Saúde

Atenção aos sintomas pode evitar casos graves de dengue

Especialista reforça que os cuidados para o não agravamento da doença transmitida pelo Aedes aegypti precisam ser constantes entre os infectados, para evitar a piora do estado do paciente. DF chega a 206 mortes

Rozânia Gomes dos Santos relata que há muitos pacientes internados com dengue na UPA I de Ceilândia -  (crédito: Giulia Luchetta/CB/D.A Press)
Rozânia Gomes dos Santos relata que há muitos pacientes internados com dengue na UPA I de Ceilândia - (crédito: Giulia Luchetta/CB/D.A Press)

Pessoas com sintomas de dengue devem procurar o hospital mesmo se as manifestações da doença ocorrerem de forma leve. É o que orientam especialistas. O Distrito Federal continua a ocupar o primeiro lugar no número de incidência de casos da arbovirose: são 6.804 a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Painel de Monitoramento do Ministério da Saúde (MS). O Correio visitou unidades de saúde e conversou com pessoas que enfrentam o drama da doença.

André Bon, infectologista do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF, faz um alerta à população: qualquer indício de sintoma, procure o hospital. "O paciente precisa de uma avaliação inicial médica, que pode ser feita no hospital ou no consultório, se os sintomas forem leves. Caso o paciente apresente sinais de alarme, como dor abdominal intensa e persistente, vômitos, tontura, a diminuição da quantidade de urina, uma sonolência excessiva, uma agitação excessiva, sangramentos nasais e gengivais fora do padrão, sangramento na urina, é necessário procurar um atendimento de urgência, pois são sinais de alarme de que o paciente está evoluindo para formas graves", orienta.

Rozânia Gomes dos Santos, 55 anos, não escondia o cansaço ao sair da UPA I de Ceilândia. A rotina da moça, atualmente desempregada, mudou radicalmente desde que sua mãe, Filomena Gomes dos Santos, de 77 anos, sofreu um infarto e precisou ficar internada na unidade de saúde. "Na segunda-feira da semana passada, foi constatado que ela estava com dengue já há uma semana e que ela teve um infarto", lamentou.

Rozânia relata que Filomena é uma pessoa muito ativa e que frequenta aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) no Centro de Ensino Médio 3 de Ceilândia. "Me ligaram da escola dizendo que ela estava passando muito mal. Quando meu irmão chegou, a ambulância já estava lá", comentou. Questionada se a mãe não havia se queixado de nenhum sintoma, a moça observou que já havia alertado a aposentada sobre a possibilidade de ela estar com dengue.

"Fiz uma visita à casa dela e ela estava cansada, suando muito, e começou a vomitar. Eu disse que aquilo era dengue, perguntei se ela queria ir ao médico, insistindo, porque eu tive dengue (em 2020) e fiquei do mesmo jeito. No final, só fomos descobrir na UPA. Ela sofreu parada cardíaca por causa da dengue", resumiu. Devido aos cuidados da internação, Filomena foi gradativamente se recuperando da dengue, conforme apontaram os exames. Entretanto, o que agrava a condição de saúde da idosa é a pressão alta.

Ontem, pela manhã, Rozânia acompanhou Filomena ao Hospital das Forças Armadas (HFA) para fazer um eletrocardiograma. Hoje, ela retornará ao hospital para fazer cateterismo cardíaco, procedimento que possibilitará a desobstrução do vaso sanguíneo do coração. De segunda a quinta-feira da semana passada, ela passou todos os dias ao lado da mãe, revezando a companhia com os irmãos. "Espero que ela melhore porque é difícil passar uma noite inteira sentada numa cadeira. Os médicos me disseram que ela ainda pode ser transferida para um hospital com infraestrutura de UTI", completou.

Drama

Na UPA, Filomena está internada na ala amarela, onde ficam até 10 pacientes internados. Os leitos, segundo Rozânia, estão repletos de pacientes com dengue. "Lá dentro, nos tornamos um pouco família uns dos outros, e está lotado de acompanhantes e pacientes que dizem estar com dengue", destacou.

Próximo à UPA I, Patrícia Dias, de 50 anos, aguarda com receituário em mãos, no Hospital de Campanha da FAB. Sua filha, Ana Beatriz Batista, de 18 anos, ainda passaria pela consulta médica. As duas começaram a apresentar sintomas de dengue na última segunda-feira. "Os sintomas começaram mais gripais, com coriza, febre, corpo doendo demais, e perda de apetite. Não tive dor atrás dos olhos, mas tive muita fraqueza e estou há três dias com diarreia", mencionou.

A vendedora, atualmente desempregada, conta que ela e a filha têm se cuidado em casa, com paracetamol para a febre, mas que na segunda-feira decidiu buscar um posto de atendimento próximo ao P Norte, onde mora. "Não consegui atendimento, o posto estava muito cheio, então, não quis ficar esperando. Não tinha médico, não fiquei aguardando, porque estava com dor, preferi ir para casa", recordou.

Ontem, no Hospital de Campanha, Patrícia não fez o teste de dengue. "O médico disse que com todos os sintomas, não seria necessário, porque estou apresentando os mesmos sintomas que tive quando estava com a doença em 2021. É interessante falar sobre isso, porque agora a dengue está vindo até com sintomas gripais", observou.

Ana Beatriz havia tentado se consultar na UPA de Samambaia no mesmo dia, mas recorreu ao HCamp, porque o atendimento estava demorando muito.

O infectologista André Bon reforça os cuidados. A hidratação e o repouso são primordiais para evitar o agravamento da doença. Quanto à prevenção do mosquito, as orientações são as que boa parte da população já sabe: evitar água parada e usar repelentes.

Contratações

O governo do Distrito Federal anunciou que contratará, hoje, 200 médicos generalistas que atuarão de forma temporária por seis meses, renováveis pelo mesmo período.

 

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postado em 03/04/2024 06:00
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