Da vontade de desenvolver soluções que impactassem associações de classe carentes de direitos e de benefícios, o recifense radicado em Brasília, Jorge Júnior, teve a ideia de criar a Trampay, uma empresa brasileira fundada na capital que tem a missão de proporcionar dignidade e suporte financeiro aos entregadores de aplicativo. Há quatro anos no mercado, a empresa é hoje um banco digital desenvolvido especialmente para profissionais autônomos que trabalham com entregas por aplicativo e tinham dificuldade de conseguir vantagens como facilitação de crédito.
Hoje comandada por três jovens empreendedores — Jorge Júnior, 28 anos; Tiago Ribeiro, 28; e Vitor Quaresma, 30 —, a Trampay se coloca no mercado como uma fintech: empresa com foco na criação de soluções financeiras baseadas no uso da tecnologia.
A ideia surgiu em 2018, quando Jorge, formado em comunicação social pela Universidade de Brasília (UnB), pensou no projeto como pauta para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). "Eu sempre quis ter um projeto próprio e fazer algo que impactasse a vida das pessoas. Pensei em desenvolver algo que ajudasse trabalhadores que não tinham acesso a alguns benefícios", conta o CEO da Trampay.
Antes de se identificar como fintech, a Trampay criou um ponto de apoio aos entregadores de aplicativo em Brasília. O espaço está em funcionamento até hoje, na 414 Sul, e consiste numa estrutura que conta com banheiro, geladeira, microondas, roteador, tomada, TV, entre outros recursos disponíveis para suprir as necessidades desses profissionais. "A criação do ponto de apoio foi um laboratório para que descobríssemos o maior gargalo desta categoria: a questão financeira", detalha Jorge Júnior.
Mapeamento
Em 2020, com a pandemia, Jorge Júnior começou a mapear as categorias de trabalhadores mais vulneráveis e quais eram as principais necessidades deles. "Os entregadores foram uma das categorias que mais trabalharam durante a pandemia. Comecei a ouvi-los e percebi que as necessidades mais básicas da classe eram teto, sombra e um pouco de conforto nos intervalos entre as entregas. Meu pai foi office boy, então sempre tive a sensibilidade de olhar para as necessidades dos trabalhadores da área", observou.
A Trampay se consolidou no ano seguinte como ponto de apoio aos entregadores. Em 2022, o propósito se expandiu e a empresa se tornou uma fintech fornecedora de soluções financeiras. A plataforma oferece serviços personalizados tanto para os profissionais da entrega quanto para as empresas parceiras. A abordagem tem o objetivo de melhorar a experiência financeira desses profissionais, mas também eleva a qualidade do serviço de entrega em todo o país. Um dos principais diferenciais da Trampay é o adiantamento de recebíveis, que ajuda os entregadores a terem capital de giro para o trabalho diário nas ruas.
A plataforma já recebeu reconhecimentos como premiações e seleções em programas de incentivo como o Menos30Fest, o BNDES Garagem e o Scale Up Endeavor. Hoje, a Google já investe diretamente na plataforma e a sede da Trampay funciona no prédio da empresa em São Paulo. "Já estamos em fase de expansão para que a Trampay possa atender outros profissionais autônomos como diaristas e profissionais de segurança, entre outros. Nosso objetivo é ser, no futuro, o maior banco dos autônomos do Brasil", anuncia o CEO Jorge Júnior.
Apoio essencial
O motoboy Edilson Lopes, 43 anos, trabalha há cinco com entregas por aplicativo. Durante os intervalos da jornada diária de nove horas de trabalho o entregador usa o ponto de apoio da Trampay localizado na 414 Sul. "Não tínhamos banheiro, íamos nos mercados mais próximos e comíamos a marmita fria mesmo, porque não tinha onde esquentar. Agora, temos toda essa estrutura aqui", descreve Edilson, que também conta no banco digital Trampay.
Com o aplicativo, Edilson consegue antecipar o pagamento do que foi trabalhado anteriormente em poucos minutos, o que facilita no dia a dia para os gastos necessários. "Antigamente, só conseguíamos receber o dinheiro de forma quinzenal, e era uma dificuldade terrível. Às vezes, faltava dinheiro para colocar gasolina na moto, ou para comprar um almoço, trocar o óleo. Agora, a gente trabalha em um dia e consegue ter acesso ao dinheiro mais rapidamente", afirma o entregador.
Antes do ponto de apoio da Asa Sul, Weverton Garcez, 23, pedia para esquentar as marmitas nos estabelecimentos onde buscava os pedidos, e relata que dava trabalho para conseguir. "Depois do ponto aqui melhorou bastante, porque tem lugar para descansar, para esquentar marmita, wi-fi e água. Dá para tirar o horário de descanso aqui tranquilo", elogiou Garcez, que também passa cerca de nove horas por dia nas ruas fazendo entregas, há cinco anos.
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