Cerca de um quarto das pessoas infectadas com dengue são sintomáticas, de acordo com o Ministério da Saúde. Os sinais da enfermidade podem ser verificados com relativa rapidez pelos médicos — devido aos seus conhecimentos — e pelos doentes, que sofrem intensas dores e mal-estar. Após a picada do Aedes aegypti, o vírus leva até sete dias para se multiplicar no organismo que o contraiu e mais três, em média, para que os incômodos (corpo dolorido, sangramentos, febre etc.) comecem a ser sentidos. O Correio entrevistou vítimas pessoas que relataram a evolução do problema, e também buscou orientações especializadas a respeito.
Jorge Nascimento e sua esposa, Tássya Vogado, ambos com 20 anos, acordaram, num domingo, sentindo dor de cabeça, debilidade, mal-estar e febre. "Os três primeiros dias foram os piores", enfatizou o comerciante. "Eu e a minha esposa estávamos bem no sábado, mas acordamos com a cabeça pesada, e durante a manhã comecei a sentir muita fraqueza", acrescentou.
Ele disse haver passado em menos de uma semana pelos vários estágios da infecção. A fase inicial foi a febril e durou dois dias. "Na segunda-feira, a dor de cabeça foi aumentando, começou a incomodar muito por conta da dor atrás dos olhos. Apareceram também manchinhas vermelhas pelo corpo", lembrou. O comerciante destacou haver notado uma espécie de inchaço nas extremidades do corpo.
"Comecei a sentir que estava meio inchado nos dedos, depois no cantinho do pé — como se fosse um calo — e nos lábios. Um lado (do pé) ficou um pouco inchado, sabe? Fiquei tão incomodado que até andava pela casa para ver se o sangue circulava", disse Nascimento. Ele, morador de Taguatinga Centro, contou que, entre o terceiro e quarto dias, começou a ter vômitos. Por isso, o casal decidiu fazer testes para confirmar se estavam infectados. Curiosamente, o primeiro exame deu negativo. Além disso, a quantidade de plaquetas em ambos não havia variado.
Dois dias após essas checagens, surgiu um sinal em Nascimento que o pôs em alerta: sangramento. "Por isso, viemos para cá", falou ele ao Correio, na entrada da UPA de Vicente de Pires, onde, acompanhado da esposa, se consultou, teve orientação para controlar a situação e fez novo teste. O casal chegou à unidade de atendimento por volta das 9h. Oito horas depois veio a confirmação: positivo para dengue.
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Recuperação
André Bon, infectologista do Hospital Brasília, explicou que o tempo de recuperação pode variar de poucos dias a algumas semanas, dependendo da capacidade de resposta de cada organismo. "A diferença de tratamentos entre casos leves e graves está basicamente no volume de hidratação. Casos graves precisam de grandes volumes (de medicamentos) venosos, enquanto os leves, de volumes menores, via oral", observou.
As infecções por dengue podem ser assintomáticas ou sintomáticas, sendo que aproximadamente 25% dos casos apresentam indicativos clinicamente aparentes, segundo o Guia de Vigilância em Saúde, produzido pelo Ministério da Saúde. De acordo com o infectologista, à medida que o vírus se multiplica no corpo humano, vai formando substâncias que agridem as paredes dos vasos sanguíneos e atingem a medula óssea. Isso compromete a produção de plaquetas, que são fundamentais para a coagulação.
Os sintomas da dengue se caracterizam por três quadros clínicos: o clássico, que é benigno e se assemelha à gripe; o hemorrágico, mais grave e marcado por alterações da coagulação; e o choque associado à dengue, que é uma forma raríssima, caracterizada pela falência múltipla de órgãos, tornando-se potencialmente fatal na ausência de cuidados médicos especializados.
"Vale lembrar que a dengue hemorrágica é apenas um tipo de manifestação da forma grave, visto que a alteração mais comum destes casos é a perda de líquido do corpo, que pode levar a uma pressão muito baixa e, consequentemente, ao óbito", completou Bon.
