A epidemia de dengue no DF traz, além dos inconvenientes dos sintomas desse mal e dos riscos à vida que impõe a muitos infectados, problemas para seus cotidianos profissionais e individuais. O Correio esteve no Hospital de Campanha (HCamp) da Aeronáutica, em Ceilândia, e conversou com algumas pessoas a esse respeito. Várias disseram que seu dia a dia mudou por terem de acompanhar amigos e parentes em consultas às unidades públicas de saúde, diversas vezes. Essas idas e vindas são pela necessidade de realizar exames solicitados pelos médicos e também porque a melhora dos pacientes demora. Como resultado, acabam tendo boa parte do seu tempo comprometido em auxiliar familiares e amizades por não terem a quem mais recorrer.
A aposentada Elister de Mendonça Almeida, 57 anos, acompanhava, no HCamp, a mãe, de 82 e portadora de Alzheimer — doença degenerativa do tecido cerebral que provoca perda de memória e outras deficiências. A idosa havia sido levada para lá em uma ambulância do Samu porque, desde sábado, se encontrava internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia. "Só identificamos que era dengue quando ela chegou à UPA e fez os exames. Por conta do Alzheimer, não está mais conseguindo falar. Então, ficou muito difícil identificar quais eram as queixas dela", lamentou a filha, que confirmou ter toda sua atenção voltada para a paciente.
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O primeiro sinal da doença percebido pela família foi a falta de apetite. "Depois, conseguimos identificar que tinha dor de cabeça e moleza. Por isso a levamos para a UPA, mas ainda sem desconfiar que era dengue", contou. Nesta terça-feira (26/3), pela manhã, o monitoramento das plaquetas (componente sanguíneo fundamental para a coagulação) ainda demonstrava uma baixa quantidade delas. Pela tarde, Elister notou sangramento na urina da mãe e reclamou da demora para realização de novos exames e troca do soro para a hidratação.
A aposentada disse que, por algumas horas, conseguiu, no domingo, um pouco de ajuda com parentes. Um sobrinho foi para o HCamp, o que deu a ela condições de ir a sua casa tomar um banho e trocar de roupa. "Eu ainda não peguei (dengue), graças a Deus. Se não, quem iria cuidar dela e de mim?", questionou. "Não temos previsão nenhuma para sair daqui", disse sem se importar com qualquer outro compromisso pessoal.
Limitações
Ítala Silva, 33, e o marido, Welton Amâncio, 44, têm uma loja de acessórios para carros no Setor de Oficinas de Taguatinga. Esta foi a segunda vez que a empresária acompanhou Welton ao HCamp. Há duas semanas, por volta do terceiro dia em que ele apresentou sintomas, o casal foi a esse hospital. Passados mais de 10 dias, nesta terça-feira, as dores persistiam. "Ele tentou voltar a trabalhar, mas não aguentou e passou mal. Eu precisei obrigá-lo a voltar ao HCamp, hoje (terça-feira), porque ele não queria", relatou Ítala. Quanto aos negócios, ela deixou tudo nas mãos dos funcionários, em quem confia. A sua prioridade é o companheiro.
A preocupação de Ítala não se restringe a Welton. Nesta terça-feira, ela também precisou levar a mãe, outra vítima da picada do mosquito. "Na segunda-feira, ela começou a não querer mais comer, diz que está com a boca amarga, e também está com moleza no corpo. Aproveitei e trouxe os dois", contou a comerciante, que ainda não teve a doença este ano.
O fiscal ambiental Wanderson Reis Garcia, 38, se curou da dengue há poucos dias. Nesta terça-feira, porém, acompanhava a esposa em um atendimento. "Ela está com dor de cabeça, pelo corpo e febre. E começou com esses sintomas na segunda-feira. Também está sentindo coceira e apresenta manchas vermelhas no corpo", contou o marido. Moradores de Ceilândia Norte, os dois disseram que, na rua onde vivem, há muitos infectados. Na casa deles, a única pessoa que não ficou doente foi a bebê Lisa Helena, de 10 meses, filha que os acompanhava pelas unidades de saúde. A menina é mais um daqueles casos em que os familiares não têm a quem pedir ajuda para que seja cuidada enquanto se tratam.
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