"Está faltando homem para trabalhar?" Foi o que Maristela Vieira da Silva, 45 anos, ouviu quando chegou para o primeiro dia de trabalho como motorista de caminhão, há 15 anos. Apesar de ter sua capacidade questionada, ela nunca baixou a cabeça, e provou sua competência na função. "Sempre gostei de dirigir e quis trabalhar com isso. Tirei carteira tipo D (que permite a condução de veículos destinados a transporte coletivo) e C (para dirigir veículos de carga) com apenas 21 anos e logo consegui emprego numa transportadora", conta.
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Hoje, ela é servidora do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e dirige um caminhão-carreta. A responsabilidade de Maristela é rodar a cidade entregando ferramentas aos garis que trabalham limpando as ruas. "No começo, senti um pouco de preconceito, mas acredito que a minha autoconfiança é o que faz as pessoas acreditarem em mim e no meu trabalho", comenta.
Moradora de Samambaia, Maristela, 45, tem seis filhos, que cria junto com a esposa, Alessandra. Acorda todos os dias às 5h para estar no trabalho às 6h, para onde vai de moto. "Não tem um veículo que eu não dirija: moto, carro, caminhão, ônibus, van. Só não dirijo avião porque não tive oportunidade de fazer o teste ainda", garante. "Sou mais julgada por viver com uma mulher do que por trabalhar como motorista de caminhão, mas amo o que faço, amo minha vida e sou feliz pela forma como conquistei espaço. Hoje, me sinto forte por tudo que já enfrentei e sou bem grata", afirma.
Construindo sonhos
Ajudante de obras em uma construtora do Distrito Federal, Rejane Machado, 40, veio há nove anos de São João do Arraial, no Piauí, tentar a vida na capital do país. A princípio, trabalhou como doméstica em casa de família, mas não gostou da experiência. "Achei humilhante, então resolvi procurar um trabalho diferente, onde eu pudesse ter mais autonomia", declara. Foi quando conseguiu um emprego em uma obra, para trabalhar na construção de uma fachada. "Comecei no balanço (estrutura externa onde o trabalhador fica pendurado para dar forma à fachada de um edifício) e nem tive medo. Gostei da função desde o início", disse. "Desde então, nunca faltou trabalho para mim na construção civil", comemora.
Mãe de quatro filhos e avó de um neto, Rejane comprou a casa própria com a atividade na construção. "Minha filha faz faculdade de técnico em enfermagem, tenho um filho no Exército e outro também trabalhando em construção civil. Tudo que conquistei foi graças ao meu trabalho como ajudante de obras", orgulha-se. Moradora do Jardim Ingá, ela acorda às 3h40 para conseguir dar conta dos afazeres de casa e chegar ao trabalho às 6h30. No momento, ajuda a contruir um prédio no Setor Noroeste. A obra conta com uma equipe de 110 homens e apenas 10 mulheres. "Eu nunca me senti constrangida por ser minoria no ambiente de trabalho. Tenho orgulho do que faço", ressalta.
Força e coragem
Em um período de uma década, Lidiane Paixão, 35, progrediu da função de auxiliar de serviços gerais para a de operadora de máquinas pesadas. Há aproximadamente um ano, ela opera uma pá carregadeira na Unidade de Recolhimento de Entulhos (URE). "Nunca imaginei trabalhar com um maquinário como esse, mas as coisas foram acontecendo e, quando recebi a oportunidade, agarrei e não soltei mais", comenta. Segundo ela, "é um serviço que qualquer mulher pode fazer, basta querer e correr atrás, pois todas são capazes".
A moradora da Estrutural conta que não vai parar por aqui e pretende operar outras máquinas, como a retroescavadeira. "Se você tem um sonho, deve batalhar por ele e não deixar ninguém falar que você não é capaz", descreve. Ela comemora o fato de nunca ter sofrido preconceitos pelo fato de exercer um cargo que geralmente é ocupado por homens. "Além disso, ninguém nunca duvidou da minha capacidade, e é muito melhor do que antes, em que eu passava o dia inteiro no sol e agora só trabalho no ar-condicionado. Sem contar que é um trabalho muito mais leve do que antes. Agradeço muito pela oportunidade que recebi", finaliza.
No comando
Pedagoga de formação e empreendedora por destino, Michelle Faria, 45, desenvolveu paixão por carros há 13 anos, quando abriu, junto com o marido, uma oficina de automóveis em Vicente Pires. Hoje, ela ministra um curso de mecânica só para mulheres. "Sempre quis um modelo de oficina onde as mulheres pudessem se sentir à vontade. A ideia do curso surgiu quando comecei a ver as clientes chegando aqui na loja com problemas no carro, mas sempre quem explicava o que estava acontecendo era um homem: o pai, o marido, o irmão, etc. Fiz uma pesquisa de campo e levantei as principais dúvidas das mulheres em relação a carros", relata. "Para além de entender o carro, a ideia do curso é despertar nas mulheres a vontade de trabalhar na área, temos poucas no mercado", acrescenta. Alunas de Michelle já começam a tomar gosto pela mecânica. "Duas delas gostaram tanto que foram fazer o curso do Senai. Já estão terminando e eu estou querendo contratar uma para trabalhar conosco aqui na oficina", compartilha.
Michelle admite que já sofreu preconceito, mas que isso não a impediu de seguir implementando iniciativas que incentivam o envolvimento de mulheres com carros e mecânica. "Sempre tem clientes que chegam e exigem ser atendidos por homens por acreditar que eles entendem mais. Já recebi mensagens no Instagram da loja dizendo que lugar de mulher não é na oficina, que tenho que ir lavar roupa, mas eu não me deixo intimidar. Sou sempre educada e firme. Estou aqui para mostrar que posso fazer a diferença", salienta.
"Desde criança, eu gostava de passar um tempo com meu pai. Assistia a jogos de futebol com ele, ia à oficina mecânica, entre outras coisas. Eu não me sentia muito à vontade em ambientes masculinos, então resolvi mudar isso e tornar a nossa oficina um ambiente mais agradável e convidativo para mulheres", destaca. "Montei um grupo de mulheres que fazem trilha offroad e estou sempre fazendo campanhas para valorizar a luta delas, como por exemplo, no Outubro Rosa, faço campanhas para incentivar a doação de cabelos e lenços", completa.
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