O Domingo de Páscoa é considerado uma das datas mais importantes do calendário cristão, uma vez que comemora-se, nesse dia, a ressurreição de Cristo. Praticantes da religião ou não, muitos enxergam no feriado uma oportunidade de criar tradições, cultivar bons momentos ao lado da família ou praticar uma boa ação que beneficie o próximo. O Correio apresenta histórias de pessoas que celebram a data de formas diferentes.
Há 11 anos, o morador do Guará Iubirae Fernandes, mais conhecido como Bira, 37 anos, decidiu iniciar um projeto para ajudar crianças que residem em regiões periféricas do Distrito Federal. O profissional de educação física e professor de jiu-jitsu enxergou no Dia das Crianças e na Páscoa oportunidades de praticar o altruísmo.
Junto aos alunos da academia onde dava aula, à época, passou a organizar festas com cachorro-quente, brinquedos e chocolates para crianças em situação de vulnerabilidade. Os atletas que frequentavam as aulas de artes marciais abraçaram a ideia e o projeto Isso é jiu-jitsu tornou-se cada vez maior. "A iniciativa surgiu do nada, nós só queríamos ajudar as crianças, então pensamos em uma data, arrecadamos itens e iniciamos", explicou Bira.
- Páscoa 2024: saiba por que data será comemorada em 31 de março
- Sábado de Aleluia: entenda o significado do dia para o Cristianismo
- Descalços e em cadeira de rodas: fiéis pagam promessas no Morro da Capelinha
A publicitária e moradora de Águas Claras, Nathália Rodrigues, 36, é aluna de Bira e contou que a ação da Páscoa ocorre todos os anos, desde então. Para arrecadar os chocolates, os atletas organizam aulões em diferentes academias e cobram como entrada uma caixa de bombom. "Antes, as entregas eram somente dentro do Guará, mas, com o tempo, nos unimos a instituições que apoiam outros lugares e fomos para outras regiões como a Estrutural", explicou Nathália, que participa do projeto há oito anos.
Nos primeiros anos da ação, os chocolates eram distribuídos para cerca de 40 crianças. Atualmente, são mais de 250 caixas de bombons. Para alcançar as crianças e organizar a ação de forma que todas consigam receber o doce, o professor e os atletas entram em contato com instituições que acolhem famílias de regiões periféricas e fazem o balanço da quantidade necessária de chocolates para a ação.
Exemplo
A ação ganha mais força todos os anos. A cada data, novas academias procuram os organizadores e se unem ao projeto para apoiar as distribuições. "A Páscoa para a gente é normal, a gente já sabe o que vai acontecer, o que vai ganhar, mas essas crianças, não. São coisas pequenas para nós, mas com um tamanho muito maior para o outro que não tem condição. Uma caixa de chocolate custa R$ 9 e isso não é muito. É um momento muito legal, eles se divertem demais", completou Nathália.
Para além da Páscoa e do Dia das Crianças, os atletas organizam, ao longo do ano, distribuição de roupas, material escolar e cestas básicas. A ideia é que o projeto atinja cada vez mais pessoas. "Eu fico feliz pelas crianças. Não tenho realizações pessoais a partir disso. Só quero ajudar", ressaltou Bira.
A religião como tradição
Para o advogado Rodrigo Correia, 46, e a esposa, Juliana Correia, 42, vivenciar a Semana Santa e celebrar a Páscoa na igreja, ao lado da família, é uma tradição. Os moradores de Vicente Pires fazem parte da Comunidade Católica Shalom e, durante todos os dias da semana que antecedem a Páscoa, vão à igreja com as crianças pela manhã e só retornam para casa à noite. Este ano, assim como em 2023, viveram os momentos na Catedral de Brasília.
O casal explica que durante a Quaresma rezam todos os dias e frequentam retiros espirituais até chegar, finalmente, à ressurreição, quando se reúnem com a família para um almoço especial. "A dinâmica é essa: chegamos às 9h e vamos embora às 22h. Trazemos travesseiros, tapetinhos, brinquedos, lanches, almoço e é uma verdadeira alegria!", explicou Juliana. O costume de viver a Semana Santa na igreja foi iniciado logo que os dois se casaram.
Enquanto a equipe de reportagem conversava com o casal, os filhos João, 11, Maria Clara, 9, Davi, 8, e Maria Teresa, 10 meses, brincavam, sentados no chão, com os amigos que fizeram na igreja. O menino mais velho fez questão de falar ao Correio que participa dos retiros religiosos todos os anos com os pais. João contou que tem muitos amigos que também celebram a Páscoa ali. "As crianças pedem para vir, eles estão aqui desde pequenos e têm muitos colegas e, se a gente não os trouxer, eles não gostam. A Páscoa para eles é aqui", relatou o pai.
O casal destacou que não é fácil percorrer os quilômetros até a Catedral, pois os filhos são pequenos e têm idades próximas, porém, confessaram que jamais deixariam de levá-los, uma vez que no final vale a pena e as crianças se sentem muito felizes.
Uma fábrica especial de chocolate
A Páscoa Solidária é uma iniciativa da Fundação Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), uma prática que está em sua 6ª edição. A ação consiste em fabricar os ovos de Páscoa e distribuir em casas de acolhimentos no Distrito Federal. Os voluntários (comerciantes e empresários; as associados/as da própria entidade) improvisaram uma "fábrica de chocolate" dentro da sede da entidade de comércio. Mais de 2.500 crianças foram agraciadas com os doces.
A confecção dos ovos ocorreu entre 18 e 22 de março, e a distribuição começou na segunda-feira passada e encerrou ontem. A CDL fez as entregas nas instituições que se habilitaram para fazer a ação acontecer. Entre elas estão a Casa de Ismael, a Abrace, a Associação Viver, a Batuíra, o Lar São José, o Instituto Carinho, a Casa do Caminho, o Nosso Lar, o Lar Chico Xavier e o Instituto Aconchego.
A ação ocorre desde 2019 e, no ano passado, a fábrica de chocolate da fundação produziu 2 mil unidades do doce. Este ano, a meta é superar esta marca. "Nós levamos cerca de uma semana para produzir os 2.500 ovos. A CDL-DF fornece o chocolate, que é de excelente qualidade, e nós, da direção da fundação, mobilizamos amigos e familiares voluntários para nos ajudar a produzir os ovos que fazem a alegria de muitas crianças", conta a presidente da instituição, Andréa Vasquez.
O impacto social da produção artesanal é o sabor da ação. "O trabalho de produção em larga escala, realizado por voluntários, possibilita que façamos a Páscoa de muito mais crianças mais doce e, ao fim de tudo, nós é que saímos de coração quentinho", conclui.