Luto na capital

Brasília se despede de Paulo Pestana

Jornalista faz parte das melhores páginas da história do Distrito Federal. Cronista refinado, amigo de todas as horas, vai deixar saudades. Um exemplo para novas gerações

Entre lembranças e abraços, familiares e amigos se despediram do jornalista Paulo Pestana, que faleceu na madrugada de segunda-feira. O velório, ocorrido ontem, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, contou com a presença de políticos, jornalistas e artistas, comovidos e surpresos com a perda repentina. Como é grande o meu amor por você, música de Roberto Carlos, foi uma das canções tocadas em homenagem a Pestana. Em comum, todos reconheceram a excelência do jornalista, dentro e fora das redações. 

Em casa, por exemplo, Pestana sabia bem apreciar os momentos em família e não dispensava essa companhia nos almoços de domingo. "Assistíamos à largada da Fórmula 1, bebíamos uma 'cervejinha' e falávamos do dia. Ele sempre tinha histórias para contar", recordou Pedro Chagas Pestana, filho do jornalista. Emocionado, o caçula garantiu que não tem lembranças ruins do pai, descrito como benevolente e dono dos melhores conselhos. "Me ensinou a tratar os outros com respeito e carinho. Meu pai só não tinha capa, mas era um super-herói", contou. 

Ao Correio, Zelinda Lucca, esposa do jornalista, afirmou: "Ele é o amor da minha vida, o pai dos meus filhos. Para mim, foi um privilégio ter convivido com ele todos esses anos. Só trago comigo boas recordações e lembranças". Norton Pestana, irmão do jornalista, destacou que Paulo era brincalhão, alegre e que lidava com tudo de forma muito positiva. Sobre a notícia da perda, revelou: "Ainda estamos tentando entender e digerir o ocorrido". Morador de Santa Catarina, Norton ficou surpreso com a quantidade de pessoas que foram se despedir do irmão. "Hoje, vendo todo esse carinho, tenho dimensão da importância que ele tinha aqui em Brasília", completou. 

Weligton Moraes, secretário de Comunicação do Distrito Federal, emocionou-se ao lembrar do amigo e colega de trabalho. "Nós tivemos uma trajetória bonita. Estudamos jornalismo juntos, trabalhamos nos mesmo veículos de comunicação, fizemos cinco campanhas políticas lado a lado. Paulinho era um articulador maravilhoso, com um texto brilhante". Comunicação honesta e com credibilidade também eram características do também cronista. "Eu sinto orgulho de ter trabalhado mais de 35 anos com uma pessoa extraordinária como ele. Paulo Pestana vai ser eternamente meu guia na área da comunicação", concluiu. 

O jornalista Cláudio Ferreira recordou que trabalhou em diversas oportunidade como a dupla de Paulo, como no Correio Braziliense. "Eu dizia que éramos O Feijão e o Sonho (título do romance de Origenes Lessa). Ele era o Sonho, uma pessoa altamente criativa, mas sem paciência para a burocracia do cotidiano. Eu era mais organizado e pronto para viabilizar as ideias brilhantes dele. Uma parceria perfeita, que durou muito tempo", comentou. 

Presidente do Correio, Guilherme Machado ressaltou que a morte do jornalista é uma perda inestimável. "Paulo Pestana é um nome que vai estar sempre em nossas cabeças e em nossos corações. Ele tinha uma genialidade e uma sutileza na escrita que eram diferenciadas. Além disso, conhecia a política e as peculiaridades do Distrito Federal como ninguém", descreveu. A colunista do Correio Liana Sabo lembrou que conheceu Paulo assim que ele ingressou no jornal. "Logo assumiu a Editoria de Cultura e fez coisas incríveis, inclusive descobrir os grandes talentos da cidade que ainda estavam escondidos. Um grande colega, Paulinho sempre foi uma pessoa doce e amiga", afirmou.

Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press -
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Luis Nova/Esp.CB -

Inspiração

Abalado, o governador Ibaneis Rocha lembrou da amizade de décadas com Pestana. "Começamos juntos nas campanhas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Tive o prazer de conviver com ele, em 2017 e 2018, na campanha. Na de 2022, ele me auxiliou em todos os debates e em todos os encontros com a preparação", afirmou. "Se tornou uma pessoa de dentro da minha casa, de dentro da minha família. Ele é um exemplo como jornalista, um exemplo para Brasília", completou.

"Ele é reconhecido pela sinceridade, pela amizade, pelo carinho. Eu estou muito triste, foi uma questão que me abalou muito. Eu não esperava de maneira nenhuma. Semana passada eu estive com ele por três vezes no gabinete, ele estava bem, saudável, já tratando dos assuntos da campanha de 2026. A gente conversando sobre pesquisas eleitorais e ele sempre muito animado, incentivado com esse movimento que a gente vem fazendo em Brasília", destacou Ibaneis. "Grande parte do que eu tenho feito ao longo dos meus dois mandatos tem como inspiração o trabalho do Paulo", finalizou.

Bastante consternada, a vice-governadora Celina Leão (PP) declarou que ainda está sem chão com a perda repentina. "O DF está de luto, o GDF está de luto, o jornalismo está de luto. Paulo era uma figura que não fazia questão de aparecer, mas que era lembrado por todos, amado por todos, respeitado por todos", pontuou Celina. 

O secretário de Governo do Distrito Federal, José Humberto Pires, descreveu como essencial o trabalho realizado por Paulinho em vida. "Era um brilhante jornalista, uma pessoa de família, um homem correto, leal. Tinha todos os predicados de um grande ser humano. Trabalhamos juntos no dia a dia e ele sempre tinha uma palavra curta, mas assertiva dando o norte para que nós pudéssemos continuar trabalhando. O legado dele permanece", ressaltou.

Amor à cultura

O cantor Fernando Lopes, primeiro contratado da Rádio Nacional em Brasília e conhecido intérprete de boleros, relatou que estava com Paulo quando o cronista sentiu-se mal na última quinta-feira. "Paulo era meu amigo, eu convivo com a família dele. Foi uma vida intensa lutando pela cultura de Brasília. Era um jornalista dos mais brilhantes. Nas crônicas de sexta (no caderno Divirta-se Mais do Correio), ele falava sobre o cotidiano de Brasília com muita propriedade, muito carinho, muito humor e muita distinção", elogiou.

O jornalista, diretor e dramaturgo Sérgio Maggio acredita que a morte de Paulo Pestana foi uma perda para a cidade, para a cultura e para o país. "Tinha uma visão muito holística sobre cultura, sobre o mundo e sobre a vida. Ele construía isso nas palavras de uma maneira que sensibilizava muito o leitor", declarou.

A atual diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Jacira da Silva, estava emocionada. "Nós trabalhamos juntos, fomos sindicalistas. Ele era calado, tímido e observador. Um profissional muito humano e preocupado com a construção da notícia tendo em vista os direitos humanos e a justiça social", disse. 

Uma edição impressa de ontem do Correio, com textos e imagens em homenagem a Paulinho, foi colocada dentro do caixão antes de ser fechado e levado à cerimônia de cremação. Uma homenagem ao amigo que se transformou numa referência...

 

 

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