A professora Aline Castro, 30 anos, utilizou as redes sociais para denunciar uma abordagem que considerou desrespeitosa durante o embarque do voo da Latam de Brasília a Belo Horizonte (MG), na última sexta-feira (26/4). Aline é uma pessoa com deficiência, tem fraqueza muscular e não tem equilíbrio de tronco. Ela solicitou que fosse realocada a um assento prioritário e que ficasse ao lado da acompanhante, mas foi questionada por um comissário de bordo. A mineira só conseguiu embarcar quando duas pessoas cederam os assentos.
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"Nesta ocasião, pessoas sem deficiência estavam ocupando as primeiras fileiras do avião E mesmo o voo tendo três pessoas com deficiência, nenhuma foi realocada para os assentos prioritários. Além disso, o comissário queria que a minha acompanhante viajasse em um assento distante do meu. Por eu ter fraqueza muscular, disse a ele que se a minha acompanhante não fosse realocada, eu teria que viajar no colo dela visto que não tenho equilíbrio de tronco. Fui tratada desse jeito, com grosseria, desrespeito e ameaça de ser retirada do voo", relatou Aline.
A professora mineira relatou que assinou a documentação que concede desconto no valor da passagem aérea do acompanhante e permite que a companhia saiba que há uma pessoa com deficiência naquele voo. Entretanto, quando chegou ao check-in, Aline recebeu um assento que não ficava na fileira prioritária do avião.
"Tenho uma deficiência física que gera fraqueza muscular, então não tenho controle de tronco, então tenho uma necessidade muito específica que é de sentar em um assento da janela, porque eu me apoio naquela parede, e esse apoio permite que eu tenha um equilíbrio melhor do meu tronco, me possibilitando de viajar. Mandaram eu solicitar a realocação de assento com o comissário", afirma.
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Segundo Aline, o comissário de bordo foi ríspido com ela desde o início e disse que não havia possibilidade de realocação, pois as pessoas já tinham feito o pagamento dos assentos em questão. "Mas existe uma coisa chamada prioridade, não há objeção que as companhias vendam esses assentos, porém quando há uma demanda de pessoas com deficiência, a companhia aérea é obrigada a realocar essas pessoas sem deficiência que estão nos assentos prioritários para um assento da mesma classe", conta a professora.
Depois do embarque de todos os outros passageiros, Aline entrou no avião e pediu por uma solução. O comissário disse que poderia realocar somente o assento dela, e que ela deveria viajar longe da acompanhante. "É obrigatório o acompanhante viajar ao lado da pessoa com deficiência, além da obrigatoriedade, eu tenho fraqueza muscular, e eu preciso de uma pessoa ao meu lado para me dar um suporte no pescoço, senão a minha cabeça cai na hora da decolagem", pontuou a mineira.
Aline falou que não tinha a possibilidade de viajar longe da acompanhante. Então, o comissário disse que ela poderia sair do avião. "Eu passei por um constrangimento muito grande, uma humilhação. Ele falava que era só eu ir amarrada num cinto que eu conseguiria ficar no assento. Tive que explicar milhares de vezes sobre minha deficiência. Surgiu um passageiro que estava nas primeiras fileiras e falou: 'ela não precisa sair do voo, ela pode sentar no meu lugar'. Estava ele e uma mulher. Os dois trocaram de lugar comigo e somente por isso que eu embarquei", destacou Aline.
Aline esteve em Brasília para uma reunião com ministérios do governo federal e com a Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência para debater sobre inclusão.
Em nota enviada ao Correio, a Latam afirmou que em "nenhum momento impediu a passageira e a sua acompanhante de viajarem lado a lado nas primeiras fileiras da cabine adquirida (Economy), cumprindo rigorosamente o que determina a Resolução 280 da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para o embarque de Passageiros com Necessidade de Assistência Especial (PNAE) e seus acompanhantes".
"Durante o embarque, a cliente solicitou ser acomodada com a sua acompanhante em outra cabine (Premium Economy). No entanto, esse espaço já estava ocupado por outros passageiros e isso foi explicado pelos tripulantes. O embarque prosseguiu normalmente e a cliente viajou ao lado da sua acompanhante na primeira fileira da cabine Economy. A Latam reforça que adota todas as medidas necessárias para uma operação segura", disse a companhia.
A empresa também respondeu a publicação em que Aline denuncia o ocorrido. "Gostaríamos de dizer que sentimos muito pelo desconforto. Também, gostaríamos de informar que, de acordo com a regulamentação da Anac, que coordena a aviação civil no Brasil, os assentos das primeiras fileiras podem ser comercializados pelas empresas aéreas e não são de uso restrito", comentou a Latam.
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