Desde o começo do surto de dengue na capital do país, até agora, o Governo do Distrito Federal (GDF) contratou 1.293 profissionais de saúde para reforçar o atendimento na rede pública e combater a doença (confira Detalhamento). Somente nesta semana, 461 médicos foram nomeados — são 240 profissionais vindos do cadastro de reserva do último edital da carreira médica, 21 convocados para substituir candidatos que não se apresentaram em chamamento anterior e outros 200 com contratos temporários, anunciados na quarta-feira (3/4).
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O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, na sexta-feira (5/4), a nomeação de 240 médicos e, durante o cumprimento de agenda no Sol Nascente, ontem, disse que espera, com essas contratações, melhorar a situação da saúde no DF. “Quero dizer para vocês que as dificuldades em nosso governo não são pequenas. Tivemos o maior problema de dengue da história do Brasil, principalmente aqui na nossa cidade, e estamos enfrentando isso. Esses problemas aparecem, e a gente reúne a equipe e vai para cima para tentar resolver”, ressaltou o chefe do Executivo local.
De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), os novos profissionais vão reforçar o quadro de servidores não só neste momento de alta nos casos de dengue, mas também em outras áreas que apresentam necessidade de reforço no atendimento.
Na oportunidade, o governador também reforçou que as novas tendas vão começar a funcionar. O Correio apurou que a prioridade da SES-DF é para que as três tendas com funcionamento 24h — Gama, Guará e Paranoá — sejam as primeiras a entrar em atividade, mas existe a possibilidade de que todas as 11 estruturas comecem a atender a partir da semana que vem. “A gente quer dar o melhor atendimento para a população e sabemos que o único meio de tratar a dengue é por meio da hidratação. É para isso que estamos colocando tudo à disposição”, observou Ibaneis.
Medo de reinfecção
O Correio esteve em três das seis regiões administrativas que registraram maior incidência de dengue neste ano: Estrutural, Sol Nascente/Pôr do Sol e Ceilândia, respectivamente. Nas quatro tendas por onde a reportagem passou, o cenário de calmaria e cadeiras vazias contrastou com a superlotação dos meses anteriores. Resultados que indicaram “não reagente” foram recorrentes. Na Estrutural, a demanda diminuiu consideravelmente.
Na primeira semana de março, por exemplo, eram cerca de 150 atendimentos diários na unidade. Nesta semana, a média estava em 40. Uma das explicações é que, com a chegada do outono e a redução gradativa da umidade relativa do ar, os focos de Aedes aegypti sejam controlados e as doenças respiratórias — como gripe, sinusite, pneumonia e bronquite — típicas da estação, tomem conta das unidades de saúde. Ainda, assim, entre a população, prevalece o medo de reinfecção por outro sorotipo do vírus da dengue.
No Sol Nascente/Pôr do Sol, apenas três pessoas aguardavam por atendimento. Uma delas era a pequena Sophia Rodrigues, 2 anos, que, após resistir à picada no dedo — necessária nos testes NS1 e na sorologia — acalmou-se no colo da mãe, Bruna Rodrigues, 25. “Tem dois dias que ela apresenta diarreia, vômitos, uma grande mancha vermelha no rosto e alguns carocinhos pelo corpo”, descreveu a vendedora.
Bruna acrescentou que, há quase dois meses, a filha teve dengue e ficou bastante fragilizada. “Ela teve muita febre, não conseguia comer e, mesmo assim, vomitava com frequência. Não sabia o que fazer”, desabafou. O medo da reinfecção não foi por acaso. “Ouvi dizer que na segunda vez é sempre pior. Estou preocupada”, afirmou. Por sorte, o resultado deu negativo.
Quem não teve a mesma sorte foi a aposentada Herli de Sousa, 59, que já contraiu a doença três vezes. A primeira, em 2021, foi leve e não causou preocupação. “Naquela época não tinha isso de ir ao hospital por conta da dengue”, recordou. A segunda vez que teve sintomas, em fevereiro, foi mais grave e ela precisou procurar atendimento médico. Menos de um mês de diferença, a infecção a derrubou. “Cheguei a delirar de tanta febre e dor. Vi a morte de perto”, disse, preocupada.
Segundo a aposentada, a principal sequela da última infecção foi a desnutrição. “Fiquei muitos dias sem conseguir me hidratar e alimentar corretamente. Agora, tenho me sentido cansada frequentemente”, explicou. Desta vez, Herli acompanhou o filho, Felipe Pereira, 44, na tenda de hidratação de Ceilândia. Ele estava com sintomas da doença e precisou receber soro. O atendimento foi rápido e aprovado pela aposentada.
Na tenda da Estrutural, a doméstica Joana Pereira, 45, aguardava o resultado do teste de dengue feito pela filha Érika Pereira, 12. A suspeita começou na última quinta-feira, quando a adolescente apresentou febre e diarreia. “Também sinto muitas dores nas costas, na cabeça e nas pernas, além de fraqueza”, disse a adolescente. Apesar dos sintomas estarem associados à doença, o exame não deu positivo. À mãe, disseram que deve ser uma virose. “De toda forma, assim que eu tiver tempo, vou levá-la para vacinar”, comentou, mais tarde, Joana.
A família, que mora na Chácara Santa Luzia, revelou que quase todos os vizinhos e moradores da região tiveram dengue neste ano. “Acredito que, por conta da falta de nivelamento nas ruas, a água das chuvas se acumula nos buracos de lama, formando poças e contribuindo para a reprodução do mosquito. Na frente da minha casa, por exemplo, tem uma poça enorme. Estou pensando até em falar com a administração para nivelar esse buraco”, contou.
Na segunda-feira, a tenda da Estrutural sofreu com fortes chuvas, de forma que a água escoou e se acumulou dentro do espaço. A Secretaria de Saúde informou que não houve prejuízo a nenhum equipamento, atendimentos ou servidores. “Temporariamente, o atendimento foi suspenso para que a equipe de limpeza realizasse a secagem do local. Existe uma segunda cobertura de tenda (uma sobre a outra) para minimizar os impactos naturais”, disse a pasta, em nota.
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