"Passamos muitos anos sendo taxados como um local violento. Meu trabalho no rap fez com que Ceilândia ganhasse visibilidade na questão periférica, abrindo os olhos de outras pessoas para mostrar que a região vai muito além da questão da violência". É assim que o rapper Marcos Vinicios, 52 anos, o Japão (do Viela 17), define sua ligação com a região.
"Somos mais de 600 mil habitantes e esse tanto de pessoas não pode ser marginalizado dessa forma, são trabalhadores que merecem respeito", reforça. "Foi por meio do meu trabalho e dos conselhos da minha mãe que eu aprendi a valorizar a minha comunidade e as pessoas que fazem parte dela", acrescenta Japão.
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O rapper lembra que Ceilândia demorou seis anos para ter água encanada. "A Caixa D'água, nosso grande símbolo, é sinônimo de resistência. Era de lá que a população ceilandense, no começo, tirava a água para tomar banho ou fazer as refeições da família", recorda. "Este ano completo 35 anos de carreira e, graças a Deus, tenho muito orgulho do trabalho que faço desde que passei a entender que não sou somente um artista, mas um ativista dentro da minha comunidade", pontua.
Cidade em construção
Da sua infância, Japão diz lembrar das idas até um córrego na quadra 26 de Ceilândia Norte, para brincar com as outras crianças. Ercilia Rosa de Jesus, 76, mãe do rapper, destaca a dificuldade para criar a família em Ceilândia. "No início, nem tínhamos onde morar, ficávamos debaixo de uma lona", recorda. "Mas sempre fui e continuo muito feliz. Consegui criar meus seis filhos e mostrar, para todos, o caminho certo a seguir. Tenho muito orgulho do que todos eles se tornaram. O Japão é o meu rei", destaca dona Ercilia.
De lá para cá, Japão avalia que a região é uma grande cidade em construção, pois ainda faltam muitos equipamentos públicos. "Quando ela completar 106 anos, creio que não estarei aqui, mas espero que a região seja propícia para todas as pessoas, tendo respeito em todos os aspectos, como saúde, educação e infraestrutura", comenta o rapper, casado com a advogada Daniela Mara dos Santos.
"Somos o grande berço cultural do DF, sem ter nenhum aparato. As únicas coisas que temos para expressar a nossa cultura, são as esquinas e bares", lamenta. "Por isso, também espero que Ceilândia tenha seus próprios cinemas, teatros e outros locais de cultura", acrescenta.