Cinco perguntas à médica infectologista Ana Carolina D'Ettorres
1. Como o vírus da dengue age no corpo de uma pessoa infectada? Qual é o primeiro sintoma?
Quando o mosquito pica e infecta uma pessoa, o vírus da dengue penetra na corrente sanguínea, multiplicando-se em órgãos como baço, fígado e tecidos linfáticos, durante um período de quatro a sete dias, chamado de incubação. Depois da fase de incubação, o vírus volta à corrente sanguínea. Neste momento, começa o período de viremia, com a disseminação do vírus no organismo do doente e a fase febril da dengue. Estima-se que o período de viremia se estenda até o quinto dia do início dos sintomas.
2. Quais são os primeiros sintomas e quanto tempo dura cada fase da doença?
Na fase febril, ocorre o processo de replicação viral, que infecta as células do corpo e promove a liberação de substâncias chamadas interleucinas (um tipo de proteína), além de outros fatores da resposta imunológica. São essas substâncias que aumentam a permeabilidade capilar (propriedade dos vasos sanguíneos que permite a troca de substâncias entre o sangue e os tecidos). Quando ocorre a queda de viremia, no final da fase febril, a febre para e, a depender da resposta imunológica que o corpo do indivíduo tem, é definido se a infecção evoluirá para a fase crítica ou não. Os sinais de alarme da dengue comumente surgem na transição da fase febril para fase crítica da doença, que geralmente ocorre em torno de 7 a 10 dias após o início dos sintomas – mas podem surgir a qualquer momento. Na fase crítica, tudo que acontece com o corpo é decorrente da resposta imunológica e não mais da atividade do vírus. Nos pacientes que evoluem para fase crítica, existe uma exacerbação da produção de interleucinas, fazendo com que ocorra uma permeabilidade vascular excessiva que pode levar à síndrome do choque.
3. Quais são os principais quadros clínicos de evolução da doença (dengue comum, hemorrágica e choque)?
O termo “dengue hemorrágica” era utilizado em uma classificação antiga. Hoje, classificamos a doença por meio de grupos clínicos, classificados de A a D, de acordo com fatores de risco, sinais clínicos e laboratoriais. A dengue hemorrágica é a manifestação da dengue com eventos hemorrágicos, uma das complicações possíveis, que vai desde sangramentos, volumosos e incontroláveis, nasais e em gengivas, a petéquias espontâneas (pequenos pontos arroxeados pelo corpo). Todo caso de dengue com evento hemorrágico é classificado como dengue com sinais de alarme e precisa de avaliação médica de urgência. As hemorragias acontecem por um conjunto de fatores: alterações na parede vascular (o interior das veias e artérias), plaquetopenia (redução na contagem de plaquetas, o componente celular do sangue que participa da contenção de sangramentos), o consumo do próprio organismo das proteínas que comumente participam da coagulação e a hipovolemia, ou seja, a desidratação do doente. Por isso, é fundamental garantir uma hidratação adequada.
4. Quais são os sinais de alerta?
Os sinais de alarme indicam disfunção de algum órgão vital e, por isso, merecem atenção. Os riscos à vida do paciente estão relacionados à atividade direta do vírus e, também, ao tipo de resposta imunológica do paciente. O tempo é muito variável em cada paciente, mas, em geral, a fase mais crítica dura em média de 24 a 48 horas. Os principais sinais de alarme são: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos, queda excessiva da pressão arterial, sensação de desmaio ou quase desmaio, causando sintomas como tontura, palidez, e suor frio, letargia e/ou irritabilidade, aumento do fígado, sangramento de mucosa, e aumento progressivo de glóbulos vermelhos.
