PESQUISA

Larvicida que controla o Aedes Aegypti é desenvolvido na UnB

Pesquisa foi retomada por meio de edital da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). Hoje, há diversas soluções possíveis de controle do mosquito aguardando financiamento

Um larvicida em fase adiantada de testes promete combater o Aedes Aegypti. O composto está sendo desenvolvido no Insetário da Universidade de Brasília (UnB), o Laboratório Professor José Elias de Paula (em homenagem ao renomado botânico da UnB falecido em 2013). Os estudos são desenvolvidos também no Laboratório de Farmacognosia (ambos na Faculdade de Ciências da Saúde), onde são estudados princípios ativos naturais em plantas ou animais em busca de novos fármacos. Os dois locais estão sob coordenação da professora do Departamento de Farmácia (FAR/FS/UnB) Laila Espíndola.

Centenas de ovos do mosquito Aedes aegypti são cultivados na UnB em ambiente propício ao crescimento — com mais umidade no ar e temperatura mais elevada para que pesquisadores possam estudar cada vez mais o inseto e testar novos produtos que foram idealizados e desenvolvidos na universidade, como repelentes e inseticidas.

“Esse produto em teste tem que ser barato, não pode ser tóxico e o insumo tem que existir em grande quantidade para podermos fazê-lo também em grande quantidade para controlar um mosquito que está em todos os lugares”, relata a professora. “Então, começamos a triar coisas que todos já usam como alimento e achamos uma dessas amostras que são produzidas no mundo inteiro, consumidas no mundo inteiro há milênios, e que o Brasil ainda é um grande produtor, ou seja, temos um insumo, a matéria-prima, em grande quantidade”, revela.

A docente explica que ao extrair os compostos da planta utilizada — cujo nome ainda é segredo de laboratório e não pode ser divulgado —, a equipe envolvida no projeto descobriu uma molécula majoritária que foi mais eficiente quando atuava em conjunto com outras. Ou seja, a solução nesse aspecto parece ser mais simples do que se pensava.

“Não precisaremos nem isolar o composto, será só fazer o controle de qualidade. E é nisso que estamos trabalhando agora. Estamos em fase avançada de formulações. Vamos fazer testes em laboratório até chegar à melhor formulação que, além de ser barata, tem de ser estável, para durar anos para ser usada”, aponta Laila Espíndola. Até o momento, esta solução é pensada como um larvicida em pó.

Financiamento

Paula Correa, que faz pós-doutorado em Farmacognosia na UnB e investiga o potencial de plantas utilizadas tradicionalmente na Amazônia no controle do mosquito, lembra que, antes de virar um produto disponível para a sociedade, há um longo caminho a ser percorrido.

“Claro que o que a sociedade quer é um produto ali pronto e acabado para o uso comum. Só que há muitos desdobramentos que são importantes ao longo desse processo e que vão acontecendo: a formação de recursos humanos, o conhecimento da biodiversidade, a valorização do nosso patrimônio genético, do patrimônio brasileiro. Então é todo esse trabalho, não é só o produto final. Chegar nesse produto depende de empresa, universidade, governo, todo mundo trabalhando conjuntamente para que, de fato, aconteça”, ressalta a pós-graduanda.

“Agora, dentro do edital Bio Learning, da Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal [FAPDF], estamos focando em um produto larvicida que já está super adiantado, que a gente vai poder pôr na água e em caixa d'água para as pessoas que fazem reserva. No Brasil, as pessoas que não têm água encanada fazem reserva de água e isso vira criadouro”, afirma Laila. O financiamento da FAPDF foi de R$ 800 mil para um projeto de dois anos de duração.

