Neste 22 de março é celebrado o Dia Mundial da Água. A data é sinônimo de alerta global. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o planeta passa por um período de crise hídrica, agravada e acelarada pelas mudanças climáticas. A chamada gestão sustentável da água é um desafio para os governos ao redor globo, que mobilizam esforços para garantir segurança hídrica aos seus cidadãos. No Distrito Federal não é diferente. Com o avanço da escassez, resta a pergunta: Brasília está em risco de uma nova crise hídrica? A reportagem do Correio entrevistou especialistas em busca de respostas e alertas à população da capital.
Atualmente, três reservatórios fazem o abastecimento de água no DF. O reservatório do Descoberto está com 100% do volume útil, ou seja, está completamente cheio. Já a barragem de Santa Maria opera com 56% de volume, de acordo com dados da Agência Reguladora de Energia, Águas e Saneamento Básico do DF (Adasa) atualizados quarta-feira (20/3). Inaugurada em abril de 2023, em um consórcio entre o Buriti e o governo de Goiás, Corumbá IV, aumentou em 30% a capacidade de abastecimento da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb). Mais de 1 mil litros de água são processados por segundo nesse sistema.
Mas depois da severa crise hídrica que acometeu a capital em 2016, quais foram, efetivamente, as ações e mudanças de sustentabilidade dos recursos hídricos do GDF e da população para evitar que aconteça novamente? Para a engenheira ambiental e professora de recursos hídricos da Universidade Católica de Brasília, Beatriz Barcellos, a capital não precisa se preocupar com uma nova crise no momento porque os mananciais estão cheios devido a grande quantidade de chuva dos últimos meses. “Porém, a médio e longo prazo é preciso se prevenir. Não podemos impermeabilizar 100% dos solos das nossas cidades. Se os bairros continuarem a crescer com muito asfalto e concreto, a água não vai ter onde se infiltrar”, explica.
Segundo a engenheira ambiental, a única saída para evitar crise hídrica é pensar sustentável. Um exemplo é construir casas utilizando materiais que permitam a infiltração do solo, como bloquetes e asfaltos sustentáveis. Outra seria garantir a captação de água das chuvas para uso doméstico. “A população precisa pensar no uso racionado da água. E não apenas em casa, mas também nos comércios e nas indústrias. Focar em tecnologias para garantir o uso sem desperdício e sempre reaproveitar a água”, afirma.
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Para a professora da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do corpo docente do Curso de Especialização Reabilitação Ambiental Sustentável, Liza Andrade, enquanto o sistema de drenagem de Brasília não for reestruturado, a capital federal está em risco de passar por uma futura escassez. “Não há soluções baseadas na natureza e nem um desenho urbano sensível a água. É preciso investir não apenas no abastecimento, mas também na regeneração da cidade. Nada justifica Brasília não ter uma rede de drenagem efetiva e continuar levando água suja aos rios”, aponta. A arquiteta explica que a poluição dos rios afeta a qualidade da água e pode levar a uma futura escassez.
“A pergunta deve ser: como se produz a água? As questões do acesso à água também devem ser regulamentadas. Por exemplo, muitas chácaras ao redor do Rio Descoberto usam agrotóxico na plantação, que vai direto para os lençóis freáticos e 60% da população consome essa água”, indaga. Além desse ponto, a professora também aponta que o acesso a água tratada não chega nas áreas informais de moradia. “Fizemos uma pesquisa durante a pandemia de Covid que revelou que no DF há 508 áreas de ocupação, são aproximadamente 150 mil pessoas sem acesso à água”, afirma.
A coordenadora de estudos ambientais do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), Aline da Nóbrega Oliveira, afirma que a possibilidade de uma nova crise não pode ser descartada e por isso são tão importantes as pesquisas e o aporte de informações sobre o tema. O IPEDF junto com a Caesb está desenvolvendo uma pesquisa para criação de diretrizes para gestão das áreas de proteção de manancial, indicando ao GDF práticas de gestão para proteção dos recursos hídricos. “Em relação as áreas de proteção de manancial (APM), o controle do uso e ocupação do solo é primordial para a gestão dos recursos hídricos. As ocupações irregulares representam uma ameaça significativa para a integridade dos recursos hídricos das APM, colocando em risco a qualidade e a quantidade de água disponível para o abastecimento público”, conclui.
Somente neste ano, a Caesb está investindo R$ 300 milhões em segurança hídrica, com obras de interligação e setorização dos sistemas de distribuição e alternativas para a diminuição da perda de água. Para o presidente do órgão, Luis Antônio Reis, Brasília está longe de uma crise hídrica. “Com o aprimoramento das tecnologias dos sistemas, a população do DF pode ficar segura”, afirma. “Mas é preciso alertar para o uso racional e consciente, evitando desperdícios. É importante a colaboração de todos. Se você encontrar um vazamento na rua, avisar logo a Caesb para ser consertado”, completa.
"Dia Mundial da Água"
O Dia Mundial da Água foi criado 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para chamar atenção à importância da água doce e defender a gestão sustentável dos recursos hídricos.
“Água para a paz”: em 2024, o tema global escolhido pela ONU busca chamar atenção ao papel fundamental do acesso a água na estabilidade entre os países e dentro dos territórios nacionais.
Para cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 (ODS 6): água e saneamento para todos até 2030.
*Colaborou Fernanda Cavalcante