5. Quais os principais tratamentos em cada fase?
As medicações que fazemos uso durante a dengue é o que chamamos de suporte, ou seja, medicamentos que reduzem o sintoma, a fim de garantir que o corpo consiga passar pela infecção, a principal é a hidratação, desta forma em caso de suspeita de dengue é fundamental que o paciente já aumente a ingestão hídrica, mesmo que com líquidos caseiros, além do uso de antitérmicos comuns (como paracetamol e dipirona) e antieméticos. Não é recomendado, em caso de dengue, o uso de ácido acetilsalicílico (as aspirinas) e anti-inflamatórios (medicamentos como ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida, etc.), isso porque essas medicações podem diminuir a função das plaquetas e acarretar ou piorar eventos hemorrágicos, além de sobrecarregar o fígado, outro órgão muito acometido na dengue. Pacientes que fazem uso regular de aspirina ou anticoagulantes devem ser avaliados por um médico que irá considerar risco versus benefício da utilização da medicação durante a dengue. Vale lembrar que o paciente não deve suspender essas medicações sem orientação médica.
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Cinco perguntas à médica infectologista Ana Carolina Del'Ettore
1. Como o vírus da dengue age no corpo de uma pessoa infectada? Qual é o primeiro sintoma?
Quando o mosquito pica e infecta uma pessoa, o vírus da dengue penetra na corrente sanguínea, multiplicando-se em órgãos como baço, fígado e tecidos linfáticos, durante um período de quatro a sete dias, chamado de incubação. Depois da fase de incubação, o vírus volta à corrente sanguínea. Neste momento, começa o período de viremia, com a disseminação do vírus no organismo do doente e a fase febril da dengue. Estima-se que o período de viremia se estenda até o quinto dia do início dos sintomas.
2. Quais são os primeiros sintomas e quanto tempo dura cada fase da doença?
Na fase febril, ocorre o processo de replicação viral, que infecta as células do corpo e promove a liberação de substâncias chamadas interleucinas (um tipo de proteína), além de outros fatores da resposta imunológica. São essas substâncias que aumentam a permeabilidade capilar (propriedade dos vasos sanguíneos que permite a troca de substâncias entre o sangue e os tecidos). Quando ocorre a queda de viremia, no final da fase febril, a febre para e, a depender da resposta imunológica que o corpo do indivíduo tem, é definido se a infecção evoluirá para a fase crítica ou não. Os sinais de alarme da dengue comumente surgem na transição da fase febril para fase crítica da doença, que geralmente ocorre em torno de 7 a 10 dias após o início dos sintomas – mas podem surgir a qualquer momento. Na fase crítica, tudo que acontece com o corpo é decorrente da resposta imunológica e não mais da atividade do vírus. Nos pacientes que evoluem para fase crítica, existe uma exacerbação da produção de interleucinas, fazendo com que ocorra uma permeabilidade vascular excessiva que pode levar à síndrome do choque.
3. Quais são os principais quadros clínicos de evolução da doença (dengue comum, hemorrágica e choque)?
O termo “dengue hemorrágica” era utilizado em uma classificação antiga. Hoje, classificamos a doença por meio de grupos clínicos, classificados de A a D, de acordo com fatores de risco, sinais clínicos e laboratoriais. A dengue hemorrágica é a manifestação da dengue com eventos hemorrágicos, uma das complicações possíveis, que vai desde sangramentos, volumosos e incontroláveis, nasais e em gengivas, a petéquias espontâneas (pequenos pontos arroxeados pelo corpo). Todo caso de dengue com evento hemorrágico é classificado como dengue com sinais de alarme e precisa de avaliação médica de urgência. As hemorragias acontecem por um conjunto de fatores: alterações na parede vascular (o interior das veias e artérias), plaquetopenia (redução na contagem de plaquetas, o componente celular do sangue que participa da contenção de sangramentos), o consumo do próprio organismo das proteínas que comumente participam da coagulação e a hipovolemia, ou seja, a desidratação do doente. Por isso, é fundamental garantir uma hidratação adequada.
