Cultura

Clube do Choro celebra o novo Patrimônio Cultural do Brasil

O choro, agora, é Patrimônio Cultural do Brasil. O título foi concedido pelo Iphan. No Clube do Choro, instrumentistas e artistas comemoraram com muita música. A Escola Raphael Rabello é referência nacional

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decidiu, por unanimidade, durante a 103ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, conceder o registro do choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Como parte do cadastro, o gênero musical será inscrito no Livro das Formas de Expressão. A cerimônia ocorreu com a presença do presidente do Iphan, Leandro Grass, que destacou a relevância do reconhecimento do choro como patrimônio.

"O choro tem uma grande capacidade de conexão e de integração social. É um bem cultural que irradia outros direitos, principalmente a cidadania. Agora, com esse reconhecimento, a missão é fazer o choro ser difundido e popularizado, chegando às escolas, aos espaços públicos e a todos os espaços do Brasil", ressaltou.

Para Grass, esse registro não é apenas um título. "Patrimonialização não é um status, não é apenas um prestígio, é um compromisso do Estado brasileiro com essas expressões, com os grupos, comunidades e artistas, detentores do patrimônio", acrescentou.

De acordo com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, "esse é um passo muito importante para a música brasileira, que é referência pela sua diversidade de ritmos. O choro é uma construção do povo brasileiro e o Brasil precisa, cada vez mais, se apropriar do chorinho, que é nosso e lindo desde o seu surgimento. Agora, como Patrimônio Cultural do Brasil, será mais um momento muito especial para todos os que gostam e valorizam a nossa cultura".

Minervino Júnior/CB/D.A Press - Reco do Bandolin: o gênero musical é uma representação do Brasil profundo

Após a votação do conselho, a programação seguiu com apresentações culturais no Clube do Choro de Brasília. O fundador da Escola de Choro Raphael Rabello, Reco do Bandolim, esteve à frente de todo o processo de registro e comemora o marco como essencial para a valorização da música brasileira. "Esse reconhecimento significa uma espécie de testemunho da tradição artística histórica. O choro está na base da música brasileira, ele vem antes do samba, é o espelho da nossa alma profunda. Considero uma vitória muito grande, especialmente para o povo brasileiro."

O pedido de registro foi feito pelo Clube do Choro de Brasília em 2011, e entre muitas exigências para o Iphan avaliar a qualificação do choro como patrimônio imaterial, foi necessário coletar cartas de recomendação pelo Brasil inteiro, que reconheciam, inclusive, o trabalho do Clube do Choro como importante defensor da música popular brasileira.

Em 2015, o Iphan enviou uma carta que legitimou o Clube do Choro de Brasília como tendo substância para ser um proponente do pedido de registro do gênero musical, e, em seguida, os Clubes de Choro do Rio de Janeiro e de Santos também pediram para serem proponentes do processo.

Escola 

Em 1998, Reco do Bandolim fundou a Escola de Choro Raphael Rabello, que é referência nacional para o gênero, e desenvolveu a metodologia de ensino do choro, música de tradição oral passada de mestre para discípulo.

Diretor-geral da instituição e violonista, Henrique Neto acredita que a transmissão desse conhecimento é essencial para a cultura brasileira. "O choro é fundamental para a identidade cultural do país. O nosso trabalho, aqui em Brasília, sempre foi defender a manutenção da tradição e renovação desse gênero, que é reflexo do povo brasileiro".

Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
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Lucila Moraes, 62, é aluna de flauta na Escola Raphael Rabelo desde 2015. "As aulas são muito profissionalizantes. Não é como uma escola tradicional, a gente entra focado para aprender realmente a tocar choro". Lucila acrescenta que  "o choro é o Brasil. Tenho orgulho de terem conseguido o registro. É uma música muito difícil de tocar, não é para qualquer um. E merecia, sim, esse destaque."

Clara Aguiar, 30, estuda pandeiro desde o ano passado. A aluna afirma que frequentar o ambiente e testemunhar a celebração cultural do choro são essenciais para ela. "Todo mundo é muito amigo, é uma galera de todas as idades. Ir para a escola é a parte mais feliz do meu dia. O choro é a descoberta de um novo mundo, de uma nova etapa da minha vida".

*Estagiárias sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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