O ex-deputado distrital Carlos Xavier, o Adão Xavier, foi internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) após passar mal dentro da cela, no Complexo Penitenciário da Papuda. O parlamentar está preso desde fevereiro, acusado de encomendar a morte de um adolescente de 16 anos, em março de 2004.
O caso ocorreu no mês passado, mas só veio a público agora. De acordo com a defesa do acusado, ele foi diagnosticado com dengue. No entanto, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF) nega a informação. É a segunda vez que o ex-parlamentar necessitou ser levado ao hospital, estando preso.
A primeira ocorreu um dia após ele ingressar no sistema carcerário. Adão esteve internado no Hran tratando de uma ulcera que havia estourado. Ele recebeu alta poucos dias depois. Nas duas ocasiões, ele se recuperou no Centro de Internamento e Reeducação (Cir).
Outro episódio em que o parlamentar necessitou de atendimento médico ocorreu em 25 de março, após se queixar de mal-estar dentro da cadeia. Mas, nesse caso, ele não precisou ser levado ao hospital. Na ocasião, o ex-deputado afirmou que estava em uma cela com 31 detentos e sem colchão.
A reportagem procurou a Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF). Em nota, a pasta pontuou que segundo os relatórios de saúde do detento, o "custodiado não teve atendimento com sintomas de dengue". "A Seape-DF tem adotado diversas medidas para conter a proliferação do mosquito da dengue. Desde fevereiro, a pasta autorizou a entrada mensal de repelentes por meio das sacolas entregues aos custodiados nos dias de visita", explicou a pasta, no comunicado.
Epidemia de dengue
O Correio mostrou, no início do mês, que a Seape se antecipou no combate e adotou protocolos para impedir o alastramento da doença entre os quase 16 mil presos distribuídos nas sete unidades prisionais do Distrito Federal.
Este ano, segundo números obtidos pelo Correio, o total de casos positivos de dengue entre os custodiados foi de 49 e não houve registro de mortes de detentos nem de policiais penais. Segundo a pasta, dos 49 casos da doença, 35 foram na Penitenciária Feminina do DF (PFDF), oito no Centro de Detenção Provisória 2 (CDP 2), três no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), dois na Penitenciária do DF 1 (PDF 1) e um no Centro de Internamento e Reeducação (CIR).
Ainda no começo de fevereiro, em pleno pico de infecções pela dengue na capital, a Seape fez mudanças na lista dos itens autorizados a entrar para os presos, a chamada "cobal", e autorizou que os visitantes levassem repelentes. A medida foi publicada no Diário Oficial do DF (DODF) na primeira semana de fevereiro e continua válida.
O caso
O ex-parlamentar é condenado por encomendar a morte de um adolescente de 16 anos, em março de 2004. Segundo as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a motivação seria porque o então distrital descobriu que o rapaz era amante da ex-esposa dele.
O jovem, Ewerton da Rocha Ferreira, foi assassinado e o corpo encontrado atrás de uma parada de ônibus, no Recanto das Emas.
Carlos Xavier ficou preso por um período, mas foi solto quando conseguiu o direito de responder ao processo em liberdade, em 2018. Existia um mandado de prisão contra ele expedido desde fevereiro de 2022.
Pouco depois, o nome de Carlos Xavier surgiu em meio às investigações do crime e, em agosto do mesmo ano, a Câmara Legislativa (CLDF) decidiu pela cassação do então parlamentar — o primeiro da história do colegiado a ser cassado.
O homem contratado para o serviço, o capoeirista Eduardo Gomes da Silva, conhecido como Risadinha, foi condenado a 19 anos e três meses de prisão pela morte do rapaz. As investigações mostraram que Risadinha teria planejado o assassinato do rapaz, contratando um adolescente e outro suspeito, Leandro Dias Duarte, que também foi condenado a 15 anos de detenção.
A coluna Eixo Capital, do Correio Braziliense, mostrou, no mês retrasado, que após 10 anos do julgamento do ex-deputado no Tribunal do Júri, a Justiça do DF vai analisar um recurso que pode anular todo o processo.
Uma das testemunhas-chave é o ex-deputado e ex-diretor da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Laerte Bessa. A tese é de que o adolescente foi vítima de um latrocínio e não um crime encomendado pelo político.