PREVENÇÃO

Dengue: cuidados, prevenção e controle são papéis do Estado e da população

Em evento promovido pelo Correio, especialistas apontaram metodologias sobre como a população deve escolher seus repelentes, as precauções a serem tomadas para evitar focos do Aedes aegypti e, ainda, o papel da saúde suplementar no trabalho contra a doença

"Prevenção e controle da dengue: como devemos agir?" Esse foi o tema do segundo painel do CB.Debate Dengue — Uma luta de todos, que ocorreu ontem, no auditório do Correio Braziliense. Entre as autoridades que integraram o momento de diálogo, estavam Allan Bruno de Souza Marques, diretor assistencial do grupo H Dia; o infectologista do Hospital Brasília Henrique Valle Lacerda; e Marcelo Maia, médico do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Anchieta.

Com a explosão de casos de dengue, surgem dúvidas sobre o uso de produtos para combater o mosquito Aedes aegypti, como medicamentos e repelentes. O tema foi lançado pelo painelista Henrique Valle Lacerda. Ele explicou que repelentes caseiros, por exemplo, não tem comprovação científica e, por isso, não garante a proteção contra o transmissor da dengue. O especialista acrescentou, ainda, que é necessário que esses produtos tenham aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

"É essencial que os repelentes tenham dois componentes para ter proteção contra o mosquito: o primeiro é a icaridina e o segundo é o DEET — substância necessária na composição do medicamento. O primeiro precisa ter acima de 20% de concentração e o segundo, entre 30% e 50%. É necessário, ainda, olhar as letrinhas miúdas antes de comprar", explicou. "Já os caseiros, não tem eficácia garantida. Agora, com uma epidemia de dengue, os repelentes ficaram bem mais caros, mas isso não garante que eles tenham eficácia", afirmou o infectologista.

Lacerda projetou informações sobre o ciclo do Aedes aegypti. Aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Adriana Bernardes, o especialista explicou que a dengue existe em praticamente todo o mundo e em determinados meses do ano — diferentemente do Brasil. Um dos exemplos utilizados é de que, com mais casos durante o ano, a taxa de mortes consequentemente se torna maior. "Se a gente pode ter dengue o ano inteiro, a gente tem o potencial de ter o hospital cheio o ano inteiro, além de pessoas morrendo mais, por ter tido uma ou duas infecções da doença. Nós vimos o reflexo disso", explica.

"Se compararmos 2023 e 2024, as semanas epidemiológicos revelam um aumento expressivo de casos no país, principalmente no Centro-Oeste. Quando falamos de prevenção, temos que lembrar que ela precisa ser uma mobilização do país inteiro e do resto do mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) cita que a prevenção combinada precisa ter monitoramento e, nele, prever riscos de epidemia. Só assim conseguimos fazer o controle de vetores, preparando a população em caso de surtos, evitando hospitalizações e óbitos.

Saúde suplementar

Para Allan Bruno de Souza Marques, diretor assistencial do grupo H Dia, "mostrar o cenário atual de enfrentamento à dengue na capital do país externalizar para a população que os órgãos públicos de saúde e as entidades de saúde suplementares têm se movimentado para criar estratégias de enfrentamento", anunciou.

Mestre em ciências sociais e professor dos cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário LS, Allan considera relevante a atuação da rede privada de saúde no incentivo à vacinação contra a dengue. "Trabalhar junto ao Ministério da Saúde, contribuindo para a divulgação da campanha de imunização ajuda a tornar a vacina mais acessível. Sabemos que hoje o governo federal não consegue oferecer vacinas para 100% da população, — até porque não há laboratório que consiga fabricar isso a contento —, mas a rede privada também está empenhada em conseguir disponibilizar, dentro de sua capacidade, acesso à esses imunizantes", afirmou.

Além das dificuldades para o abastecimento de insumos da vacinação no Brasil, Marques considera que o aumentar os centros de atendimentos e disseminar informações sobre a prevenção são os principais fatores para garantir o acesso à saúde, no contexto da epidemia de dengue. "Sempre existirá alguma condição ambiental que vai colocar o mosquito Aedes aegypti à disposição. É um desafio imenso trabalhar a conscientização da população para diminuir os focos de reprodução, e repercutir na diminuição dos casos, consequentemente", pontuou o diretor assistencial do Grupo H Dia. "Os pacientes estão mais preocupados, atualmente, porque as manifestações sintomatológicas têm sido atípicas, os pacientes têm ficado com sintomas mais graves", acrescentou.

Dada a evolução dos sorotipos do vírus da dengue e o agravamento dos casos de infecção por dengue, o especialista menciona estudos e inovações tecnológicas que ajudam a mitigar riscos. "Hoje, se pesquisa diversas soluções, como drones que têm um sistema de monitoramento e captação dos mosquitos, inseticidas, estudos microbiológicos com larvas e bactérias que possam combater o mosquito, e o estudo de outros medicamentos antivirais", descreveu.

Pacientes

Marcelo Maia, médico do CTI do Hospital Anchieta, explica que a hidratação venosa, reposição eletrolítica e o controle sintomático têm se mostrado bastante eficazes no tratamento de pacientes dos subgrupos A e B. Por sua vez, nos dos subgrupos C e D são observados casos mais graves. "Alterações de vários componentes sanguíneos e no sistema de coagulação fazem com que esses pacientes tenham eventualmente algum sangramento. Dengue causa redução de plaquetas, o que pode causar hemorragia e as salas de emergência do DF devem estar preparadas para isso", avalia.

A redução de plaquetas no sangue podem causar hemorragias e as salas de emergência da capital devem estar preparadas para o aparecimento desses casos, de acordo com o médico. "Os grupos C e D são compostos pela população mais frágil, como idosos, crianças, imunossuprimidos e demais pessoas mais propensas a ter uma infecção viral. Nós temos pacientes com síndrome hepatorrenal, bastante grave e que pode demandar uma substituição renal", destaca Maia.

Ao passo que os grupos A e B são mais tratáveis em prontos-socorros, com hidratação venosa e controle sintomático, os dos outros dois grupos terão um atendimento inicial na emergência, mas depois precisam ser encaminhados para a UTI — unidade de terapia intensiva.

No combate à epidemia de dengue, Marcelo Maia defende o envolvimento de entidades públicas e privadas. "O combate à epidemia de dengue depende de todos nós, não somente do governo ou dos entes privados. A disseminação dos mosquitos relacionados à água parada deve ser uma obrigação cívica de todos. Nós não temos um quantitativo de vacinas necessário para a imunização da população. A eliminação de focos de mosquito em regiões frágeis é responsabilidade nossa", define.

 


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