A cratera que se formou quarta-feira no Setor Policial Sul, numa das pistas ao lado do cemitério Campo da Esperança, sentido Taguatinga, disparou um alarme no Governo do Distrito Federal (GDF). O problema, atribuído por peritos à deterioração da rede de esgoto que passa sob essa via, ocorreu quase 20 anos antes do previsto para esse tipo de construção. O incidente fez a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) iniciar, ontem — quando também concluiu os reparos e tapou o buraco — a revisão dos dutos subterrâneos dessa região, por onde passa um grande fluxo de veículos diariamente. A empresa confirmou ao Correio que quer evitar riscos para a população.
O diretor de operação e manutenção da Caesb, Carlos Eduardo Pereira, disse ser natural haver estragos em canalizações com manilhas de concreto. Contudo, ponderou que o esperado é que isso ocorra entre 45 ou 50 anos após o início da utilização do projeto. "Essa rede (do Setor Policial Sul) sofreu um desgaste prematuro com 29 anos de idade", afirmou Pereira em relação ao projeto concluído em 1995. Pelos cálculos dele, as autoridades só precisariam se preocupar em fazer checagens nessa obra por volta de 2040.
Ante a ameaça de que o problema possa se repetir em outros trechos, foi determinada uma verificação do estado de toda a rede coletora de esgoto embaixo das vias daquela área. Essa checagem, que começou ontem, poderá ser concluída hoje. Operários da Caesb foram escalados para realizar essa tarefa noite adentro. Porém, se forem localizados outros danos, e a depender do grau dos estragos que possam ser identificados, os consertos poderão levar mais alguns dias. A companhia não deu uma previsão de quanto tempo seria necessário, o que só será possível determinar posteriormente à inspeção.
Érick Luiz de Freitas, engenheiro civil especialista em infraestrutura viária, explicou ao Correio que o maior inimigo da infraestrutura viária é a água. E que, no caso da erosão do Setor Policial Sul, as manilhas de concreto armado sofreram um desgaste prematuro por gases corrosivos. Eles são emitidos pelo próprio esgoto e causam rachaduras na rede, permitindo o contato da água com o solo da via. "A partir do momento que se tem infiltração frequente, o solo perde as propriedades, fica saturado e começa a ceder. Foi exatamente esse o caso do Setor Policial", explicou.
Providências
O engenheiro ressaltou que o aparente colapso prematuro dessas estruturas e o surgimento da cratera devem ser observados com muita atenção pelo GDF. "Se a gente constrói algo programado para durar cerca de 40 ou 50 anos, e o problema se apresenta na metade da vida útil que se espera para essa obra, há de se fazer uma revisão desses sistemas. Não dá para permitir confiabilidade a todo o sistema de esgoto, sendo que parte dele cedeu com 29 anos", alertou o especialista.
Freitas explicou que só é possível perceber sinais de erosão cerca de um ou dois dias antes de o problema se manifestar. Por isso, alertou ser necessário realizar monitoramento frequentes de tubulações subterrâneas como as do Setor Policial Sul. "Pouquíssimo tempo antes de o problema acontecer, a estrutura demonstra algumas falhas (rachaduras, afundamento do asfalto, buracos ou fissuras). No Setor Policial Sul, a própria população havia percebido rachaduras. Para que se consiga mapear o que está acontecendo no solo, existe uma instrumentação, mas é um processo de alto custo que não é usualmente aplicado", declarou.
Por outro lado — enquanto a verificação da rede for realizada e houver a necessidade de eventuais reparos —, a Caesb manterá interrupções no trânsito por segurança. Ficaram fechados o acesso à EPIG para quem vinha pelo Setor Policial e a alça do viaduto, no sentido EPIG, para quem se dirigia a esse mesmo setor.
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