“Temos muitos resultados [de pesquisas] que estão por um triz para virar produto, mas precisam de financiamento”, afirma a docente. “Não se faz pesquisa em dois anos e nada vai virar produto em dois anos; isso aí já vem de muito tempo. Antes de 2016, já estávamos trabalhando com o mosquito, e houve todo um trabalho de anos e muito investimento, com o Brasil inteiro envolvido no mesmo tema. Precisamos continuar. Temos um monte de resultados, mas não se faz um produto de um dia para o outro. Não tem dinheiro”, constata.

Ciência para sociedade

No insetário Laboratório Professor José Elias de Paula, há bandejas com água parada, ovos, larvas em seus quatro estágios de crescimento e pupas, que são uma espécie de casulo onde o mosquito fica até terminar o amadurecimento para, enfim, eclodir e voar.

“Aqui fazemos testes ovicidas, larvicidas, pupicidas ou adulticidas (para matar o ovo, a larva, a pupa e o mosquito), fazemos testes de repelentes de ambiente ou irritação por contato [repelentes utilizados em roupas ou paredes, por exemplo]. O único teste que não fazemos é o tópico, que seria passar o repelente na pele e botar o braço dentro da gaiola para ver se o mosquito vai picar. Não fazemos, pois a técnica é proibida", afirma a professora Laila Espíndola.

Em um segundo ambiente do laboratório, três gaiolas, com aproximadamente mil mosquitos cada, são equipadas com uma tigela com água pura, uma garrafa com mistura de água com açúcar para alimentar especialmente os mosquitos machos e uma luva cirúrgica preenchida com sangue de cavalo — material obtido em parceria com o Hospital Veterinário da universidade — para que as fêmeas do mosquito possam sugá-lo e, então, botar ovos. Assim a colônia vai sendo sempre renovada para subsidiar os mais diversos estudos.

No insetário, estudantes de graduação também têm a chance de estudar o mosquito Aedes aegypti e contribuir para as soluções desenvolvidas para controlar o vetor de tantas doenças, conhecidas como arboviroses. É o caso de Arthur Ramos e Fabiana Almada, ambos do 6º semestre do curso de Farmácia e pesquisadores de iniciação científica.

Arthur se dedica a analisar a atividade larvicida de um óleo essencial oriundo de uma planta do Cerrado e Fabiana participa da avaliação química de formulações produzidas a partir de um extrato natural com atividade larvicida em Aedes aegypti. “É muito interessante ganhar conhecimento e experiência trabalhando com algo que é um problema e que está em evidência, e realmente aprender com isso”, opina Arthur.

“A pesquisa te chama”, afirma Fabiana Almada. “Estou gostando bastante de fazer parte do laboratório, da equipe, poder contribuir, aprender bastante. Acho que o principal da iniciação científica e da graduação em si é esse aprendizado com os diferentes profissionais que estão aqui, que estudam coisas diferentes, que têm conhecimentos diferentes de análise, de teste, de tudo, é o principal”, acredita a estudante.
Esse sentimento de inclusão e valorização do papel de todos por uma sociedade melhor vai além dos muros da Universidade: teve início em fevereiro um projeto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para ensinar estudantes de seis a 12 anos de escolas públicas do DF a identificar possíveis focos do mosquito da dengue.

Segundo a professora Laila Espíndola, que também é diretora da SBPC desde 2021, a primeira escola é de Sobradinho e mais de duzentos alunos nessa faixa etária vão aprender a reconhecer ovos, larvas e pupas de Aedes aegypti para atuar em casa e replicar o conhecimento.

“O projeto SBPC vai à escola já existe há alguns anos. Agora vamos formar as crianças para que elas ajudem a fazer esse controle, porque o controle da dengue precisa de cada um de nós. Vamos trazer essas crianças ao Insetário da UnB para ver tudo isso, conhecer o ciclo do mosquito e depois vamos trabalhar com eles em sala, vão fazer atividades lúdicas sobre o tema”, conta a docente. O projeto recebeu R$ 12 mil de emendas parlamentares para custear os deslocamentos e atividades, que serão realizados em diversos dias.

*Divulgação: Secom/UnB

 

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