CULTURA

Projeto que promove arte da periferia chega a Planaltina e Ceilândia

O Praça Contemporânea dá espaço para artistas da periferia e une as cenas de Ceilândia e Planaltina, em ações presenciais e virtuais

A Praça São Sebastião, em Planaltina, é sede da primeira ação da proposta -  (crédito:  Julia di Agostini )
A Praça São Sebastião, em Planaltina, é sede da primeira ação da proposta - (crédito: Julia di Agostini )

Levar arte para fora do Plano Piloto é, há anos, a luta de muitos dos artistas do Distrito Federal. O Projeto Praça Contemporânea é um desses esforços, com a promoção de atividades artísticas em diferentes regiões do DF e no ambiente digital. A iniciativa começa no próximo sábado, às 17h30, no Pé Vermelho Espaço Contemporâneo, na Praça São Sebastião, em Planaltina.

No espaço cultural, serão exibidas as obras selecionadas para a mostra Lacuna de Videoarte e lançadas duas exposições virtuais na plataforma de arte M'ART — O Tempo não tem metade e Poesia urbana  — que reúnem oito artistas. Nelas, curadoria e expositores propõem um diálogo entre duas importantes cidades do DF — Planaltina e Ceilândia.

O coordenador geral e artístico do Praça Contemporânea, Luan Grisolia, explica que a proposta surge a partir do trabalho desempenhado pela plataforma M'ART, que tem por objetivo pensar em novos territórios para a arte da época atual. "O que é muito rico no cenário artístico do DF é a descentralização da cena contemporânea, fora do Plano Piloto. O projeto discute a arte nos territórios que são excluídos do plano original da capital, que não incluía os trabalhadores que a construíram e a cultura que aqui já havia antes da existência de Brasília", destaca Grisolia.

Luan ressalta que o grande diferencial da cena artística que emerge hoje é que ela propõe mais diálogo com a população, porque trata de temas que têm a ver com o que a sociedade vive. "Já a plataforma tem a proposta de ser uma praça virtual, onde as pessoas podem ter acesso ao universo da arte contemporânea e à divulgação de eventos em diferentes regiões do DF. Isso ajuda a construir o sentimento de pertencimento e de comunidade no meio virtual", acrescenta.

Artistas, curadores e organizadores da iniciativa na Praça do Cidadão, em Ceilândia
Artistas, curadores e organizadores da iniciativa na Praça do Cidadão, em Ceilândia (foto: Julia di Agostini )

Cidades

Gu da Cei, 27 anos, é um dos expositores e curador da mostra Poesia Urbana. Ele explica que o evento traz as vivências de diversos artistas nas cidades do DF, tanto na inserção quanto na inspiração provocada por esses lugares. Na exposição, Gu da Cei apresenta fotografias de intervenções urbanas feitas por ele mesmo que fazem referência à história de Ceilândia e cria imaginários para a cidade. Também faz parte o vídeo Sorria que estou te filmando, com vivências captadas por uma câmera escondida em óculos usado por ele.

"A gente vive em um espaço urbano segregado, com mobilidade de baixa qualidade e longas distâncias, que dificultam a conexão entre artistas de diferentes regiões do DF. O Praça Contemporânea vem para possibilitar a construção dessa rede artística", aponta Gu da Cei, que traz em seu trabalho os temas direito à cidade, mobilidade urbana e vigilância.

Aya, 28 anos, é nascida e criada em Ceilândia Sul. Foi o universo da chamada "pixação" (na língua portuguesa só existe a palavra pichação, mas os artistas a escrevem com X, para diferenciar seu trabalho) que a levou a encontrar caminhos estéticos, visuais, sociais, políticos e éticos em sua produção. A partir do encontro das linguagens, surge o que chama de "pintura-instalação", nomeada assim por fazer arranjos com objetos de descarte nas obras.

Ela vai exibir fotografias e um videoarte na exposição Poesia Urbana, além de uma instalação. "É uma forma de pensar uma alegoria metafórica do reflexo da economia na cidade e de como isso impacta na vida das pessoas mais vulneráveis financeiramente", explica a artista.

Sobre o Praça Contemporânea, Aya aposta na criação da rede de talentos. "A importância do projeto é fazer circular arte nas periferias, ligar a Risofloras à Pé Vermelho. Também vejo como uma forma de pensar as galerias de arte como espaços de convívio, bem como as praças onde estão localizadas", reflete Aya. "A Praça do Cidadão foi revolucionária na minha vida. Foi o principal ponto de perpetuação do meu trabalho no início da minha trajetória", relembra.

Ceilândia

A segunda ação do projeto ocorre em 12 de abril, na Galeria Risofloras, na Praça do Cidadão, em Ceilândia, às 18h. Na ocasião, será lançada a exposição presencial Entre praças, com algumas das obras de criadores que participam das exposições virtuais. A visitação vai até 20 de maio, de terça-feira a domingo, das 12h às 17h, no espaço cultural. As exposições virtuais ficam disponíveis na plataforma por 75 dias.

O Praça Contemporânea é realizado pela M'ART, Instituto No Setor e Fundação Nacional de Artes (Funarte), do Ministério da Cultura. O apoio é do projeto Lacuna, da Galeria Risofloras e do Pé Vermelho Espaço Contemporâneo. Para acessar as obras e perfis dos participantes, basta baixar o aplicativo da M'ART Plataforma de arte no celular, disponível para Android e iOs, e na versão para computador.

Os eventos são gratuitos.

Baixe a Plataforma M'ART aqui.

 

Grafia

Na língua portuguesa só existe a palavra pichação, mas os artistas a escrevem com X, para diferenciar seu trabalho.

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postado em 03/04/2024 04:21
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