A relação de Pedro Rodrigues de Sousa com Brasília pode ser comparada a uma partida de basquete. Ele ganhou a disputa da bola ao alto e, tal como um armador, iniciou uma linda e vitoriosa trama nas quadras do Distrito Federal na formação de talentos. Não faltaram assistências, bandejas e arremessos de média e longa distância certeiros no desenvolvimento dos jogadores — e até de um locutor esportivo.
Natural de Patos Minas, o professor Pedro, de 91 anos, carrega nas mãos o orgulho de ter fomentado a educação, por meio do esporte, na recém-inaugurada Brasília da década de 1960. Embora tenha iniciado a história ainda no interior de Minas Gerais, o professor deu os grandes passos da carreira na capital federal.
A bola laranja praticamente quicou pela primeira vez na terra vermelha do Cerrado candango pelas mãos de Pedro. Deu assistência a diversas figurinhas e figurões no mundo do esporte. O pivô brasiliense João José Vianna, o Pipoka, campeão dos Jogos Pan-Americanos de 1987 com a Seleção Brasileira, em Indianápolis, e o narrador Galvão Bueno são alguns discípulos dele. Em entrevista ao Correio, o próprio professor, acompanhado por Rubens Cavalcante Júnior, 58, historiador do basquete brasiliense e amigo pessoal do precursor, esmiuçou a rica história vivida em Brasília.
Pedro Rodrigues de Sousa nasceu em 29 de junho de 1933. No interior de Minas, o então garoto alimentava a precoce paixão por esportes, especialmente pelo basquete. O sentimento o levou à capital mineira, onde se formou em educação física. Especializou-se em um esporte jogado com os pés (futebol) e em outro com as mãos: o preferido basquete.
A entrada de Brasília na história aconteceu seis anos depois da graduação, em 1962. Após ser aprovado em concurso da Secretaria de Educação do DF como professor do Centro de Ensino Fundamental Caseb, na 909 Sul. Aqui, fundou a Federação de Basquete de Brasília."Ele é um personagem ímpar na história de Brasília. Ajudou a redigir a certidão de nascimento do basquetebol da capital", conta Rubens.
Pedro, segundo o historiador, fez parte de todos os times pioneiros da capital federal na disputa de campeonatos. Fluminense de Brasília, Guará, time do Caseb, Vizinhança, AABB, Motonáutica e Minas Brasília Tênis Clube. Todos têm alunos/jogadores formados por ele. Também dirigiu todas as categorias da Seleção Brasiliense, desde o estudantil até o adulto.
O professor foi o comandante do Minas nas participações nos Jogos Escolares Brasileiros de 1969 a 1992. "Eu dediquei boa parte da vida a massificar o esporte aqui. Não é possível falar da história do basquete em Brasília sem associá-lo ao nome de Pedro Rodrigues de Sousa", salienta o próprio, orgulhoso.
Enquanto trabalhava como professor de educação física pela manhã, no Caseb, contribuía, no contraturno, com o serviço de treinador de basquete com nomes como Magu, vice-campeão mundial pela equipe de Franca (SP), e Pipoka. Todos foram revelados e lançados ao esporte por Pedro.
Outros, como Tonico, presente na equipe dos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, e Oscar Schmidt, outro campeão pan-americano em 1987, considerado o melhor jogador de basquete do Brasil em todos os tempos, passaram pela prancheta do comandante."Ele foi, inclusive, professor do Galvão Bueno (narrador esportivo), quando ele veio morar em Brasília, aos 15 anos. Em 1969, Galvão chegou a ser auxiliar técnico do professor na Seleção Juvenil, durante a disputa dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs)", conta Rubens.
A habilidade para lidar com os alunos de forma carinhosa foi a marca mais importante.Durante o período de trabalho no Minas Tênis Clube, levava os atletas no próprio carro, para que pudessem chegar ao local dos treinamentos com mais facilidade. Foi campeão nacional em 1987 e 1989."Ele colocava todo o time dentro do Opala dele. Além do sucesso na quadra, ele tinha esse aspecto humano. Mais do que atletas, ele formou homens, cidadãos", salienta Rubens.
"Brasília tem inúmeros problemas, claro, principalmente estruturais. Mas, como sou uma pessoa otimista, sinto que são mais coisas boas do que ruins. Quando cheguei aqui, não havia quase nada. Hoje, ver tantos detalhes, tantas pessoas, tantos sonhos, é impactante", compara. "O que mais me orgulha é ter impactado as vidas de tantas pessoas. Tenho grande satisfação por ter sido um formador. Existem pessoas que nascem para servir e outras que nascem para ser servidos. Pedro Rodrigues nasceu para servir", complementa o professor, falando em terceira pessoa.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br