4. Quais são os sinais de alerta?
Os sinais de alarme indicam disfunção de algum órgão vital e, por isso, merecem atenção. Os riscos à vida do paciente estão relacionados à atividade direta do vírus e, também, ao tipo de resposta imunológica do paciente. O tempo é muito variável em cada paciente, mas, em geral, a fase mais crítica dura em média de 24 a 48 horas. Os principais sinais de alarme são: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos, queda excessiva da pressão arterial, sensação de desmaio ou quase desmaio, causando sintomas como tontura, palidez, e suor frio, letargia e/ou irritabilidade, aumento do fígado, sangramento de mucosa, e aumento progressivo de glóbulos vermelhos.
5. Quais os principais tratamentos em cada fase?
As medicações que fazemos uso durante a dengue é o que chamamos de suporte, ou seja, medicamentos que reduzem o sintoma, a fim de garantir que o corpo consiga passar pela infecção, a principal é a hidratação, desta forma em caso de suspeita de dengue é fundamental que o paciente já aumente a ingestão hídrica, mesmo que com líquidos caseiros, além do uso de antitérmicos comuns (como paracetamol e dipirona) e antieméticos. Não é recomendado, em caso de dengue, o uso de ácido acetilsalicílico (as aspirinas) e anti-inflamatórios (medicamentos como ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida, etc.), isso porque essas medicações podem diminuir a função das plaquetas e acarretar ou piorar eventos hemorrágicos, além de sobrecarregar o fígado, outro órgão muito acometido na dengue. Pacientes que fazem uso regular de aspirina ou anticoagulantes devem ser avaliados por um médico que irá considerar risco versus benefício da utilização da medicação durante a dengue. Vale lembrar que o paciente não deve suspender essas medicações sem orientação médica.
Quadro A evolução dos quadros de dengue. Conheça as três formas
A infecção:
» O ciclo começa com a picada do Aedes aegypti. O vírus segue para órgãos como baço, fígado e tecidos linfáticos, onde se multiplica, período que dura até sete dias, para, em seguida, se espalhar pela corrente sanguínea.
Sintomas iniciais:
» A pessoa começa a ter febre,
dor no corpo e atrás dos olhos,
irritação da pele, dor muscular
e nas juntas.
» Com a multiplicação do vírus,
vasos sanguíneos e a medula
óssea são atingidos e fica comprometida
a produção de plaquetas, fundamentais
para a coagulação.
» Nos casos graves, há náuseas,
vômitos, perda de apetite, alteração do paladar e da sensibilidade na pele.
Faringite e inflamação
nasal também ocorrem.
Dengue clássica:
» Entre o 3º e 7º dia do início dos sintomas, muitos pacientes se recuperam gradativamente. Outros passam
para a fase crítica.
Fase crítica:
» Ocorre em torno de 7 a 10 dias após o início dos sintomas. Idosos e portadores de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, têm maior risco de desenvolverem formas graves e complicações.
Sinais de alerta:
• dor abdominal intensa e contínua;
• vômitos persistentes;
• acúmulo de líquidos;
• queda excessiva da pressão arterial
• sensação de desmaio ou quase desmaio,
com tontura, palidez e suor frio
• letargia e/ou irritabilidade;
• aumento do fígado;
• sangramento; e
• aumento progressivo de glóbulos vermelhos.
» Dengue hemorrágica
» Doente tem sangramentos nasais e/ou gengivais, intensos e incontroláveis, além de manchas roxas pelo corpo.
» Síndrome de choque da dengue
» Característico de casos graves,
com fortes sangramentos e
disfunção dos órgãos. Acontece em até 5 dias, após os primeiros sintomas.
O paciente pode morrer em até 24h
ou ficar com sequelas nos órgão e vir a desenvolver hepatites, encefalites, miocardites.
Os sinais de choque são:
• pulso rápido e fraco;
• hipotensão arterial;
• extremidades frias;
• enchimento capilar lento;
• pele úmida e pegajosa;
• baixa produção de urina; e
• manifestações neurológicas, como agitação, convulsões e irritabilidade.
Fontes: Guia de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde) e André Bon, infectologista do Hospital Brasília.
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