A dor crônica foi tema nesta quinta-feira (21/3) do CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília. Às jornalistas Sibele Negromonte e Mila Ferreira, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Sociedade de Dor do Distrito Federal, Carlos Gropen, falou sobre os tratamentos e abordou, principalmente, a fibromialgia, um problema que afeta a vida pessoal e profissional de muitas pessoas.
Números mostram que pelo menos 1/3 da população sofre de dor crônica. O que ocasiona isso e quais são as principais dores?
A dor crônica é um problema de saúde mundial. Infelizmente, ela possui muitas lacunas de conhecimento. Não temos certeza de todos os mecanismos envolvidos. Quais são as mais prevalentes e importantes? Temos uma divisão inicial que separa as dores em duas partes: dores difusas, aquelas que afetam o corpo inteiro, e dores localizadas, que ocorrem em regiões específicas do corpo, como quadril, ombro, cabeça e coluna. Essas categorias não são excludentes, então, algumas pessoas têm dores difusas como um pano de fundo e também dores localizadas. Por definição, a dor crônica é aquela que persiste por mais de três meses. Quando você tem esse tipo de dor, não necessariamente precisa ter uma causa específica, pois é um problema nas vias de dor em si, ou seja, a dor começa, sensibiliza essas vias e, após um tempo, torna-se independente.
Poderia falar sobre fibromialgia, que tem como característica ser uma dor crônica e que, recentemente, pessoas que têm essa doença foram consideradas PcDs aqui no DF? Ainda é um mistério para a medicina?
É difícil diagnosticar. A fibromialgia está dentro do grupo de dores crônicas. Ela tem algumas peculiaridades, mas a dor crônica pode, sim, causar incapacidade, dificultando ou impossibilitando atividades profissionais e da vida diária. O grande problema da fibromialgia é ser uma doença invisível. Na maioria dos casos, não há um exame de sangue, marcador ou alguma alteração física que indique que a pessoa está com dor. Isso é muito complicado, pois gera descrédito. A maioria das pessoas que não têm conhecimento pode achar que a outra pessoa não está sentindo dor. Às vezes, para tentar levar uma vida normal, os portadores de dor, principalmente mulheres, que têm mais incidência, se arrumam, se cuidam e, quando chegam ao ambiente de trabalho, têm que ouvir comentários desagradáveis. "Se ela estivesse realmente com dor, não estaria maquiada e com o cabelo arrumado." Chega a um ponto em que as pessoas param de se cuidar, o que só aumenta o estigma.
Ainda é difícil encontrar um tratamento para fibromialgia?
Existem muitos tratamentos. Nos últimos 20 anos, houve bastante evolução nos tratamentos, mas não em relação à cura, pois não existe. Mas temos tratamentos para que as pessoas consigam levar uma vida normal ou quase normal. A alimentação é algo muito importante, assim como as atividades físicas específicas. Imagine a diferença entre comprar uma roupa em uma loja de varejo comum e encomendar uma em uma costureira ou alfaiate. O exercício deve ser assim: você avalia a pessoa para ver quais músculos estão mais afetados e trabalha neles para restaurar a funcionalidade. Depois, continua com um exercício de manutenção. Além disso, há o aspecto psicológico, não como causa, mas muitas pessoas com dor crônica acabam tendo muitos problemas secundários devido ao descrédito e à rotulação como preguiçosas. Algumas até perdem o emprego. É um problema sério e o tratamento deve abranger várias características.
Como podemos distinguir se estamos com uma dor ocasional, fibromialgia ou algo crônico?
Se a dor persistir por mais de uma ou duas semanas e não melhorar com o tempo, é importante procurar atendimento médico. O ortopedista é um profissional qualificado para avaliar esses pacientes, pois possui conhecimento musculoesquelético, mas também existem outros profissionais importantes para serem consultados. O especialista em dor é uma subespecialidade que pode contribuir para o diagnóstico. Independentemente do tipo de dor, se persistir, procure um especialista em dor, pois ele poderá determinar se já estamos diante de um quadro de dor crônica e qual seria o melhor especialista dentro desse grupo para abordar o caso. A medicina física e reabilitação, minha especialidade, fica entre a neurologia e a ortopedia e é uma boa escolha para tratar esses casos musculoesqueléticos, que exigem conhecimento de mais de uma especialidade.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br