Brasília é um celeiro de talentos e ideias. A cidade é sempre lembrada pelas gerações de grandes artistas, mas, para que esses talentos surjam, são necessários espaços e agitações culturais. Nesse papel, entram produtores da economia criativa com propostas para fomentar a veia artística da capital.
Um potencial está nas startups de economia criativa. Em uma capital que ainda está reerguendo o aparato cultural após os duros anos de pandemia, sobressaem-se os projetos que, de alguma forma, possibilitam que o público volte a sair de casa.
A Infinu surgiu como uma opção em Brasília para, literalmente, ocupar espaços. localizada na 506 Sul, virada para a W2, o espaço colaborativo junta lojas, opções de alimentação e um espaço que pode ser usado para eventos. De shows de artistas emergentes de todas as partes do Brasil a feiras de discos, passando por um espaço de convívio, o lugar virou um point da juventude e da arte independente.
A ideia surgiu da cabeça de Miguel Galvão, um produtor cultural e de eventos que movimenta Brasília há algum tempo. Ele, um dos nomes por trás do festival PicniK, teve a vontade de criar algo menos itinerante e sazonal e encontrou na Infinu uma proposta concreta de diariamente investir no desenvolvimento da economia criativa local. Confira entrevista:
Qual a sua relação com Brasília?
Nasci em Salvador, mas vim para cá com um ano, para morar em Sobradinho, na chácara dos meus avós, onde vivi por quase duas décadas, antes de me mudar para a W3 Sul, onde estou até hoje. Minha mãe era assistente social no Hospital Sarah e meu pai mexia com poços artesianos. Eles me proporcionaram uma ótima educação, que deu base para eu entrar no curso de economia da UnB em 2003.
Como é a sua história como agitador e produtor cultural?
Estava bem frustrado, pois meu curso tinha um perfil de formar acadêmicos e funcionários públicos. Acabou que, ao entrar no Centro Acadêmico, comecei a organizar os encontros sociais do curso, me destacando no cenário cultural da UnB. Cheguei a capitanear e participar da produção de grandes shows no Centro Comunitário, como Nação Zumbi, Los Hermanos, Pato Fu... Prestes a me formar, decidi focar no mercado de cultura alternativa.
Nesse processo, como surgiram suas iniciativas de sucesso?
A primeira que se destacou foi uma festa chamada Melissa, que, em 2009, trouxe um frescor à cidade por conseguir misturar diversas tribos em harmonia. Com seu fim, em 2011, assumi a produção do projeto paulista VoodooHop no Centro-Oeste, o que facilitou trazer artistas estrangeiros, desenvolvendo meu networking. Chegou uma hora que me desiludi com o mercado da noite e daí surgiu, em 2012, o PicniK, que tem propósito de trazer as pessoas para o dia, num encontro que leva ocupação divertida, saudável e estruturada aos espaços públicos da cidade. O projeto deu muito certo: foram cerca de 45 edições no DF (além de outras em São Paulo e Goiás), mais de 700 mil pessoas atendidas, se tornou o maior canal de distribuição eventual da economia criativa no Centro-Oeste e também em uma importante vitrine para artistas locais e alternativos que não conseguiam aterrissar na cidade.
Como foi o processo de criar a Infinu, considerando que o local começou a funcionar na pandemia?
Foi um dos grandes desafios da vida, que só foi possível ser vencido graças ao time de colaboradores e parceiros que abraçaram a empreitada. Inauguramos em 18 de junho de 2020, uma semana após a flexibilização do lockdown mais severo no DF, apostando que os princípios que nortearam o surgimento do negócio — cooperativo, colaborativo, compartilhado, socioambientalmente sustentável, autossuficiente — seriam diferenciais para nosso sucesso. Foram necessárias resiliência, paciência e serenidade. Os desafios ainda são muitos: vivemos numa cidade que se mostra muito reativa e conservadora com quem inova (sobretudo por meio da cultura), mas ficamos felizes e agradecidos com a receptividade do público à nossa proposta.
O que, para você, faz da Infinu diferente?
Nosso sonho é ser o pequeno palco mais divertido e intenso da galáxia! Nos vemos como um aeroporto, que busca condições ideais para estrelas, daqui ou de fora, aterrissarem e se conectarem com um público receptivo e vibrante. Para isso, tivemos de estruturar toda uma comunidade que respira criatividade, de forma a oferecer, em um único passeio, várias opções de atividades ao visitante, boa parte delas ancoradas em trabalhos locais, mostrando, nessa vitrine, a força, a beleza e a qualidade da cultura alternativa feita em Brasília.
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