Mulheres vítimas de violência doméstica vêm tendo suas vidas transformadas por meio do projeto Reconstruindo Sorrisos, que oferece tratamento dentário gratuito e cursos de capacitação para aquelas que tiveram os dentes danificados pelos agressores. A iniciativa contribui para o resgate da autoestima e estimula essas mulheres a terem um outro olhar para o futuro pessoal e profissional.
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A primeira edição do projeto ocorreu em 2023, para 30 mulheres. Neste ano, a perspectiva é contemplar 800 mulheres. Os atendimentos feitos por uma carreta itinerante começaram em 15 de abril pela região do Sol Nascente, onde ficam até hoje. Depois, seguem para Ceilândia, Samambaia, São Sebastião, Planaltina, Estrutural e Santa Maria, permanecendo cerca de sete dias em cada uma dessas cidades.
Uma das dentistas e precursora do Reconstruindo Sorrisos, Andréa Oliveira relembra que tudo começou em 2023, na Estrutural, com recursos próprios. "Agora, podemos atender mais mulheres e, além de devolver o sorriso, vamos capacitá-las para que possam seguir a vida delas", celebra. Para Andréa, cada atendimento é uma emoção diferente. "Muitas delas, antes, falavam com a mão na boca, com medo de sorrir, e hoje podem se sentir à vontade para conversar sem ninguém ficar reparando", observa a dentista. "O primeiro lugar que o agressor costuma ir é no no rosto, para desfigurar", explica.
Para participar do projeto, é exigido que a mulher faça um curso profissionalizante, durante o período de tratamento. São formações para melhorar a autonomia e o desenvolvimento de novas habilidades profissionais, ofertadas em um anexo da carreta. As qualificações são nas áreas de beleza (maquiagem, estética), gastronomia (pães e biscoitos, confeitaria e doces, pizzaiolo, salgados e marmitaria) e capacitação em vendas.
Acolhimento
Sandra Quadros descobriu o projeto na edição passada, por meio uma propaganda na televisão. Ela queria muito ter o sorriso de volta e ligou. "Eles me pediram fotos da boca. No dia seguinte já me pediram para comparecer à carreta. Aí, começou a minha história de reconstruir o sorriso e em 24 horas saí de lá com a boca totalmente transformada", recorda.
"Eu não sorria porque tinha vergonha, ficava constrangida, eu vivia me escondendo. Uma pessoa sem sorriso não tem nada, os dentes são nosso cartão de visita. Eu lembro que, na época da pandemia, dei graças a Deus porque tinha que usar máscara e conseguia me esconder, mas, agora, o tratamento me trouxe autoestima. Posso usar batom, maquiagem, é uma realização sem tamanho", comemora Sandra, que recebeu próteses, extração e limpeza dentária.
Livre das amarras do passado, ela conta que passou 17 anos casada com o agressor, que era viciado em jogos de apostas e, por isso, o dinheiro nunca chegava em casa. "Não aceitava essa situação e isso gerava as discussões, que sempre terminavam em agressões", relata.
Para Sandra, o projeto é maravilhoso e ajuda de verdade. "Não tinha dinheiro nem para a passagem e elas custearam tudo, além da parte humana e acolhedora. Hoje, torço por todas que precisam. Ninguém tem o direito de tirar o nosso sorriso. É uma equipe que faz esse trabalho com muito amor, dedicação, carinho. Até almoço elas davam para a gente", relembra.
"Eu não sorria porque tinha vergonha, ficava constrangida, eu vivia me escondendo. Uma pessoa sem sorriso não tem nada, os dentes são nosso cartão de visita. Eu lembro que, na época da pandemia, dei graças a Deus porque tinha que usar máscara e conseguia me esconder, mas, agora, o tratamento me trouxe autoestima. Posso usar batom, maquiagem, é uma realização sem tamanho" Sandra Quadros, participante do projeto Reconstruindo Sorrisos
Fim de um ciclo
Também participante da última edição, com o mesmo nome e uma história semelhante, Sandra Cardoso, 48, era moradora de um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica que fez a ponte para que ela conseguisse ser atendida pela iniciativa. "Quando cheguei lá, não me sentia ninguém. Achei que não teria jeito. Tinha perdido meu sorriso e minha alegria, mas hoje me sinto muito satisfeita pelo tratamento e pelo apoio também", diz.
Sandra recebeu canal, facetas de resina, restauração e raspagem. Deixou a tristeza para trás e, hoje, consegue falar sobre o assunto. Ela viveu por três anos uma relação marcada por abusos. "Principalmente a parte facial era uma coisa que ele queria tirar de mim", detalha. "Não é apenas a colocação de dentes, hoje eu me sinto muito melhor, é um acréscimo olhar no espelho e não ter mais marcas grosseiras de agressão. Isso, com certeza, me ajudou a seguir em frente e a encerrar esse ciclo", frisa.
Inscrições
Essa edição do projeto Reconstruindo Sorrisos é fomentada por emendas parlamentares e tem como parceiros o Instituto Omni e o Ministério das Mulheres. As interessadas em participar passam por entrevista social e devem apresentar medida protetiva ou boletim de ocorrência policial. A inscrição deve ser feita pelo site recostruindosorrisos.com, pelo número: (61) 98111-2797 ou pelo e-mail: reconstruindosorrisosdf@gmail.com.
Denuncie
» 180: Central de Atendimento à Mulher
» 197: Polícia Civil
» 190: Polícia Militar
Delegacias de atendimento à mulher:
» Deam 1: atende todo o DF, exceto Ceilândia
Endereço: EQS 204/205, Asa Sul.
Telefones: 3207-6172 / 3207-6195 / 98362-5673
» Deam 2: atende Ceilândia
Endereço: St. M QNM 2, Ceilândia
Telefones: 3207-7391 / 3207-7408 / 3207-7438
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Essa edição do projeto Reconstruindo Sorrisos é fomentada por emendas parlamentares e tem como parceiros o Instituto Omni e o Ministério das Mulheres. As interessadas em participar passam por entrevista social e devem apresentar medida protetiva ou boletim de ocorrência policial. A inscrição deve ser feita pelo site recostruindosorrisos.com, pelo número: (61) 98111-2797 ou pelo e-mail: reconstruindosorrisosdf@gmail.com
FRASE
Eu não sorria porque tinha vergonha, ficava constrangida, eu vivia me escondendo, uma pessoa sem sorriso não tem nada, os dentes são nosso cartão de visita. Me lembro que, na época da pandemia, dei graças a Deus porque tinha que usar máscara e conseguia me esconder, mas, agora, o tratamento me trouxe autoestima, posso usar batom, maquiagem, é uma realização sem tamanho”
Santa Quadros, participante do projeto
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