Nomeada em homenagem ao aniversário da capital federal, a cenoura Brasília é um dos frutos de programas de melhoramento genético da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instalada no Distrito Federal no ano de 1981. Nas vésperas do aniversário de 64 anos de Brasília, a hortaliça foi o tema do CB.Agro, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, desta sexta-feira (19/4). Em entrevista aos jornalistas Roberto Fonseca e Thays Martins, o chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento, contou que a cenoura Brasília foi desenvolvida para aguentar as condições climáticas características do Cerrado, como as altas temperaturas e os períodos de chuva.
A hortaliça também é altamente resistente a doenças recorrentes, o que permitiu estabilizar a produção da hortaliça durante todo o ano no país. “Boa parte das hortaliças é importada, e a gente teria que cultivá-las de forma adaptadas às condições do Brasil, de temperatura mais alta e chuva. Nessa época, a regularidade da oferta da cenoura era um pouco complicada, a gente só tinha cenoura próximo ao inverno. Com a criação desse programa, nós desenvolvemos uma variedade altamente resistente às altas temperaturas e aos principais patógenos que ocorrem à cenoura. Assim, conseguimos regularizar essa oferta, ou seja, produzir praticamente o ano inteiro no país. E, por ocasião do aniversário da cidade, em 1981, a batizamos com o nome de cenoura Brasília”, contou.
Apesar da conquista, a cenoura Brasília não tinha uma coloração tão “boa” quanto as variedades importadas, o que motivou a Embrapa Hortaliças a desenvolver outras cinco variedades em homenagem ao Distrito Federal. Warley falou que o problema gerou, primeiramente, a variedade Alvorada, que tinha uma coloração mais alaranjada e escura devido a uma maior presença de carotenoides. A cenoura Planalto se assemelha à Brasília, mas com uma maior uniformidade de raízes — Warley chamou de “Brasília melhorada”. As cenouras Planaltina e Esplanada são voltadas para o processamento, enquanto a Paranoá — a mais recente — é bem adaptada ao cultivo orgânico, devido às altas resistências a doenças.
“A coloração dela (cenoura Brasília) não era tão boa quanto as das importadas, então a gente trabalhou no desenvolvimento de outros materiais. E aí veio a Alvorada, que tinha uma coloração melhor, que tinha mais carotenoides, mas alaranjada e escura. Depois disso, a gente desenvolveu duas outras, Planaltina e Esplanada, que eram para o processamento — mini cenouras ou cenouras raladas. E, por fim, a cenoura Planalto, que seria uma Brasília melhorada, com maior uniformidade de raízes, principalmente para uma agricultura um pouco mais tecnificada. E com essa demanda crescente do orgânico, de produtos mais saudáveis, essa pegada mais sustentável, criamos a cenoura Paranoá, exatamente para esse cultivo orgânico”, lembrou.
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Warley explicou que o custo para produção de hortaliças está elevado atualmente, devido ao aumento de preços dos insumos necessários — adubo advindo da Ucrânia, que está em guerra, e óleo diesel, que é parte intrínseca ao transporte dos materiais —, além da alta demanda por mão de obra para a colheita — especialmente de cenoura.
“Os insumos encareceram muito. A guerra da Ucrânia, que é um grande exportador de adubo pro Brasil, é um fator. As hortaliças consomem muito, se utiliza bastante adubo. O preço do diesel também está alto, e é utilizado tanto nos tratores quanto nos caminhões, para para levar o produto. E a cenoura utiliza muita mão de obra, principalmente na colheita, e em algumas regiões, também no desbaste de plantas. E a mão de obra também está cara”, apontou.
O chefe-geral da Embrapa Hortaliças estimou o investimento necessário para o plantio de cenoura Brasília como sendo um valor entre R$50 mil e R$60 mil por hectare (ha). ”A gente estima, numa produção mais tecnificada, algo em torno de 50 a 60 mil reais por hectare. E essas cenouras produzem de duas, duas mil e quinhentas até três mil caixas de 20 kg. Ou seja, nós estamos falando de 50 a 60 toneladas por hectare, que é uma produção muito interessante”. Confira a integra do CB.Agro desta sexta-feira:
Brasileiros comem poucas hortaliças
Segundo Warley, a quantidade média de hortaliças na dieta do brasileiro é, atualmente, duas vezes menor do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele alegou que o problema não é de produção, mas sim de acesso a esses alimentos por fatores culturais e econômicos.
“O problema não é a produção, é o acesso, às vezes cultural, a pessoa não conhece ou não tem costume de consumir. Mas hoje, com inflação, com altas de preços, é econômico. A população de menor poder aquisitivo não está tendo acesso. Com um tomate a 20 reais, a cenoura mesmo, a 12 reais o quilo. Então a gente tem que melhorar o custo de produção para que esses produtos cheguem, e também cabe aos supermercados reduzir a margem de lucro para que todos tenham acesso a esse produto de alta qualidade que é a hortaliça”, defendeu.
Para o chefe-geral, uma alternativa para buscar aumentar a presença de hortaliças na dieta é utilizá-las em receitas diferentes. Ele explicou que, apesar de não manter 100% do valor nutricional do alimento, utilizá-los na confecção de bolos, sucos e receitas específicas já traz grandes benefícios para o consumidor, e pode ser uma excelente estratégia para estimular o enriquecimento dos hábitos alimentares das crianças.
“De repente, a criança não gosta de cenoura crua, mas gosta de cozida. Ou não gosta nem de crua, nem de cozida, mas talvez, se você fizer um suflê, ela goste ou um bolo de chocolate com cenoura também, um suco de laranja com cenoura também ela gosta. Essas variações são interessantes, principalmente para a criança, para a gente criar esse hábito. E vai estar consumindo, ingerindo as mesmas propriedades. É claro, o ideal seria que fossem consumidas frescas, in natura, que você não tem perda de nenhum valor nutricional, mas digamos que está valendo também”, ressaltou.
Mais informações sobre o programa da Embrapa Hortaliças, assim como formas de obter as sementes para o plantio, receitas e técnicas de cultivo podem ser obtidas pelo portal.
*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori
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