A Justiça determinou, nesta quarta-feira (10/4), que o Distrito Federal deve conceder internação de um jovem de 24 anos em leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de hospital público ou particular. Fernando Wisllys de Sousa Ferreira, que é um paciente rim único, está internado há mais de uma semana na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia, com quadro de nefrite túbulo-intersticial, que é uma inflamação que afeta os túbulos renais e os tecidos que circundam os rins.
A decisão que determina a transferência do paciente foi assinada pelo juiz José Rodrigues Chaveiro Filho, do 3º Juizado Especial da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
Ao Correio, a mãe do Fernando, a operadora de caixa Thaís Sousa, contou que o filho, que está dentro do espectro autista, sofreu um acidente há oito anos, quando uma pilastra caiu em cima dele. O acidente resultou em uma falência do rim direito e o órgão precisou ser retirado. "Nesse tempo, ele vem sofrendo várias infecções de urina por repetição e apareceram bolsas de pus no local onde foi retirado o rim. Ele sente dor e febre todos os dias. Se a bolsa romper, ele terá uma infecção generalizada e pode morrer", diz Thaís.
Em relatório, a equipe médica ressalta que o estado de saúde do paciente vem gradativamente piorando e ele corre risco de morrer. "A nossa unidade é um local de atendimento para casos clínicos de média complexidade, sendo que o do paciente é de alta complexidade. O paciente tem que estar em um ambiente hospitalar/UTI para melhor condução do caso", diz parecer assinado pelo médico Luiz Felipe Scopel.
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Thaís afirmou que a UPA está superlotada e que o filho não está recebendo os cuidados necessários. "Ele está [tomando] dois antibióticos, o que não poderia porque é paciente rim único, mas a urgência é muito grande, o medo é do outro rim também parar. Estamos correndo contra o tempo", frisa.
Ela também relatou que, no domingo (7/4), um enfermeiro teria retirado Fernando do leito em que ele estava para passar para outro com agressividade. "Ele disse 'vamos, Fernando, levanta daí' com muita agressividade. O Fernando teve que levantar rápido, e esse modo pode fazer com que as bolsas de pus estourem dentro dele. Então eu falei para o meu filho levantar devagar e o enfermeiro começou a me empurrar para que eu saísse de lá. E eu tinha que tirar os forros da cama, bolsa, garrafa de água daquele leito. O outro leito estava cheio de sangue. Então, ele estava colocando o Fernando em um leito contaminado e com agressividade", contou a mãe do jovem.
Após essa situação, Thaís teve uma crise de ansiedade. Ela foi atendida e medicada. "Eu como mãe me senti totalmente coagida, fragilizada", diz. A mãe aguarda pela transferência de Fernando para a UTI e descreve a situação como desesperadora. "Quando a gente está em uma situação de vida ou morte, sem poder fazer nada por um filho, é muito desesperador. Enquanto você ainda tem uma porta para bater, você está tendo esperança. Mas vamos esperar o que? E até quando?", indaga Thaís.
O que diz a Secretaria de Saúde?
Em nota, a Secretaria de Saúde do DF informou que os pacientes que aguardam por leito de UTI são regulados conforme gravidade do quadro de saúde. "A classificação prioriza os casos mais graves. A transferência para o leito é realizada mediante vaga disponibilizada. Enquanto aguardam essa disponibilidade, os pacientes seguem assistidos pela equipe médica do hospital em que estão internados", diz.
Dados do Painel InfoSaúde-DF apontam que há 172 paciente à espera por leito UTI, sendo 114 na modalidade UTI adulto, 52 pediátrica e seis neonatal.
A pasta não comentou sobre os relatos da mãe de Fernando sobre atendimento inadequado e superlotação na UPA de Samambaia.
Veja a íntegra da nota da Secretaria de Saúde
A Secretaria de Saúde informa que os pacientes que aguardam por leito de UTI são regulados conforme gravidade do quadro de saúde. A classificação prioriza os casos mais graves. A transferência para o leito é realizada mediante vaga disponibilizada. Enquanto aguardam essa disponibilidade, os pacientes seguem assistidos pela equipe médica do hospital em que estão internados.
A lista de espera pode ser consultada pelo número da passagem do paciente em https://info.saude.df.gov.br/leitospublicoslistadeesperaleitosutisalasit/
A pasta esclarece que, em função da legislação sobre sigilo de prontuário, não pode fornecer informações sobre os pacientes atendidos na rede pública de saúde. Essa medida, que resguarda o paciente e a equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, que veda ao médico “fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente”.
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