O maior peso do Produto Interno Bruto (PIB) do Distrito Federal está no setor de serviços (95%) — de acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, que deve ser responsável por 248 mil admissões até o fim de 2024. A projeção foi feita pelo coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida, baseado em números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
"Tendo em vista a expectativa de inflação e da taxa de juros, que influenciam no consumo das famílias no DF, acredito que 248 mil trabalhadores serão empregados", prevê Riezo Almeida (confira o infográfico). "O equilíbrio entre oferta e demanda desses serviços gera muitos empregos, com grandes oportunidades. Reparação de veículos e o mercado de beleza, por exemplo, geram muitos recursos para a economia do DF", aponta.
Ele destaca a diversidade de serviços como um dos motivos para o setor ser o protagonista na capital do país. "A presença governamental, por exemplo, gera uma demanda significativa de consultorias jurídicas e parlamentares, além de serviços ligados à tecnologia de informação", pontua. Outro ponto relevante, de acordo com o economista, está voltado para a prestação de serviços de saúde e educação. "A história do DF demonstra que várias instituições criaram demandas constantes para os serviços educacionais e, com isso, foram surgindo grandes redes de escolas públicas e privadas para atender toda a população", comenta.
Mesmo assim, o professor pondera que depender, quase exclusivamente, do setor de serviços tem impactos negativos. "Em tempos de recessão, por exemplo, as empresas e os consumidores podem reduzir seus gastos com serviços, o que pode levar a demissões e queda na renda, deixando de circular dinheiro na economia local", alerta.
A arrecadação com o Imposto Sobre Serviços (ISS) pelo Governo do Distrito Federal (GDF) teve aumento na comparação entre 2022 e 2023, passando de R$ 2,64 bilhões para R$ 3,08 bilhões. O Relatório de Arrecadação Tributária, divulgado pelo próprio GDF, justifica o aumento da arrecadação do ISS pelo "comportamento influenciado pela atividade econômica e pelas ações da administração tributária baseadas em novo sistema de gestão e fiscalização do imposto."
Professor de finanças do Ibmec, o economista William Baghdassarian explica que, no DF, o impacto do setor de serviços é "excepcionalmente alto" por causa da presença do governo federal na cidade. "Cada vez que o governo contrata, também acaba impactando a economia local. Então, essa desproporção de tamanho entre o governo federal e a economia local é que faz com que o serviço tenha um peso ainda desproporcionalmente maior aqui no DF", comenta. "Além disso, somos um pedaço pequeno de terra, por isso não temos tanto espaço para a agricultura e a indústria", observa o especialista.
Fortalecimento
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire destaca que a entidade tem dialogado constantemente com as autoridades dos poderes Executivo e Legislativo. "Buscamos defender os interesses do nosso setor e fortalecer as empresas", pontua. "Paralelamente, temos firmado diversas parcerias nos campos públicos e privados, junto à sociedade civil e também no campo internacional, por meio das embaixadas localizadas em Brasília — estas últimas, com vistas à internacionalização dos nossos serviços locais e troca de experiências no campo cultural", acrescenta Freire.
Segundo ele, os diálogos visam fortalecer o ambiente de negócios no país e colaborar com o desenvolvimento econômico, permitindo que as empresas, em especial as de menor porte, tenham condições para prosperar. "É fundamental que trabalhemos para assegurar justiça fiscal e promover o crescimento sustentável do setor empresarial", avalia o presidente da Fecomércio-DF.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta, o setor de serviços é de extrema importância para o desenvolvimento da economia local. "Ele é vital para a expansão de toda a economia, não só do Plano Piloto, mas de todas as regiões administrativas", argumenta. Segundo ele, a exemplo de várias entidades, os funcionários dos segmentos de serviços passam por treinamentos para se manter atualizados "num mundo onde as novidades não param de chegar ao dia a dia de milhares de pessoas no DF".
Abritta ressalta que muitos sindicatos empresariais e patronais incentivam a adoção de cursos para que funcionários de lojas, por exemplo, se atualizem. "Felizmente, as empresas, em sua grande maioria, incentivam que seus colaboradores frequentem cursos, visando a modernização em setores vitais como os de informática, marketing digital, tecnologia e atendimento ao cliente, áreas importantes no comércio", observa o presidente do Sindivarejista-DF. "Manter-se atualizado é uma das principais metas do comércio varejista", finaliza Abritta.
O subsecretário de Receita da Secretaria de Economia do Distrito Federal (SEEC), Sebastião Belchior, acrescenta que o DF conta com programas importantes de incentivo ao desenvolvimento econômico, como é o caso do Emprega DF. "Promovemos o desenvolvimento econômico sustentável do comércio atacadista e varejista, além de gerar emprego e renda para a cidade", comenta.
Saiba Mais
Empregabilidade
O barbeiro Pedro Henrique de Oliveira, 25 anos, conta que escolheu o ramo pela fácil empregabilidade. "Na área de prestação de serviço sempre tem vagas. Se tiver uma mão de obra, você consegue achar emprego fácil, ainda mais na nossa área de barbeiro, não é difícil a gente conseguir", destaca. "Além disso, o fato de a minha mãe mexer com esse ramo a vida toda fez com que eu seguisse no setor de barbearia. Pretendo continuar com o que ela construiu e levar isso para toda a vida", acrescenta o jovem.
O morador de Sobradinho comenta que o fato de estar em Brasília influencia muito no crescimento do negócio. "É uma cidade onde as pessoas vêm para trabalhar durante a semana e só voltam para seus locais de origem nos fins de semana, falando da questão política. Aqui na barbearia, acabamos atendendo muitos desses casos", afirma.
Dona de uma lanchonete há quatro anos, Francisca Fernandes, 44, diz que sempre trabalhou no setor de serviços. "Escolhi por causa da empregabilidade. Além disso, o setor de serviços é extremamente produtivo e inovador", elogia. "Tento manter meus funcionários qualificados, para que o atendimento e o produto que eu vendo sejam sempre da melhor qualidade", comenta Francisca.
Só que, para a empresária, o setor precisa de mais investimentos. "Os salários são defasados, não tem plano de carreira e nem valorização. A gente trabalha muito e, no fim do mês, o que você recebe mal dá para se manter", pondera. "Na qualidade de empresário, que é o meu caso, tem um custo muito mais elevado, por causa dos funcionários. Tive que dispensar três funcionárias que são de Luziânia-GO, pois chegou um momento que se tornou inviável pagar transporte. Estava ficando cerca de R$ 400 para cada uma delas", lamentou.
Raimunda da Silva, 64, trabalha no ramo de papelaria desde 1982, quando chegou a Brasília vinda do Nordeste. "Foi a oportunidade que eu tive no momento para o meu primeiro emprego. Depois, surgiu outra vaga e vim trabalhar onde estou atualmente, há 22 anos", recorda. "Vejo que o setor de serviços evoluiu bastante. Atualmente, por causa das compras on-line, as lojas físicas deram uma estagnada, mas sinto que elas continuam em alta", avalia.
Para a moradora do Guará, o que mantém o setor em alta em Brasília, principalmente no caso do seu ramo, é o fato de ser uma cidade administrativa. "Como temos muitos órgãos públicos, tanto locais quanto federais, podemos participar de licitações e vender para eles, o que ajuda ainda mais nos lucros", ressalta.